Formação Espiritualidade
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07/06/2023 Pe. Rodrigo Ferreira da Costa, SDN   Edição 3960 A Eucaristia e o pão nosso de cada dia
F/ Pixabay - congerdesign
"Jesus nos ensina que para superar o drama da fome não é necessário muito dinheiro, mas um coração aberto a partilhar. Pois onde se pratica o dom da partilha há sempre pão com fartura para todos."

 

A fome é uma necessidade básica do ser humano. Comida é vida. A fome mata. O próprio Deus se compadeceu da fome do povo e, deu-lhes o Maná (cf. Ex 16, 13-36), pão descido do céu que sustentou o Povo na travessia do deserto.

Pedagogia da partilha

O Maná não era somente comida, mas era também a pedagogia de Deus para que o povo aprendesse a partilhar. Ao dar-lhes o pão, o SENHOR faz a seguinte recomendação: “Moisés lhes disse: ‘Isso é o pão que o Senhor lhes dá para comer [...]. Cada um recolha o suficiente para comer, uma medida por pessoa, de acordo com o número de pessoas que moram na sua tenda’. Os filhos de Israel assim fizeram. E uns recolheram mais, outros menos. Quando mediram as quantias, não sobrava para quem tinha recolhido mais, nem faltava para quem havia recolhido menos” (Ex 16, 16-17). Percebe-se que Deus oferece o pão de cada dia, o pão da dignidade. E, quando alguém desobedecia essa ordem de Deus e guardava o pão para o dia seguinte, ou seja, acumulava, este pão apodrecia, criava vermes (cf. Ex 16, 19-20).

Seguindo essa mesma pedagogia, Jesus ensina aos seus discípulos a rezarem pedindo ao Pai, o Pão de cada dia. A oração do Senhor é mais do que um pedido, nela apresenta um projeto de sociedade. Jesus não nos ensina a pedir riquezas, nem o pão do acúmulo, mas o pão da dignidade, o pão de cada dia. Mas, quando desobedecemos ao ensinamento do Senhor e acumulamos, nossa riqueza também cria verme, apodrece. Pois a riqueza fruto da ganância cheira mal. Como nos canta a canção: “Quando o pão é partilhado, passa a ter gosto de amor/ Quando for acumulado gera morte, traz a dor/ Quando o pouco que nós temos se transforma em oblação/ O milagre da partilha serve a mesa dos irmãos”.

A compaixão leva à partilha

Muitas vezes somos tentamos a saciar a nossa fome sem nos preocuparmos com a fome do outro. Jesus faz o contrário: quando, no deserto, sentiu fome e o diabo mandou que transformasse pedra em pão para saciar a sua fome, Ele não o faz e ainda diz: “Nem só de pão vive o homem” (cf. Mt 4,1-11). Mas, ao ver a multidão faminta, Ele encheu-se de compaixão, abençoou, partiu e repartiu o pão e nos ensinou a “dar de comer a quem tem fome” (cf. Mt 14, 16). Isso porque “a minha fome é uma questão biológica, mas a fome do outro é uma questão teológica. É um apelo de Deus, tenho que encontrar Deus saciando a fome do outro” (Dietrich Bonhoeffer).

Na parábola do rico insensato e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31), temos um grande ensinamento de uma economia a serviço do lucro, do acúmulo, que gera miséria e cheira mal. O homem rico não vê o pobre Lázaro à sua porta, não se sensibiliza com a sua fome, não percebe as suas necessidades. Porém, a sua riqueza não lhe garante a vida, a salvação. E, no inferno da falta de sentido, clama por Lázaro. O rico que pede socorro ao pobre!  

Jesus nos ensina que para superar o drama da fome não é necessário muito dinheiro, mas um coração aberto a partilhar. Pois onde se pratica o dom da partilha há sempre pão com fartura para todos. Mas, onde se vive o egoísmo do acúmulo, há fome e miséria. Noutras palavras, para quem é egoísta e só pensa em si, sempre falta alguma coisa. Mas para quem abre as mãos ao outro para partilhar, sempre sobra algo para doar!

Do altar para a vida cotidiana

A Eucaristia, pão partilhado e vida doada, deve ser para nós uma pedagogia da partilha e da solidariedade. Da mesa eucarística ressoa o clamor profético por uma nova ordem econômica pautada na solidariedade. O Pão da Vida celebrado no altar da liturgia é também uma ordem para que o pão nosso de cada dia seja farto na mesa dos pobres. Pois “se existe fome em nossas comunidades, nossas missas, celebrações eucarísticas estão de alguma maneira incompletas” (Texto Base da CF 2023,n. 153).

Nesse mesmo sentido, completa o Papa Francisco: “Para celebrar a Eucaristia, também nós somos chamados a viver este amor. Não podes comer deste pão, se não deres pão aos famintos. Não podes partilhar deste pão, se não partilhas os sofrimentos de quem passa necessidade. No fim de tudo, inclusive de nossas solenes Liturgias Eucarísticas, restará apenas o amor. E, já desde agora, as nossas Eucaristias transformam o mundo, na medida em que nós mesmos nos deixamos transformar, tornando-nos pão partido para todos” (Homilia de Corpus Christi, 2021).

Entremos, pois, na escola da Eucaristia e aprendamos dela a dar pão a quem tem fome. Pois, quem come da Meda Santa da Eucaristia, mas permanece com o coração preso à ganância, ao acúmulo e indiferente em relação à fome do outro, está comendo a sua própria condenação (cf. 1 Cor 11, 17-34).

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