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25/06/2020 Dom Edson Oriolo Edição 3925 AÇÃO PASTORAL PÓS-PANDEMIA (2)
F/ Pixabay
"A grande transformação econômica do evangelho começa com o cuidar dos pobres. "

Dom Edson Oriolo -  Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

O século XXI vem apresentando crises econômicas sistêmicas que acabam interferindo na dinâmica da manutenção do evangelizar, celebrar e partilhar, em nossas dioceses, paróquias e comunidades eclesiais missionárias. Tivemos a crise financeira de 2008-2009 e diversos países ainda não conseguiram retomar a normalidade de sua economia. Agora, uma crise totalmente diferente da anterior, causada pela pandemia Covid-19, que já atingiu mais de 150 países no mundo, impactando negativamente a economia global. Seus impactos poderão destruir a estrutura econômica de alguns países, caso os governos não adotem medidas efetivas para enfrentar a nova realidade.

As sociedades estão sofrendo uma crise sanitária de proporção global. Essa crise sanitária que está ameaçando ser explosiva para uma economia cambaleante, em muitos países, está respingando na economia de nossas dioceses, paróquias e comunidades eclesiais missionárias. Necessitamos dos fiéis com seus dízimos, ofertas, doações para a manutenção de nossas estruturas, obras e da ação evangelizadora. A evangelização, as celebrações e a assistência aos pobres não podem parar.

A palavra economia é a junção de oikos (casa, lar) e nomos (gerir, administrar). Significa um processo de produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais. É uma contenção ou moderação de gastos, é controle para evitar desperdícios em qualquer serviço ou atividade. Assim, para não pensarmos e agirmos de maneiras lucrativas temos que redesenhar um novo modelo de economia, em nossas dioceses, paróquias e comunidades eclesiais missionárias, entrelaçado com a pastoral do dízimo. Hoje não estamos tendo as nossas ofertas, receitas de festas, apenas o dízimo está chegando em nossas paróquias e comunidades eclesiais missionárias.

Entendo que a grande transformação econômica para manutenção do evangelizar, celebrar e partilhar deve vir do evangelho. O projeto econômico-social que Jesus desenvolveu em sua missão é o modelo econômico para a Igreja. O nosso gerir e o nosso administrar partem da economia de Jesus que não é doutrina, mas um serviço aos mais necessitados, sem absolutizar o dinheiro, mas a partilha, a solidariedade e a organização.

A grande transformação econômica do evangelho começa com o cuidar dos pobres. Jesus inicia sua marcha do Reino com um grupo de colaboradores, pedindo para deixar tudo e acompanhá-lo sem nada (cf. Mc 1,16-20). Depois, convida Mateus (Mc 2,13-17) a ultrapassar o nível de contagem, administração financeira, impostos e tributos, a fim de partilhar e ser solidário.

O relato da “multiplicação dos pães” oferece-nos, neste tempo de pandemia, luzes para uma administração econômica capaz de conduzir nossas dioceses, paróquias e comunidades eclesiais missionárias ao novo “melhor”. Os quatro evangelistas narram a multiplicação dos pães, isso para nos ensinar que foi algo muito importante na Igreja primitiva como reflexão e orientação para as primeiras comunidades cristãs.

Na narração da multiplicação dos pães, Jesus não pediu que os discípulos comprassem algo para comer (cf. Mc 6,36), mas ordenou: “Dai-lhes vos mesmos de comer!” (Mc 6,37). O comprar iria criar um tipo de riqueza (cf. Jo 12,6). Ele desafia os discípulos a buscarem uma alternativa. Eles eram agarrados ao vender-comprar. Jesus ordena-lhes ser solidários e partilhar. A solução do problema é a partilha, a solidariedade e a organização, que transformam a vida das pessoas e das comunidades eclesiais missionárias.

Nessa pandemia, nós muitas vezes pensamos e agimos como os discípulos, olhando para o capital físico ou monetário (pães e preços). Eles achavam que o problema iria se resolver com muito dinheiro, isto é, duzentos denários – duzentas moedas de prata, (na época um denário era o salário diário de um trabalhador, que daria para comprar 8 Kg de pão). Estamos preocupados mais em sanar nossas dívidas, pagar os nossos encargos sociais, côngruas, taxas diocesanas, etc. e deveríamos nos preocupar com a transição do pão material para o pão mais profundo e mais abundante que se multiplica, onde quer que seja, pela partilha, solidariedade, generosidade, gratuidade e, principalmente, por uma boa organização futura.

Jesus, assumindo a gestão da situação, pede organização. “Mandou que todos se sentassem na relva verde, em grupos de cem e de cinquenta” (Mc 6,39-40). Sentam-se como povo organizado. A organização que liberta é um elemento importantíssimo. Por meio da organização solidária, no diálogo franco e fraterno, Jesus inicia o milagre e manifesta o verdadeiro sentido da partilha. Uma solidariedade organizada, com dirigentes previdentes (cf. Mc 6,38), confiança na providência (a de Jesus). Os discípulos falam a partir de uma economia real. A proposta de Jesus não é uma outra economia, mas mudança de mentalidade.

A Igreja particular de Leopoldina, organizada em foranias, para melhor evangelizar, celebrar e cuidar dos pobres, assumiu o compromisso, num primeiro momento, de maneira organizada, de partilhar, ser solidária com os seus paroquianos com arrecadações de inúmeras maneiras. Por outro lado, as paróquias estão aprendendo a vivenciar uma economia familiar por meio da partilha, da solidariedade organizada, da gratuidade e da generosidade entre os sacerdotes.

Num espírito de diocesaneidade, caridade pastoral e comunhão presbiteral, sem normativas, as paróquias e comunidades eclesiais missionárias da Igreja Particular de Leopoldina estão cumprindo com seus compromissos financeiros, sem ônus. Além do mais, fortalecendo uma gestão econômica solidária, participativa e organizacional.

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