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04/04/2020 Dom Edson Oriolo Edição 3922 “FOMO” OU “JOMO”? Eis a questão!
F/ Pixabay
"Frente às síndromes do Fomo e Jomo devemos manter o equilíbrio. A pessoa não pode ser totalmente Fomo e nem totalmente Jomo."

 

Na era virtual, nosso cotidiano  caracteriza-se muito mais pelo estar on-line do que pelo estar off-line. Estar off-line, aos olhos da sociedade da informação e do consumo, é uma nova expressão de “analfabetismo” contemporâneo: uma espécie de fracasso. A realidade está permeada por informações e comunicações instantâneas. Não há barreiras para este “instantâneo” e quebrar a “rede” é quase ferir uma convenção vital e colocar-se à margem.

 

Novo modo de viver

A vida on-line tem causado grande impacto em conceitos e métodos. Mesmo ciências como a psicologia, a antropologia e a sociologia são constrangidas a repensar convicções. O novo modus vivendi influi decisivamente no desenvolvimento econômico, técnico, e cientifico de nosso tempo, forjando uma era de desenvolvimento imprevisível. As próprias relações de tempo e espaço ganham novas conotações.

A fé não prescinde dessa tensão entre on-line e off-line, ao contrário. Enquanto fenômeno humano, o “crer” é atingido frontalmente e os resultados desafiam os sistemas religiosos a responder aos anseios de uma humanidade que, ao passo em que se desenvolve grandiosamente, sente-se carente de sentido, nas suas indagações mais profundas.

A maioria de nós, estamos 24 horas on-line. Na rua, pais acessam seus celulares, enquanto os filhos, andando ao lado, fazem o mesmo. Nos restaurantes, as pessoas colocam os celulares sobre a mesa, antes mesmo de se sentarem. Nos pontos de ônibus, todos estão conectados; todos com seus aparelhos, escutando, conversando, buscando informações, relacionando-se. Inúmeros fiéis vão para celebrações, em suas comunidades eclesiais missionárias, conectados ao mundo digital.

De acordo com pesquisas, o Brasil é o segundo país do ranking mundial onde as pessoas ficam mais tempo conectadas. Os brasileiros, ficamos em média 9 horas e 29 minutos por dia nas redes sociais, perdendo apenas para as filipinas, cujos cidadãos ficam em torno de 10 horas. Os franceses permanecem em média 4 horas e 38 minutos e os japoneses 3 horas e 45 minutos.

 

 Síndromes digitais

Essa realidade é a causadora de duas síndromes surgidas no contexto “digital”: o Fomo e o Jomo. São siglas que determinam realidades voltadas ao mundo digital. A palavra Fomo é resultado da expressão “Fear of Missing Out” (medo de ficar de fora) e a Jomo é “Joy of Missing Out” (alegria de estar de fora).

A expressão Fomo é compreendida como o medo de ficar fora do mundo digital. Medo de perder algo. Uma necessidade enorme de estar conectado: estou colocando fotos, imagens no Instragam, no Facebook; estou mandando mensagens pelo WhatsApp; não consigo ficar sem internet, sem wi-fi; fico ansioso quando não tem sinal internet.

No universo Fomo, quando esqueço o celular fico totalmente inseguro, com sensação estranha. O aparelho celular é praticamente uma extensão do meu corpo. Não sei ficar sem acessar as redes sociais. Tenho medo de ficar fora dos acontecimentos. Tenho que estar por dentro de tudo. Tenho que saber de tudo o que está acontecendo nas redes sociais. A ansiedade ganha traços inimagináveis.

Já o Jomo caracteriza a alegria de estar de fora do universo digital, quase como uma “bandeira”. Essas pessoas são verdadeiras entusiastas da vida off-line. Não se preocupam com redes sociais, por não verem nisso qualquer sentido. Nas pequenas coisas, deixam o relógio decidir. Ficam satisfeitas em ignorar as coisas que estão acontecendo. Não se preocupam em ficar on-line. Entendem que o digital cerceia a liberdade e consome um tempo precioso. Priorizam o tempo para ficar com os amigos e família.

O perfil Jomo não fica preocupado com os toques e sinais de celulares. O receber mensagens não é uma prioridade. Colocam intervalos de tempo para usar os aplicativos, os celulares e as redes sociais, quando os tem. Quando vão dormir, deixam o celular longe ou o desligam. Nas reuniões, palestras não levam os celulares ou desligam. Não compram pacotes de dados para viagens.

Percebemos, mesmo numa reflexão superficial, que ambas as posturas comportam aspectos preocupantes. Na primeira, uma espécie de dependência e, na segunda, um processo de isolamento intolerante. Frente às síndromes do Fomo e Jomo devemos manter o equilíbrio. A pessoa não pode ser totalmente Fomo e nem totalmente Jomo. É necessário encontrar o meio termo para adequar o real ao virtual.

Também na pastoral corremos o risco de desenvolver tais síndromes. Ouço, com certa regularidade, pessoas que atribuem à nova linguagem digital a maioria dos malefícios do nosso tempo, abominando sua inferência no cotidiano eclesial. Outros, sobretudo no contexto da “sociedade do espetáculo”, dão às plataformas uma relevância e, especialmente, um direcionamento à mensagem revelada.

A Igreja é convidada a anunciar o Evangelho, com discernimento e ousadia, cumprindo sua missão, nos “areópagos” de nosso tempo. Uma Igreja “em saída” será necessariamente uma comunidade eclesial missionária que dialoga com as expressões características de nosso tempo. O universo digital já não é um conjunto de instrumentos, mas uma verdadeira linguagem, imprescindível na evangelização do homem contemporâneo.

 

Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG 

 : https://www.renataspallicci.com.br/realizacao/fomo-jomo/

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