Por Micaela Díaz Miranda
A fase de implementação do Sínodo sobre Sinodalidade começou oficialmente com a publicação do documento “Pistas para a Fase de Implementação do Sínodo“, um texto de orientação pastoral preparado pela Secretaria Geral do Sínodo. Para aprofundar o conteúdo e o propósito deste instrumento, o Vatican News conversou com a Irmã Nathalie Becquart, XMCJ, Subsecretária do Sínodo dos Bispos, que compartilhou uma visão desta nova etapa na jornada sinodal.
A entrevista, conduzida por Christopher Wells, oferece uma visão de como esta etapa representa um chamado à Igreja universal para traduzir as propostas do Documento Final do Sínodo em ações concretas, adaptadas a cada contexto local. “Cada Igreja local deve discernir como aplicar as suas recomendações nas suas circunstâncias específicas”, afirmou Becquart, lembrando que não se trata de colocar o documento “numa gaveta”, mas de “dar-lhes vida com criatividade, respeitando a diversidade dos contextos”.
Diferentemente das fases anteriores —escuta e celebração— que tiveram duração limitada, a fase de implementação não tem um prazo rígido. “É uma fase aberta, mas foi planejado um período de três anos”, explicou Becquart. Esta jornada se concluirá em outubro de 2028 com uma Assembleia Eclesiástica em Roma, encontro que servirá para partilhar os frutos e avaliar o caminho percorrido.
Durante esse período, são planejadas assembleias diocesanas, nacionais e continentais para permitir que as Igrejas reflitam, compartilhem experiências e avancem como comunidade. O documento oferece, portanto, uma estrutura orientadora para encorajar as comunidades a empreenderem esse processo, sempre com a orientação do Espírito Santo.
Um dos pontos que gera maior preocupação é a compreensão do termo “sinodalidade”. Becquart respondeu com uma definição teológica e pastoral: “A sinodalidade é o Concílio Vaticano II em miniatura”, citando o teólogo Ormond Rush. Ela também disse que é um modo de ser Igreja que prioriza a comunhão, a participação e a missão: “Desde os primeiros séculos, a Igreja trilhou esse caminho. Agora, redescobrimos esse caminho, enfatizando que todos somos batizados e, como Povo de Deus, chamados a realizar a missão juntos”.
Neste sentido, a sinodalidade não se trata de uma estrutura externa, mas sim de uma espiritualidade eclesial que busca refletir a corresponsabilidade batismal e o dinamismo de uma Igreja que escuta, discerne e age em conjunto.
Entre os principais objetivos do novo documento, Becquart destacou o apoio à implementação local e a promoção da troca de dons entre Igrejas, um dos elementos-chave do Documento Final. “Cada Igreja local tem o seu caminho, mas não deve caminhar sozinha”, sublinhou. Portanto, o texto incentiva dioceses, províncias eclesiásticas e conferências episcopais a dialogarem entre si, compartilhando recursos, experiências e lições aprendidas.
A Irmã Becquart explicou que o Sínodo insiste que não pode haver conversão sinodal isoladamente, e que o processo sinodal aprovado pelo Papa Francisco e confirmado pelo Papa Leão XIV inclui “assembleias locais, nacionais e continentais, levando à Assembleia Eclesial em Roma”.
Questionado sobre como os fiéis podem começar a se envolver, Becquart recomendou primeiro ler o Documento Final do Sínodo e usar o novo documento como uma ferramenta para discernimento pastoral. “O principal responsável é o bispo diocesano ou eparquial, mas ninguém pode fazer isso sozinho”, alertou, pedindo a criação ou o fortalecimento de equipes sinodais em cada diocese.
Ela também afirmou que todas as pessoas batizadas devem assumir um papel ativo: “Em suas paróquias, movimentos, comunidades… escolas católicas, universidades, pastorais juvenis, Caritas, comunidades religiosas… toda a diversidade eclesial também deve ser envolvida”.
Um dos conceitos centrais deste novo momento é o de “recepção”. Como Becquart explicou, a recepção implica uma participação ativa do Povo de Deus no acolhimento e na prática do que foi discernido como vontade de Deus. “Sem ela, um documento não é suficiente”, disse ela.
Usando exemplos históricos, ela ilustrou que a recepção pode levar décadas ou até séculos. Foi o caso do Concílio de Trento e de algumas decisões do Vaticano II. “Deus não impõe ensinamentos de fora, mas entra em diálogo conosco”, disse ela, insistindo que o processo sinodal é um espaço de escuta e conversão eclesial.
Sobre a continuidade do caminho com o novo pontificado, Becquart lembrou que “desde o início de seu pontificado, o Papa Leão reafirmou o desejo de ser uma Igreja sinodal”. Ela recordou que quando era bispo no Peru, o agora Papa Leão já vivia esse estilo: organizava sessões de escuta, participava de encontros continentais e colaborava na elaboração do Instrumentum laboris e fazia parte das assembleias sinodais.
“Ele tem um estilo muito semelhante ao do Papa Francisco: escuta, espiritualidade profunda, proximidade com as pessoas”, observou, acrescentando que a continuidade do caminho sinodal é garantida tanto por sua carreira quanto por seu compromisso com uma Igreja aberta, fraterna e participativa.
Becquart destacou que todo o processo sinodal está a serviço da missão evangelizadora da Igreja. “A sinodalidade é, em sua essência, um chamado de Deus para que a Igreja seja mais missionária”, disse ela.
Ela reconheceu que muitas Igrejas locais já haviam iniciado esse processo antes mesmo da publicação do novo documento e deu exemplos como a criação de vigários para a sinodalidade, leigos com responsabilidade pela implementação e sínodos diocesanos em países como a Austrália.
“O essencial é continuar caminhando juntos, com criatividade, responsabilidade compartilhada e a orientação do Espírito. Assim, seremos uma Igreja mais fiel à sua missão no mundo de hoje“, concluiu.
Fonte: Observatório da Sinodalidade
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