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31/05/2023 Ir. Dione Afonso, SDN Edição 3959 “Rumo à Presença Plena”: Dicastério para a Comunicação do Vaticano lança documento sobre a participação dos fieis nas Redes Sociais Comentário parte do método VER-JULGAR-AGIR-CELEBRAR revelando as provocações do documento
F Reprodução PASCOM
"O texto lembra que no evangelho, não foram as “pessoas de igreja” que ajudaram o ferido. “Nas encruzilhadas digitais, assim como nos encontros diretos, não é suficiente ser ‘cristão’. Nas redes sociais é possível encontrar perfis ou contas que proclamam um conteúdo religioso, mas não participam da vida de comunidade. Interações hostis, palavras violentas e ofensivas gritam da tela e representam uma contradição do próprio evangelho”. Não basta, simplesmente, estar conectados. “Conectados” também estavam o sacerdote e o levita, mas, estes não permitiram “que suas conexões evoluíssem e estabelecessem verdadeiros encontros” "

Dividido em quatro momentos, o documento recebe a luz bíblica da história em que Jesus é interrogado por um especialista em leis a respeito de “quem é meu próximo”. Conhecido como a Parábola do Samaritano, o documento “Rumo à Presença Plena” reflete sobre a ação pastoral que nós podemos (ou estamos) empreendendo nas Redes Sociais. O texto nos instiga a “viver no mundo digital com ‘amor ao próximo’” verdadeiramente “presentes e atentos uns aos outros” aventurando-se nesta viagem percorrendo estas “rodovias digitais”.

Os quatro pontos centrais do documento assemelham-se muito ao método VER – JULGAR – AGIR, uma pedagogia da evangelização que surgiu na década de 1920. O primeiro ponto nos convida a ficar atentos às ciladas que podem nos acometer nas “rodovias digitais”, assim como aquela que o ferido do evangelho caiu: “um homem ia descendo de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e o espancaram. Depois foram embora e o deixaram quase morto” (Lc 10, 30). Este ponto nos convida a ver o que essas rodovias digitais nos ofertam e como estamos presentes nelas. O segundo ponto chama a nossa atenção a ouvir/julgar “com o ouvido do coração” provocando em nós uma experiência de “verdadeiro encontro. Somos convidados a aprender com aquele que teve compaixão: “Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e teve compaixão” (Lc 10, 33).

Já o terceiro ponto é o ponto do agir: precisamos avançar do encontro para a comunidade. Criar “proximidade digital” nestes caminhos: e, “cuidar dele” (Lc 10, 35), cuidar daqueles feridos que encontramos pelas rodovias, por este “outro” caminho que também pode-nos levar a Jericó. O quarto ponto, pode ser visto na ótica do CELEBRAR, se preferir, e trata-se do ensinamento que tudo isso oferta a nós. Somos convidados a propor, com criatividade, estratégias de evangelização que nos convide a amar aquele que está ferido; amar aquele que curou o ferido e, também, a amar quem passou por outro lado e ignorou o ferido: “vá e faça a mesma coisa” (Lc 10, 37).

 

Principal discussão: “não é ‘se’; mas o ‘como’”

“Como devemos participar do mundo digital?”. “A mídia não deveria apenas fomentar conexões entre as pessoas, mas também encorajá-las a comprometer-se com relacionamentos que promovam ‘uma cultura de respeito, de diálogo e de amizade’ (03)”. Para guiar-nos nesses pontos que o texto apresenta, o parágrafo 05 questiona-nos: “que tipo de humanidade se reflete na nossa presença nos ambientes digitais? Em que medida nossos relacionamentos digitais são fruto de uma comunicação profunda e autêntica, e em que medida são meramente modelados por opiniões inquestionáveis e reações apaixonadas? Até que ponto nossa fé encontra expressões digitais vivas e revigorantes? E quem é meu próximo nas Redes Sociais?”.

