PALAVRA DE VIDA
29/10/2023 – Como a ti mesmo... (Mt 22,34-40)
Em sua Primeira Carta, S. João nos dá um princípio de valor inestimável, capaz de arrancar nossas máscaras e denunciar nosso farisaísmo: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso.” (1Jo 4,20.)
Este versículo aproxima dois verbos que se repelem: amar x odiar. Ainda que o coração humano se apoie em uma dobra do fígado (comparar amigo “cordial” e inimigo “figadal”...), os dois sentimentos não podem conviver no mesmo coração. Assim, mesmo que, humanamente falando, alguém merecesse meu ódio, sei que ele é amado por Deus. Basta a consciência disto para que eu me recuse a alimentar a chama do ódio em meu interior. Se de fato eu amo a Deus, não posso odiar os seus amados...
Santa Teresinha do Menino Jesus convivia com uma freira carmelita muito “difícil”. Podemos ler em seu “Manuscrito C” (292): “Encontra-se na comunidade uma irmã que tem o dom de desagradar-me em tudo, suas maneiras, suas palavras, seu caráter eram-me muito desagradáveis, porém é uma santa religiosa que deve ser muito agradável a Deus. Não querendo entregar-me à antipatia natural que sentia, disse a mim mesma que a caridade não deveria assentar-se nos sentimentos, mas nas obras. Então, apliquei-me em fazer por essa irmã o que teria feito pela pessoa que mais amo.”
E que fez Teresinha? Seguiu um autêntico “método de perdoar”, em cinco pontos: 1) rezar pela freira; 2) prestar-lhe todos os serviços possíveis; 3) sorrir para ela; 4) desviar a conversa de assuntos desagradáveis, evitando toda contestação; 5) fugir de perto, “como desertora, quando os combates se faziam violentos demais”...
Algum tempo depois, talvez desconfiada, a “antipática” chegaria a perguntar à Pequena Teresa: “Aceitaríeis dizer-me, Irmã Teresa do Menino Jesus, o que tanto vos atrai em mim?” E a própria Teresa nos revela o seu segredo: “Ah! O que me atraía era Jesus oculto no fundo da alma dela... Jesus que torna suave o que é amargo...”
É fácil amar a Deus, que está no alto do céu. É fácil também amar aos “irmãos africanos”, do outro lado do Oceano Atlântico. Ao contrário, difícil é amar aquelas pessoas cujos cotovelos esbarram nos nossos no dia a dia. Mas é exatamente nestes vizinhos que Deus costuma se esconder. É exatamente neles que podemos amar ao Deus distante e se faz próximo...
Orai sem cessar: “Oh! Como é bom e agradável
irmãos unidos viverem juntos!” (Sl 133,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.