Fardos insuportáveis... (Lc 11,42-46) 16/10/2024

Por Antônio Carlos Santini

Fardos insuportáveis... (Lc 11,42-46) 16/10/2024

Curiosamente, muita gente tem a respeito do Evangelho a falsa noção de que ele nos tira a liberdade e onera a nossa existência. Pois nesta passagem, em áspero confronto com fariseus e doutores da lei, Jesus de Nazaré recrimina estes últimos exatamente por sobrecarregarem o povo com “fardos insuportáveis” (cf. v. 46).

É o mesmo Jesus que nos convida a tomar sobre nossos ombros o jugo dele, “pois meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11,30). Certamente, ele se refere à experiência de amar e ser amado, quando qualquer sacrifício se torna leve e todo esforço tem um sentido.

Ah! Quantos fardos têm sido impostos ao cristão em nome de um Evangelho no mínimo duvidoso! O fardo de um cristianismo revolucionário, cujo objetivo seria tomar o poder dos césares deste mundo e entregá-lo ao povo (que, é claro, seria o novo dominador). O fardo de um cristianismo dogmático, onde os hereges deveriam ser odiados e perseguidos. O fardo de um cristianismo atlético, onde cada fiel exercitaria a musculatura das virtudes, contando exclusivamente com seu suor, esforço e boa vontade.

Em todos estes casos, fica na sombra o essencial da vida cristã: a Graça! Todo bem é graça. Tudo nos vem do Pai, “de quem desce todo dom precioso e toda dádiva perfeita” (cf. Tg 1,17). A velha imagem da vida cristã como uma escada que se deve galgar, degrau por degrau, até conquistar as altitudes olímpicas, ignora que o Verbo desceu até nós e assumiu a nossa carne. Doravante, é por uma via descendente que chegaremos a Deus, que veio ocupar o último lugar.

É verdade que também o mundo pagão sobrecarrega seus adoradores com fardos igualmente pesados: a obrigação de ser o primeiro, a imposição de “vencer na vida”, o impulso para passar no vestibular, a necessidade de estar na moda, a compulsão de lucrar, de vender mais, de superar a marca anterior, bater os recordes. Em suma, a proibição de ser eu mesmo...

O pior é quando as Igrejas ditas cristãs assumem os mesmos critérios do mundo pagão, preocupadas com sua imagem, consagradas ao marketing religioso, devotadas a crescer em número de fiéis e derrotar as demais Igrejas.

E Jesus a insistir com doçura: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração...” (Mt 11,29).

Orai sem cessar: “Mostra-nos o Pai, e isto nos basta, Senhor!” (Jo 14,8)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Foto: Fano (reprodução)

 

 

Últimas notícias

Nada impede que as mulheres ocupem posições muito importantes na liderança das Igrejas

Sinodalidade

Ajudem a coletar, explicitar e transmitir ao Dicastério várias propostas, que possamos ouvir em seu contexto, sobre possíveis caminhos para a participação das mulheres na liderança da Igreja...

21   outubro   2024

No Documento Final, procure uma profunda renovação da Igreja em novas situações, não em decisões e titulares

Sinodalidade

Os participantes já têm em mãos o esboço do Documento Final, que foi entregue após uma Missa votiva ao Espírito Santo

21   outubro   2024

Entre vós não deve ser assim... (Mc 10,35-45) 20/10/2024

Evangelho do Dia

Jesus corta bem rente esses sonhos de grandeza: Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior, seja como aquele que serve.

20   outubro   2024

Sinagogas, magistrados e autoridades... (Lc 12,8-12) 19/10/2024

Evangelho do Dia

Em nossos dias, multiplicam-se os mártires cristãos em todos os quadrantes do planeta, em uma escala até então impensada...

19   outubro   2024
Utilizamos cookies para melhor navegação. Ao utilizar este website, você concorda nossa Política de Cookies e pode alterar suas Preferência de Cookies. Consulte nossa Política de Privacidade.
Não aceito