 

 

1. VER A REALIDADE: “atenção às ciladas nas rodovias digitais”

Estamos vivendo uma era de forte evolução desse vasto e complexo processo de digitalização. O texto recobra o que vivemos e experimentamos durante a pandemia de covid-19 e ressalta o assustador processo que tivemos em ter que “transferir” para o digital 100% de nossas tarefas. Hoje, vivemos esse “processo de transferência de muitas tarefas e dimensões da vida humana para plataformas digitais” (07). As nuvens representam (e substituem) os inúmeros arquivos esparramados em salas e almoxarifados. “Testemunhamos o desenvolvimento de máquinas que trabalham e tomam decisões por nós” (08); contudo, estamos, ainda, e, infelizmente, diante de uma “desigualdade digital” que deixa muitos feridos pelas rodovias. “A desigualdade nas redes sociais torna-se cada vez mais aguda. As plataformas que prometem criar comunidade e aproximar o mundo, ao contrário, tornaram mais profundas várias formas de divisão” (12).

O perigo das “bolhas sociais”, do isolamento e dos “grupos que separam, dividem e excluem” nessa cultura digital também dificulta a cultura do encontro. “Acentua-se uma sociedade em que as informações desempenham um papel tão essencial, que, é cada vez mais difícil averiguar as fontes e a exatidão das informações que circulam no mundo digital” (14). As “bolhas de filtro” faz com que “as plataformas das redes sociais possam correr o risco de impedir que seus usuários se encontrem com o outro, que é diferente” (15). Facilmente, todo nós podemos “encorajar comportamentos extremos”. Liderar “discursos agressivos e negativos que se propagam com facilidade e rapidez, oferecendo um campo fértil para a violência, o abuso e a desinformação” (16).

Ao longo das rodovias digitais, muitas pessoas são feridas pela divisão e pelo ódio. Não podemos ignorar isto. Não podemos ser como os outros que passam, silenciosos. A fim de humanizar os ambientes digitais, não devemos esquecer quem é deixado pra trás” (18). Se assim fizermos, construiremos um caminho marcado pela “indiferença”; “polarização e extremismo”; “cultura do descarte”; “globalização que normaliza a indiferença” (19).

Como podemos cocriar experiências online mais saudáveis, em que as pessoas possam participar em conversas e superar divergências com um espírito de escuta recíproca? Como podemos fortalecer as comunidades, a fim de que encontrem maneiras de superar as divisões e promover o diálogo e o respeito nas plataformas das redes sociais? Como podemos restituir o ambiente online àquilo que ele pode e deveria ser: um lugar de partilha, de colaboração e de pertença, baseado na confiança mútua?

 

2. JULGAR/OUVIR, “com o ouvido do coração”

A boa comunicação começa pela escuta e a consciência de que outra pessoa está diante de mim” (25). É a escuta capaz de construir verdadeiros encontros que superam o obstáculo da indiferença. “O samaritano não viu aquele homem espancado como ‘outro’, mas simplesmente como alguém que precisava de ajuda” (26). Vejam que o encontro do evangelho é entre duas pessoas completamente estranhas uma à outra! A “Compaixão significa sentir que a outra pessoa faz parte de mim mesmo” (27). “E tudo começa com a capacidade de ouvir bem, de permitir que a realidade do outro nos comova” (29).

É preciso estarmos atentos àquilo que desvia “a atenção de nosso coração”. O “excesso de informações” e o “excesso de interação social” transforma-nos em meras “mercadorias do mercado tecnológico”. Oferecemos dados e alimentamos os “gigantes da tecnologia” enriquecendo-os à custa de nosso tempo. Portanto, “o ímpeto de procurar o silêncio na cultura digital eleva a importância de se concentrar e escutar” (35) e, assim, saímos desse “vício tecnológico de estar sempre conectados”. “O silêncio pode ser comparado a uma desintoxicação digital, que não é simplesmente abstinência, mas uma maneira de se comprometer mais profundamente com Deus e com os outros” (35).

