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08/01/2020 Roberta Almeida Edição 3918 A jornada das mulheres que reflorestam a Amazônia
F/ Carol Quintanilha
"Mulheres, jovens e crianças conversam, riem, brincam, sob a sombra do muricizeiro. Recolhem as frutinhas amarelas e agridoces, chupam a polpa com caras contentes e põem as sementes nos cestos, com cuidado."

No MT, a coleta de sementes é fundamental para repor áreas devastadas do Xingu ao Araguaia. Encabeçada pelo Movimento das Mulheres Yarang, atividade gera renda e resultou no plantio de cerca de 1 milhão de árvores em dez anos.

Mulheres e jovens enfileiradas saem em caminhada da aldeia Arayó. A tiracolo levam cestos, facões, beijus, água, crianças pequenas. O passo é tranquilo, pressa para quê, mesmo com o sol de fim de maio torrando a poeira da pista de pouso do polo Pavuru, Território Indígena do Xingu, MT.

A conversa entre elas é constante. O assunto: sementes.

Quais vamos coletar? Onde? Uma trilha à esquerda e a mata se encerra, abrindo frestas só para roças de mandioca, cercadas contra ataques de porcos do mato. Por ali ficava a antiga aldeia Moygu, abandonada em 2011. Pequizeiros enormes vibram com a brisa na luz da manhã.

Meio caminho andado e uma criança aponta para um pequeno buraco no chão da trilha. Em um instante, ela traz, grande e potente, uma formiga cortadeira que parece entorpecida entre seus dedos. Na língua Ikpeng, uma Yarang.

Yarang é símbolo e nome do movimento de mulheres Ikpeng que, há 10 anos, coleta sementes para reflorestar as nascentes dos rios Xingu e Araguaia, no Mato Grosso, e onde mais o branco tiver desmatado no Cerrado e na Amazônia.

Adiante em passo firme, formiga cortadeira devolvida ao chão, as Yarang buscam nesse trecho específico de mata sementes de jatobá, leiteiro, carvoeiro, cafezinho do pasto, mamoninha, lobeira e outras dezenas de espécies.

Em parada repentina, todas se sentam no chão. Com as mãos ou com os facões, começam a limpar a camada de folhas secas para descobrir muricis-da-mata, quase invisíveis de tão pequeninos. A dinâmica muda. Agora é hora de coletar.

Mulheres, jovens e crianças conversam, riem, brincam, sob a sombra do muricizeiro. Recolhem as frutinhas amarelas e agridoces, chupam a polpa com caras contentes e põem as sementes nos cestos, com cuidado.

“O movimento das mulheres é um conjunto” - reflete Koré Ikpeng, liderança Yarang da aldeia Arayó. “Convidei todas as Yarang para coletar sementes, tomamos banho cedo e viemos. Viemos para conversar, trocar ideias. É uma atividade coletiva, de união das mulheres.”

“A gente incentiva, ensina os conhecimentos sobre sementes para os jovens” - continua. E não é só as meninas que trabalham. Os meninos também. Meus netos estão aí. A gente orienta, a gente convida, eles vão aprendendo.”

Veloz como as formigas cortadeiras, o grupo termina a jornada com cestos cheios em menos de uma hora. Agora é hora de voltar.

Chega ao fim mais uma coleta entre tantas que, ao longo de 10 anos, totalizaram 3,2 toneladas de sementes florestais e geraram R$ 105 mil em renda direta para as 65 mulheres participantes do Movimento das Mulheres Yarang, parte da Associação Rede de Sementes do Xingu – ARSX. Trabalho duro de mulheres fortes que já resultou em um plantio aproximado de 1 milhão de árvores.

 

Fonte: Outras Mídias

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