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13/01/2020 Frei Carlos Mesters, O.Carm. Edição 3919 A Boa Nova do Reino 2/2
F/ Pixabay
"Marcos descreve a finalidade que a Boa Nova do Reino que alcançar na vida do povo. São sete. Elas podem servir como critério de avaliação para examinar de perto a qualidade da nossa prática evangelizadora."

 

  1. “Mudem de vida”

Jesus não pede: “Observem a Lei e a Tradição!” Ele pede metanoia,isto é, mudar o modo de pensar e de agir. Este é o apelo de mudança que a chegada do Reino traz consigo. Sem esta mudança radical o povo não poderá entender a mensagem do Reino anunciada por Jesus. A mudança que a chegada do Reino está pedindo é uma mudança que engloba todos os aspectos da vida das pessoas, do povo e da nação. Se não acontecer esta mudança, “se vocês não se converterem, todos vão perecer do mesmo jeito (LC 13,3.5). isto é, do jeito que galileus pereceram pela violência de Pilatos, assim todos irão perecer pela violência repressiva do Império. Não houve a mudança que ele pediu! Quarenta anos depois, no ano 70, esta profecia tornou-0se triste realidade! Jerusalém foi totalmente destruída.

 Mudar por quê? Ao longo dos séculos anteriores foi acontecendo uma inversão total dos valores que se expressa na própria religião. A religião oficial já não revelava o rosto de Deus ao povo: o mandamento de Deus foi anulado pela tradição (Mc 7,8); o ser humano estava em função da lei (Mc 2,27); o templo levava vantagem sobre o amor aos pais (Mc 7,10-13); a misericórdia foi diminuída em favor da observância (Mt 9,13); a justiça praticada pelos fariseus já não revelava o Reino (Mt 5,20). Na prática, o amor de Deus estava separado do amor ao próximo. Os escribas e os fariseus, responsáveis pela transmissão da fé, tinham esquecido as necessidades dos pobres (Lc 13,15-17), impunham pesos pesados ao povo (Mt 23,4) e, assim, bloqueavam a entrada do Reino (Mt 23-13).

 Mudar o quê? Já não bastava consertar um ou outro defeito. Era necessário fazer tudo de novo! Metanoia! Nascer de novo (Jo 3,3), reconhecer o próprio erro, aceitar a nova leitura do passado e iniciar uma prática nova no ruma que Jesus propunha: viver o amor a Deus no amor ao próximo (Mt 22,39); estender que o sábado é para o homem (Mc 2,27) e que o objetivo da lei é imitar Deus que faz chover sobre todos (Mt 5,43-48); viver a eleição divina não como um privilégio que separa dos outros povos, mas como um serviço que leva a inserir-se no meio deles (Mt 20,28; Lc 17,10). Numa palavra, aprender que ninguém tem o direito de marginalizar como “pecador”, “impuro”, “pagão”, “maldito” ou ignorante (Jo 7,49; 9,34) aqueles q quem Deus acolhe como filhos (Mt 5,45). Realmente, fazer uma mudança assim era o mesmo que morrer e nascer de novo. “Quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3,3). Muitos não quiseram fazer esta mudança radical, reagiram contra Jesus e decidiram eliminá-lo (Jo 12,37-41; 11,45-54; Lc 19,42). 

  1. “Acreditem nesta Boa Notícia”

Realiza-se a esperança do povo. Toda esta novidade que começou a existir ao redor da sua pessoa, Jesus a designou com A Boa Nova do Reino. Expressão antiga, usada pela primeira vez pelo profeta Isaías para designar a Boa Nova da volta dos exilados (Is 40,9; 52,7; 61,1). Desde então, todos esperavam pela Boa Nova do Reino. Nos gestas e nas palavras de Jesus esta esperança re realiza. O acesso a essa Boa Nova só era possível através da fé: “Acreditem na Boa Nova!”. Fé não só na mensagem, mas também na pessoa de Jesus, tal como ele era e se apresentava: jovem, operário, sem estudo, vindo da Galiléia, sem ser doutor, sem ser sacerdote, sem ser da classe dirigente, mas que tem a coragem de dizer a todos: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). “Quem vê a mim vê o Pai!” (Jo 14,9). Sem esta fé na palavra e na pessoa de Jesus não era possível entender a Boa Nova do Reino que ele anunciava!