Outro ponto é o discernimento: “a nossa presença nas plataformas das redes sociais requer discernimento” (41). Nisso, refletimos sobre o conceito de proximidade. “Reconhecer o nosso próximo digital” (43), estar presente nas histórias deles, especialmente de quem está ferido. “Um exame de consciência apropriado a respeito da nossa presença nas redes sociais deveria incluir três relações vitais: com Deus, com o próximo e com o meio ambiente” (44).

 

 

3. AGIR: “cuida dele”; abranger outros processos de cura

 

 Do encontro, é preciso chegar à comunidade. “Não existe comunicação sem a verdade de um encontro. Comunicar-se consiste em estabelecer relacionamentos” 45). “A rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas” (47) desde que enxergamos, do outro lado da tela, pessoas com histórias, sonhos, sofrimentos... “com um nome e rosto”.

Entra aqui a dimensão do testemunho. O texto lembra que no evangelho, não foram as “pessoas de igreja” que ajudaram o ferido. “Nas encruzilhadas digitais, assim como nos encontros diretos, não é suficiente ser ‘cristão’. Nas redes sociais é possível encontrar perfis ou contas que proclamam um conteúdo religioso, mas não participam da vida de comunidade. Interações hostis, palavras violentas e ofensivas gritam da tela e representam uma contradição do próprio evangelho” (50).

Não basta, simplesmente, estar conectados. “Conectados” também estavam o sacerdote e o levita, mas, estes não permitiram “que suas conexões evoluíssem e estabelecessem verdadeiros encontros” (52).

Então, o que significa curar as feridas nas redes sociais? Como podemos “atar” uma divisão? Como podemos construir ambientes eclesiais capazes de aceitar e integrar as “periferias geográficas e existenciais” das culturas de hoje? “Assim como o doutor da lei, também nós, na nossa presença na mídia digital, somos convidados a ‘ir e fazer o mesmo’, promovendo assim o bem comum. Como podemos ajudar a curar um ambiente digital tóxico? Como podemos promover a hospitalidade e as oportunidades de cura e de reconciliação?” (56).

 

4. CELEBRAR: “vá e faça a mesma coisa”

“O verdadeiro comunicador dá o máximo, dá tudo de si. Comunicamo-nos com nossa alma e com nosso corpo, com nossa mente, com nosso coração, com nossas mãos, com tudo” (64).

Como se pode refletir o “estilo de Deus nas Redes Sociais? Ir (evoluir), ou avançar, da busca por seguidores, por likes, das interações digitais, para verdadeiros encontros na vida de comunidade. Um deve ser extensão do outro. É preciso “comunicar a bondade, precisamos de conteúdo de qualidade, uma mensagem destinada a ajudar, não a prejudicar. Comunicar a beleza, estar certos de que comunicamos uma mensagem em sua totalidade, o que exige a arte da contemplação. Comunicar a verdade, certificarmo-nos de que veiculamos informações verdadeiras; não apenas na criação de conteúdos para serem compartilhados. Estar certos de que somos uma fonte confiável” (66).

“Há necessidade urgente de agir não apenas como indivíduos, mas como comunidades”. “Pôr de lado nossa própria agenda e a conformação das nossas próprias habilidades e competências, para descobrir que cada um de nós faz parte de um grupo é uma dádiva que nos habilita a colaborar como ‘membros uns dos outros’” (67).

Criar boas histórias: “as histórias edificam a comunidade”. “A cultura digital está repleta de informações e as suas plataformas são, na maior parte dos casos, ambientes caóticos. As histórias oferecem uma estrutura, uma maneira de dar sentido à experiência digital” (69).

Por fim, não estamos em busca de “tornamo-nos virais”. Independente do número de seguidores, cada cristão é um “influencer” (74) e, portanto, é preciso estar atento para não cair em “armadilhas digitais escondidas capazes de despertar o conflito, o linchamento, discursos de ódio” (75). chamando a atenção para si, angariando seguidores, mas perdendo a comunidade e o senso cristão. Aprendamos de Maria “a mulher mais influencer da história que apresentou uma resposta de alguém que, pela graça da humildade, não se pôs em primeiro plano” (80).

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