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“A catequese deve ser um espaço privilegiado onde a sinodalidade seja ensaiada e vivida de maneira concreta”

Por Micaela Díaz Miranda

Em uma Igreja que está redescobrindo sua vocação sinodal, a catequese é chamada a assumir um papel renovado: não como um instrumento de transmissão unidirecional de doutrinas, mas como um processo dinâmico, participativo e comunitário. É o que propõe Marcial Riveros Tito na sua recente reflexão publicada pela Vida Nueva sob o título: “Sinodalidade na catequese: uma pedagogia eclesial em caminho”.

Numa perspectiva teológico-pastoral, o autor centra-se na necessidade de repensar a catequese à luz da dinâmica sinodal, em consonância com o processo global promovido pelo Sínodo dos Bispos, cuja primeira fase culminou em outubro de 2024.

“A catequese não pode mais ser concebida como um ato unilateral de ensinamento doutrinal, mas como um processo no qual todo o Povo de Deus está envolvido, caminha, discerne e anuncia”, afirma Riveros, citando o Documento Final do Sínodo.

Ouvindo o Povo de Deus

A catequese enfrenta múltiplos desafios na América Latina hoje, como o processo de secularização, a desconexão entre formação e vida eclesial e a percepção de uma rotina institucionalizada. Neste contexto, o discernimento de Riveros apresenta a sinodalidade como uma “pedagogia eclesial em caminho”, capaz de responder a essas necessidades urgentes.

“O Povo nunca é a mera soma dos batizados, mas o sujeito comunitário e histórico da sinodalidade e da missão”, recorda o autor, citando o n.º 17 do documento sinodal.

Nesta perspectiva, o autor sublinha que a catequese não pode ficar à margem da transformação eclesial em curso; em vez disso, deve se tornar um espaço onde a sinodalidade seja praticada a partir de seus fundamentos: escuta, discernimento comunitário, participação e missão.

Superando estruturas rígidas

Riveros identifica claramente as resistências estruturais e culturais que impedem uma catequese totalmente sinodal. Ele menciona, por exemplo, a persistência de modelos verticais onde o catequista é visto como o único portador do conhecimento e os catecúmenos como receptores passivos. “Essa maneira de entender a catequese contradiz o princípio eclesiológico de corresponsabilidade e participação”, alerta.

Outro problema é a fragmentação pastoral que afeta muitas comunidades, onde a catequese está desconectada de outras dimensões como a liturgia, a vida comunitária e a opção pelos pobres. Além disso, nota-se a falta de envolvimento familiar e o limitado reconhecimento dos carismas leigos nos processos de iniciação cristã.

Diante disso, o autor propõe uma conversão pastoral: reconfigurar os processos catequéticos não como atividades isoladas, mas como parte integrante do caminho eclesial.

Rumo a uma catequese sinodal

Para avançar em direção a esse horizonte, Riveros propõe três caminhos proativos. O primeiro caminho: Promover espaços de escuta ativa onde todos —crianças, jovens, adultos, famílias e catequistas— sejam ouvidos em suas buscas e realidades. A escuta, diz o autor, “torna-se um critério pedagógico e espiritual” e uma ferramenta para discernir e adaptar os caminhos educativos aos contextos culturais e sociais.

O segundo caminho: Integrar a “conversa no Espírito” como dinâmica metodológica das reuniões catequéticas. Esta prática, central para o processo sinodal, introduz uma espiritualidade comunitária onde orar, ouvir e discernir juntos se tornam o coração do processo formativo. “A conversa no Espírito tem estado no centro do processo sinodal”, afirma o autor, ecoando o Documento Final do Sínodo.

O terceiro caminho: Promover a formação integral e permanente dos catequistas, não só nos conteúdos doutrinais, mas também nas competências sinodais: saber animar, discernir, dialogar, trabalhar em rede e viver a corresponsabilidade. Além disso, há um apelo à renovação dos organismos participativos para que a catequese seja integrada na vida comunitária.

“Tudo isso nos permitirá passar de uma catequese de ‘consumo religioso’ para uma catequese de comunhão missionária”, afirma Riveros.

Pedagogia do encontro

O autor conclui com um convite a retornar à fonte, recordando que a catequese não é uma técnica educativa, mas um ato de amor de Deus que chama, forma e envia o seu Povo: “A catequese deve ser aquele espaço privilegiado onde a sinodalidade se ensaia e se vive de modo concreto”, sustenta.

A pedagogia sinodal, então, não é apenas mais uma técnica: é um modo de viver o Evangelho em comunidade, ouvindo o Espírito Santo na voz do Povo de Deus, caminhando juntos, celebrando a fé e anunciando-a com alegria. “Seu objetivo não é apenas formar bons cristãos, mas também comunidades vivas que caminhem juntas”, afirma o autor, apelando a uma catequese encarnada na realidade.

Estrada em construção

A reflexão conclui recordando a importância do processo de implementação sinodal. Citando a “Nota de Acompanhamento” do Papa Francisco, que dá status oficial ao documento sinodal sem a necessidade de uma exortação pós-sinodal, Riveros lembra que esse caminho será progressivo e exigirá múltiplas mediações.

“Precisamos de fases como a implementação que estamos vivendo”, observa, enfatizando que estamos diante de uma oportunidade única para redefinir a catequese como um espaço eclesial de encontro, discernimento, participação e esperança.

Você pode estar interessado em: O Sínodo entra em sua fase decisiva: “Dicas” para uma Igreja mais sinodal, missionária e inclusiva

Fonte: Observatório da Sinodadalidade

 

 

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