Embora a Nova não fosse tão Boa para os doutores e escribas, ela era realmente Boa para os pobres (Lc 4,18). Pois através da prática e da palavra de Jesus, o povo pobre, que vivia marginalizado como “ignorante”, “maldito”, “impuro” e “pecador” (Jo 7,49; 9,34), tinha novamente acesso a Deus. Jesus liberou a entrada. A presença amiga de Deus tornou-se novamente, universal, aceitável para todos, livre das amarras nas quais vinha sendo aprisionada havia séculos (Mt 23,13).

 

Apontar a Boa Nova de Deus na vida do poço. A Boa Nova do Reino, que é? Não é uma doutrina que se ensina, nem uma moral que se impõe. Não é um catecismo que se decora, nem uma ideologia que se transmite. A Boa Nova do Reino é um fato da vida em que Deus esta presente, atuando, libertando o seu povo com poder, realizando o seu plano se salvação, mostrando que é Rei, Senhor da história. Mas não só! Ela é uma palavra que tira o véu este fato e revela ao povo a presença gratuita de Deus aí dentro; é uma atitude, um testemunho, uma prática, que confirmam esta presença de Deus; é todo o passado do povo que o confirma e o ratifica: “Era isto que esperávamos há muito tempo!”.

Anuncia a Boa Nova do Reino, que é  apontar fatos concretos pelos quais e veja onde o Reino de Deus está acontecendo e interpretá-los de tal maneira que apareça para fora esta dimensão escondida da presença vitoriosa de Deus na história do povo. Foi assim que Jesus respondeu a João Batista: “Vão dizer a João o que estão vendo e ouvindo!” (Mt 11,4-5). 

  1. A finalidade da Boa Nova anunciada por Jesus

Marcos descreve a finalidade que a Boa Nova do Reino que alcançar na vida do povo. Os sete pontos que seguem são os sinais do Reino. Podem servir como critério de avaliação para examinar de perto a qualidade da nossa prática evangelizadora:

  1. Criar comunidade (Mc 1,16-20); Vocação dos primeiros discípulos. A Boa Nova tem como primeiro objetivo congregar as pessoas em trono de Jesus e, assim, criar comunidade.
  2. Fazer nascer consciência crítica (Mc 1,21-22); Admiração diante do ensinamento de Jesus. A maneira como Jesus anuncia a Boa Nova faz o povo criar consciência crítica com relação aos escribas, seus líderes.
  3. Combater o poder do mal (Mc 1,23-38); Expulsão de um demônio. A Boa Nova combate e expulsa o poder do mal que estraga a vida humana e aliena as pessoas de si mesmas.
  4. Restaurar a vida para o serviço (Mc 1,29-34); Cura da sogra de Pedro e de muitos outros doentes. A sogra levantou-se e começou a servi-los. A Boa Nova cuida da vida doente e procura restaurá-la para o serviço.
  5. Permanecer unido ao Pai pela oração (Mc 1,35); Jesus ora num lugar deserto.

Faz parte da Boa Nova permanecer unida a raiz que é o Pai, através da oração.

  1. Manter e aprofundar a consciência da missão (Mc 1,36-39); Anúncio da Boa Nova pelas aldeias da Galiléia. A Boa Nova exige que o missionário não se feche nos resultados já obtido, mas que mantenha sempre a consciência da missão.
  2. Reintegrar os marginalizados na convivência (Mc 1,40-45); Um leproso é curado e enviado aos sacerdotes. A Boa Nova acolhe os marginalizados e os reintegra na convivência humana.

Estes sete pontos marcaram o anúncio da Boa Nova realizado por Jesus e pelos primeiros cristão. Será que marcaram os 500 anos de Evangelização da América Latina? Será que marcam a evangelização que fazemos hoje? Onde esta Boa Nova entra hoje na vida humana, ela em dúvida alguma encontrará resistências e provocará conflitos. É o que o Evangelho de Marcos sugere, apresentando logo em seguida cinco conflitos entre Jesus e os líderes religiosos da época (cf. Mc 2,1-3,6).

Marcos informa ainda que, no momento de chamar os apóstolos, Jesus “chamou a si os que ele queria chamar, e foram até ele. E constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar  os demônios” (Mc 3,13-15). No mesmo chamado Jesus coloca duas finalidades. Chama para “estar com ele” e pra “enviá-los a pregar e a expulsar os demônios”. O estar com Jesus dá o conteúdo para a pregação e a autoridade para expulsar o demônio. Ou seja, a comunidade é a plataforma de onde parte a missão e lhe dá consistência.

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