F/ LMModino

 

Francisco, testemunhar que é possível caminhar juntos na diversidade, sem condenar uns aos outros

Por Por Luis Miguel Modino

Após três anos à escuta do Povo de Deus e à escuta do Espírito Santo para compreender melhor como ser uma “Igreja sinodal”, o Papa Francisco se dirigiu aos participantes da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade e à Igreja toda para reconhecer que “ao convocar a Igreja de Deus em Sínodo, eu estava ciente de que precisava de vocês, Bispos e testemunhas do caminho sinodal”.

O bispo de Roma precisa praticar a escuta

Ele disse que também o bispo de Roma, “precisa praticar a escuta, na verdade quer praticar a escuta, para poder responder à Palavra que se repete a ele todos os dias: Confirmai vossos irmãos e irmãs... Pastoreie minhas ovelhas”. Francisco afirmou que sua tarefa, “é salvaguardar e promover - como nos ensina São Basílio - a harmonia que o Espírito continua a difundir na Igreja de Deus, nas relações entre as Igrejas, apesar de todas as lutas, tensões e divisões que marcam seu caminho rumo à plena manifestação do Reino de Deus”.

“Todos, na esperança de que não falte ninguém. Todos, todos! Ninguém de fora, todos”, sublinhou, colocando como palavra-chave a harmonia, que foi o que o Espírito faz a manhã de Pentecostes, “harmonizar todas essas diferenças, todas essas línguas...”, uma dinâmica que ele vê presente no Concílio Vaticano II. Francisco insistiu em que a graça de Deus, “por meio de seu Espírito, sussurra palavras de amor no coração de cada um. É-nos dado amplificar a voz desse sussurro, sem obstruí-la; abrir portas, sem erguer muros”. Nesse ponto, o Papa denunciou “como fazem mal as mulheres e os homens da Igreja quando erguem muros, como fazem mal!”.

A rigidez é um pecado

Insistindo no todos, o Papa disse que “não devemos nos comportar como “distribuidores da Graça” que se apropriam do tesouro amarrando suas mãos ao Deus misericordioso”, lembrando o perdão pedido no início da Assembleia Sinodal “sentindo vergonha, reconhecendo que somos todos misericordiosos”. Ele citou o poema de Madeleine Delbrêl, a mística das periferias, que exortava: “Acima de tudo, não sejam rígidos”, afirmando que “a rigidez é um pecado, é um pecado que às vezes atinge clérigos, homens e mulheres consagrados”. Os versos que ele leu “podem se tornar a música de fundo com a qual daremos as boas-vindas ao Documento Final. E agora, à luz do que emergiu do caminho sinodal, há e haverá decisões a serem tomadas”.

Neste tempo de guerras, ele chamou a “ser testemunhas da paz, aprendendo também a dar forma real à convivência das diferenças”. Isso levou o Papa a dizer que não pretende publicar uma “exortação apostólica, o que aprovamos é suficiente. No Documento já há indicações muito concretas que podem ser um guia para a missão das Igrejas, nos diferentes continentes, nos diferentes contextos: por isso estou colocando-o à disposição de todos agora, por isso disse que deveria ser publicado. Quero, dessa forma, reconhecer o valor do caminho sinodal concluído, que, por meio deste Documento, entrego ao santo povo fiel de Deus”.

Ouvir, reunir, discernir, decidir e avaliar

Ele chamou os aos dez “Grupos de Estudo”, a trabalhar com liberdade, “para me oferecer propostas, há necessidade de tempo, a fim de chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja”, mostrando seu desejo de “ouvir os Bispos e as Igrejas a eles confiadas”. Algo que segundo ele, “não é a maneira clássica de adiar infinitamente as decisões. É o que corresponde ao estilo sinodal com o qual o ministério petrino também deve ser exercido: ouvir, reunir, discernir, decidir e avaliar. E, nessas etapas, são necessárias pausas, silêncios e orações. É um estilo que estamos aprendendo juntos, um pouco de cada vez. O Espírito Santo nos chama e nos apoia nesse aprendizado, que devemos entender como um processo de conversão”, confiando na ajuda da Secretaria Geral do Sínodo e todos os Dicastérios da Cúria.

