Roteiros Pastorais Homilética
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08/08/2020 Dom Emanuel Messias de Oliveira Edição 3926 18º DOMINGO COMUM 02/08/20
F/ Pixabay
"Toda a multidão comeu e ficou saciada e ainda recolheram sobras"

 

18º DOMINGO COMUM  02/08/20

 

1ª   LEITURA - Is 55,1-3

 

Estamos no capítulo final do Deutero-Isaías, o profeta da consolação e da esperança. O livro do profeta Isaías é dividido em três partes, cada uma escrita por um profeta em épocas diferentes. Deutero = segundo. O 2° Isaías vai do capítulo 40 a 45. É da época do Exílio Babilônico, onde o povo de Deus estava passando toda uma sorte de necessidades e totalmente dependente de uma nação estrangeira, idolátrica e exploradora.  Parece que este profeta anônimo, fazendo sua a voz de Deus, inicia uma pregação ambulante convidando o povo a sair da dependência econômica, financeira e política. Seu grito é de libertação e esperança. Todos devem vir a ele comer, beber, fartar-se gratuitamente. É a proposta de um banquete de vida que não perece e que, além disso, não depende do suor do rosto e do sangue das mãos dos trabalhadores explorados e oprimidos.

A proposta do profeta é de um retorno à Pátria, onde corre leite e mel. Eles foram parar no exílio por desobediência à Palavra de Deus. Seu retorno agora vai também depender da escrita da Palavra, da conversão do coração, da atenção à voz de Deus e a seus feitos no passado. A repetição do verbo "vir" (4 vezes) acentua esta conversão, este retorno, como também os verbos "escutar", "ouvir". O libertador do povo da escravidão do Egito toma de novo a iniciativa de libertar o povo do exílio e refazer com ele a Aliança feita com Davi para reviver aquele tempo feliz, de favores abundantes, onde nada faltava para o povo.

 

2ª   LEITURA - Rm 8,35.37-39

 

Deus em Jesus Cristo nos ama de tal modo que nada nos poderá separar deste amor de Cristo por nós. Paulo canta, como num hino de ação de graças e louvor com voz firme, e com convicção profunda, o fruto de suas experiências que, em outras cartas, ele nos conta (cf. por exemplo 2Cor 11,23-28). Ele, na verdade, superou todos os obstáculos ao amor de Deus nele. A frase inicial parece um grito de vitória: "Quem nos separará do amor de Cristo?" Ele fala "quem", mas responde não apenas pelo "quem", mas também por "o que", pois ninguém, nem nada, ou seja, nenhuma força material, humana ou sobre-humana poderá separar o amor de Cristo por ele.

O amor de Cristo por nós já foi provado em definitivo, já foi selado na cruz. Uma fé do porte da de Paulo traz para nós absoluta serenidade na caminhada. Está claro no texto que "amor de Cristo" é o amor que Deus manifestou em Cristo Jesus por nós. Este amor, que é de Deus, é indestrutível. Mas poderíamos perguntar: e o nosso amor por Cristo manifestado por nós nos nossos irmãos? É firme, é seguro, é indestrutível? Pela vida de Paulo sabemos que o amor de Cristo por ele foi o mesmo amor com que ele amou os irmãos até o fim, e as forças do mal não prevaleceram, nem impediram esse amor. Fazendo um balanço da nossa vida hoje, que resposta poderemos dar?

 

Esclarecimentos

 

  Anjos e soberanias são categorias superiores. Aparecem ainda "Principado, Autoridade, Poder, Soberania" em Ef 1,21 (cf. Cl 1,16; 2,10, etc.). A Bíblia de Jerusalém explica: são nomes de poderes cósmicos; Paulo não discute sua existência, mas os coloca juntamente com os anjos como inferiores a Cristo e vão tomando sentido preparativo (cf. 1Cr 15,24).

*  Forças, altura e profundidade são também forças misteriosas do cosmo mais ou menos hostis ao homem, segundo a concepção dos antigos.

 

EVANGELHO Mt - 14,13-21

 

O início do capítulo 14 marca a festa do aniversário do tetrarca Herodes, onde a cabeça de João Batista, esperança do povo simples, é servida num prato à esposa de Herodes (cf. 14,3-12). Os grandes da cidade celebram um banquete de morte e se "alimentam" com a vida, ou o sangue dos pequenos. Por isso, Jesus parte para o deserto e o povo o segue. O povo busca um libertador, capaz de um novo êxodo, capaz de libertá-lo deste sistema de morte, alguém capaz de ter compaixão; o povo busca um rei, que ao invés de matar sua esperança, a possa renovar, gerando vida. Ali, no deserto, onde Deus deu codornizes, água e maná para seu povo, Jesus vai servir um banquete de vida. Ele não se diverte com a miséria do povo.

Ele tem compaixão, que não é um dó passivo, um ter dó sem fazer nada, é um condoer-se com o povo. Essa compaixão leva Jesus à ação. Ele cura os doentes e alimenta a multidão faminta. Vemos aqui um contraste radical com a atitude de Herodes, que simboliza os donos do dinheiro e os donos do poder, que bebem o sangue do povo. No deserto a atitude dos discípulos ainda é de aprendiz. Sugerem despachar o povo sem comida. Total descompromisso e, além disso,  persistência no sistema iníquo do comércio; hoje diríamos sistema capitalista gerador de consumismo e competição, de elitismo e desnível social, gerador de miséria e morte para a maioria. Jesus propõe um sistema alternativo, chamado sistema de dádiva, fundamentado na gratuidade do Pai. "Eles não precisam ir embora. Vocês mesmos lhes deem de comer" (veja 1a leitura - Is 55,1-3).

Diante desse mandamento novo, os discípulos constatam a sua pobreza: Eles só têm cinco pães e dois peixes e a multidão era imensa (cf. v. 21). Mas, parece que Jesus já conhecia o provérbio popular: "O pouco com Deus é muito!" Ele sabe que o pouco do pobre repartido com amor e generosidade vai dar para todos e ainda vai sobrar. Aliás, 5 pães e 2 peixes somam 7 que é o número da totalidade. Ele manda o povo se assentar para comer, sinal de que considera o povo já livre da escravidão opressora dos que detêm o monopólio do pão. Jesus olha para Deus e abençoa o pão. É o agradecimento à gratuidade do Pai, pois o pão, como o maná do deserto, é dom de Deus, é gratuito para todos. O que provoca a fome de muitos é o egoísmo de poucos. Jesus manda os discípulos distribuírem. Eles precisam aprender a distribuir, a partilhar da sua pobreza. 

O estágio com Jesus supõe mudança de valores, supõe acreditar na força dos fracos, na abundância dos que nada possuem. Será que aquele tiquinho de comida vai dar para todo mundo?!  O segredo está na gratuidade, na generosidade, na partilha. Sem partir os pães é claro que não daria! No mundo capitalista, no mundo sem Jesus, 5 pães e 2 peixes dão no máximo  para 7 pessoas; às vezes, dependendo da ambição e cobiça não dá nem para sete! Ali, no deserto, no lugar da experiência de Deus, toda a multidão comeu e ficou saciada e ainda recolheram sobras - 12 cestos cheios. O nº 12 relembra as 12 tribos - o antigo povo de Deus, como também os 12 apóstolos - o novo povo de Deus - a Igreja. O texto relembra de perto a Eucaristia. A Igreja continua ensinando o sistema de dádiva, realizando o milagre da partilha. E todo domingo celebra este ensinamento e este milagre na Eucaristia. A eucaristia dominical gera  vida em você  e também nos irmãos famintos através da sua generosidade?

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