PALAVRA DE VIDA
2/05/2020 – O Espírito é quem dá vida... (Jo 6,60-69)
Quando professamos nossa fé com as palavras do Credo de Niceia e Constantinopla, dizemos crer “no Espírito Santo, Senhor que dá a vida”. Em latim, Dominum et vivificantem, Senhor e fonte de vida.
De fato, o mesmo Espírito que pairava sobre as águas (Gn 1), “chocando” o ovo da futura Criação, é o Espírito que repousou sobre Jesus (Lc 4,18), preparando-o para sua missão, e o Espírito de Pentecostes (At 2), que se fez alma e motor da Igreja. O “hálito” divino que deu vida ao primeiro homem (Gn 2,7b) é o mesmo “sopro” que nos infunde a vida de Jesus. Aliás, sem a ação pontual do Espírito Santo, invocado pelo sacerdote na Santa Missa, não teríamos no pão o Corpo de Cristo, no vinho consagrado o Sangue de Cristo.
Curiosamente, muitos fiéis não têm consciência de que, ao comungarem o Corpo e o Sangue de Cristo na Eucaristia, comungam também o Espírito Santo (que é o Espírito de Jesus). Um fruto direto dessa comunhão é o “espírito de unidade”. O Papa João Paulo II escreveu recentemente: “O dom de Cristo e de seu Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza plena e abundantemente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração humano e ao mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a participação na mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da mera experiência de um banquete humano”. (Ecclesia de Eucharistia, 24.)
Logo, é com toda a propriedade que Jesus afirma que não podemos tentar compreender de modo carnal o profundo mistério do dom de seu Corpo e Sangue: “A carne não serve de nada, o Espírito é quem dá a vida”. E acrescenta: “As palavras que Eu vos disse são Espírito (com inicial maiúscula no texto de São Jerônimo) e vida”.
Nunca será demais acentuar o “realismo” da presença de Jesus nas espécies consagradas. Jesus não falava por símbolos. Tanto que o texto grego original de S. João chega a usar o verbo “trógon” (mastigar; cf. Jo 6,54.56-57-58) em lugar do verbo “phágein” (comer). Essa distinção desaparece na Vulgata, em latim, que talvez tenha estranhado o excesso de realismo...
Diante das palavras de Jesus, muitos seguidores se afastaram para sempre. E ele diz aos Doze: “Também vós quereis partir?” E a resposta fulminante de Pedro: “A quem iríamos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!”
E nós? A quem iríamos? Que alternativa teríamos para Jesus, que deu a vida por nós e nos alimenta na Eucaristia?
Orai sem cessar: “Senhor, tu tens palavras de vida eterna!”
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.