“O Documento é um presente para todo o povo fiel de Deus, na variedade de suas expressões. É óbvio que nem todos o lerão: serão sobretudo os senhores, juntamente com muitos outros, que tornarão acessível o que ele contém nas Igrejas locais. O texto, sem o testemunho da experiência, perderia muito de seu valor”, disse Francisco.

Escuta, diálogo e reconciliação para alcançar a paz

Ele chamou a “testemunhar que é possível caminhar juntos na diversidade, sem condenar uns aos outros”. Junto com isso, o Papa, lembrando que “viemos de todas as partes do mundo, marcadas pela violência, pobreza e indiferença”, ele fez ver que “juntos, com a esperança que não decepciona, unidos no amor de Deus espalhado em nossos corações, podemos não apenas sonhar com a paz, mas nos comprometer com todas as nossas forças para que, talvez sem falar tanto em sinodalidade, a paz seja alcançada por meio de processos de escuta, diálogo e reconciliação. A igreja sinodal para a missão agora precisa que as palavras compartilhadas sejam acompanhadas de ações. E este é o caminho”.

“Tudo isso é um dom do Espírito Santo: é Ele quem cria a harmonia, é Ele quem é a harmonia”, ressaltou, fazendo um convite a ler o tratado de São Basílio sobre o Espírito Santo, onde aparece como harmonia. Daí, o Papa pediu “que a harmonia continue mesmo quando sairmos desta sala, e que o Sopro do Ressuscitado nos ajude a compartilhar os dons que recebemos”. Antes de agradecer, o Papa lembrou as palavras de Madeleine Delbrêl: “há lugares onde o Espírito sopra, mas há um Espírito que sopra em todos os lugares”.

 

 

Últimas notícias

“Semeaduras”: Práticas de Ecologia Integral

Sociedade

A ecologia integral e o chamado ao cuidado da Casa Comum pode ser considerado um dos grandes legados de Papa Francisco, um caminho que continua sendo trilhado pelo Papa Leão XIV. Na arquidiocese de Manaus, no coração da maior e mais importante floresta do mundo, a Amazônia, a Assembleia Sinodal Arquidiocesana, no ano 2022, assumiu essa missão como um dos grandes desafios, que está se concretizando de modo transversal em todas as dimensões da missão.

17   setembro   2025

52ª Assembleia Regional Norte 1, um claro exemplo de Igreja sinodal

Especial

Mais de 70 representantes das nove igrejas locais que fazem parte do regional Norte 1 se encontram na Maromba, o Centro de Treinamento de Lideranças da arquidiocese de Manaus, até quinta-feira, 18 de setembro, para refletir sobre a sinodalidade, um modo de ser Igreja que por décadas acompanha a vida da Igreja no regional.

17   setembro   2025

Gaza em Chamas: A Face Jurídica do Genocídio Palestino

Mundo

Enquanto líderes mundiais hesitam em nomear o horror, especialistas e juristas denunciam: o genocídio palestino não é mais uma hipótese — é uma realidade em curso. A reportagem revela os bastidores jurídicos, políticos e humanitários de um dos crimes mais graves do século, com implicações diretas para o Tribunal Penal Internacional e a consciência global.

17   setembro   2025

Alugando o Inimigo: Como o Google Comprou Silêncio e Influência na Imprensa

Atualidade

Sob o pretexto de apoiar o jornalismo, o Google investiu milhões em contratos sigilosos com veículos de imprensa ao redor do mundo. A investigação revela como esses acordos criaram dependência financeira, minaram a transparência e podem estar blindando a empresa contra futuras regulações — inclusive no uso de conteúdo jornalístico para treinar inteligência artificial.

17   setembro   2025
Utilizamos cookies para melhor navegação. Ao utilizar este website, você concorda nossa Política de Cookies e pode alterar suas Preferência de Cookies. Consulte nossa Política de Privacidade.
Não aceito