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22/02/2024 Anjo Morillo Edição 3968 Agenor Brighenti: “Novos ventos sopram hoje na Igreja e vêm da América Latina” Sínodo 2023 - 2024
F/ L M Modino
"É claro que a criação de espaços para uma maior participação e inclusão dos jovens exige uma mudança nas estruturas da Igreja. Uma profunda revisão das estruturas da Igreja e do exercício do poder é condição para superar o clericalismo e implementar uma Igreja servidora, sinodal, que gere novas lideranças e ministérios."

"Onde se põe o olho, vai a bala". E embora as posições de Agenor Brighenti causem polêmica em alguns setores (muito conservadores), este teólogo e padre brasileiro fundamenta muito bem seus argumentos. Não é à toa que Francisco o inscreveu na equipe teológica de especialistas do Sínodo da Sinodalidade e dos bispos da Sinodalidade. A América Latina juntou-se a ele na sua equipe de reflexão teológico-pastoral.

Também coordena a comissão para o desenvolvimento do 'rito amazônico' instituída pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e é professor do centro de formação CEBITEPAL do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM). Carreira coroada com sua participação como especialista na 4ª Conferência Geral do Episcopado de Santo Domingo (1992), 5ª Conferência Geral do Episcopado de Aparecida (2007) e no Sínodo da Amazônia (2019). Esse homem não improvisa e vai pela rua do meio.

Como se não bastasse, ele será o encarregado de encerrar o curso global ‘Rumo a uma Igreja constitutivamente sinodal’ organizado por diversas organizações eclesiais do mundo, com o tema “Assembleias e Conferências Eclesiais”, que terá início neste dia 2 de março e as inscrições ainda estão abertas. Em meio a grupos e reuniões, ouvem-se rumores de uma possível “Conferência Eclesial da América Latina e do Caribe”, um equivalente ampliado do CELAM ou da Confederação Latino-Americana de Religiosos (CLAR). Embora possa parecer irreal “por enquanto”, o futuro da história tornar-se-á mais claro. Vida Nueva consultou Birghenti, quão maluca é a ideia? Uma voz autoritária fala.

Valor de significado das Conferencias Episcopais

Pergunta: Como o senhor avalia a contribuição das conferências episcopais para o caminho sinodal e para a Assembleia Eclesial?

Resposta.- Novos ventos sopram hoje na Igreja, depois de três décadas de involução eclesial em relação à renovação do Vaticano II. E eles vêm da América Latina e do Caribe. Começaram a soprar com a Conferência de Aparecida, que resgatou o Concílio na perspectiva da “recepção criativa” da tradição eclesial libertadora, tecida em torno de Medellín (1968) e Puebla (1979). Imediatamente, esses novos ventos se intensificaram na mesma direção com o pontificado reformador de Francisco, um latino-americano que universaliza o que aqui foi gerado e continua a ser gerado.

A Primeira Assembleia Eclesial foi um passo importante neste processo. Seu perfil é respaldado pela significativa contribuição do Sínodo da Amazônia e pela criação da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), ambos frutos da reforma do Sínodo dos Bispos pelo Papa Francisco, com a promulgação da Constituição Episcopal Comunhão (2018).

Atualmente, o Sínodo sobre a Sinodalidade da Igreja (2021-2024) continua a ser um catalisador para estes novos ventos que sopram do Sul. Não é exagero dizer que se trata de iniciativas que trazem mudanças profundas, com consequências em todos os âmbitos da vida eclesial, especialmente na ação evangelizadora, razão da existência da Igreja.

Falar do âmbito pastoral da Primeira Assembleia da Igreja é olhar para o seu resultado, que por sua vez está intimamente relacionado com o seu significado. Sem dúvida, mais importante que o resultado é o seu significado – uma assembleia do Povo de Deus, das Igrejas locais, com o objetivo de “reviver Aparecida” (Papa Francisco).

Quanto aos seus resultados, houve problemas metodológicos no processo de preparação e na realização da Assembleia. A escuta feita nas Igrejas Locais perdeu-se no caminho e a Assembleia não pensou em chegar a um documento. Foram apontados desafios pouco condizentes com o processo realizado.

Depois foi escrito um texto que não queria ser um “documento” e muito menos “final”. Foi dito que “documento” é mais típico dos bispos e, nesta Assembleia, os participantes eram maioritariamente leigos. O texto foi intitulado ‘Propostas e reflexões pastorais da Assembleia Eclesial’, retirando-lhe o destaque, texto que até agora, praticamente, não foi recebido e, consequentemente, também não foi aplicado.

Diferentes, mas não antagônicos...

P.- Em 2021, a Assembleia Eclesial realizou-se ao mesmo tempo que a convocatória do Sínodo da Sinodalidade. Como evitar vê-los como dois processos distintos?

R.- Na verdade, são processos diferentes, mas não antagônicos, embora a simultaneidade na realização dos dois processos, somada à pandemia de Covid 19, tenham sido fatores muito limitantes. O significado e o resultado da Assembleia Eclesial, bem como do Sínodo da Sinodalidade, convergem.

Em relação ao processo, em 2019, quando a nova direção do CELAM solicitou ao Papa uma VI Conferência Episcopal como haviam sido as anteriores, o Papa propôs uma Assembleia Eclesial do Povo de Deus na América Latina e no Caribe. Foi uma nova organização sinodal, inspirada no Sínodo da Amazônia, que por sua vez teve como base a Exortação Episcopalis Communio.

A Episcopalis Communio deu um novo perfil ao Sínodo dos Bispos, que já não é apenas dos bispos e não se limita ao evento da Assembleia de Roma: tem um processo amplo e participativo de preparação das Igrejas locais, com a participação de não bispos no evento, todos agora com direito a voto e com documento final que se tornou oficial, seguido da Exortação do Papa.

O Sínodo da Amazônia foi o primeiro a ser realizado sob o novo perfil do Sínodo dos Bispos, que faz a transição de um Sínodo dos Bispos para um Sínodo da Igreja. O atual Sínodo sobre a sinodalidade é ainda mais inovador: no primeiro ano, realiza-se um sínodo em cada diocese da Igreja no mundo com a participação de todos; no terceiro ano, a Assembleia de toda a Igreja realiza-se em Roma, com representação de todo o Povo de Deus.

Em relação aos resultados, a contribuição do 1º. A Assembleia Eclesial e o Sínodo da Sinodalidade estão intrinsecamente relacionados e interligados. O 1 º. A Assembleia Eclesial não só foi realizada de forma sinodal, mas fez da sinodalidade um dos principais desafios da Igreja no futuro próximo.

A Igreja na América Latina e no Caribe segue os passos do “sonho eclesial” do Papa Francisco , expresso no Sínodo da Amazônia: “uma cultura eclesial marcadamente secular” (QAm* 94). É o antídoto ao clericalismo, superado pelo Vaticano II, mas que regressou triunfalmente nas décadas de involução eclesial que precederam o atual pontificado.

Em resumo, entre os 231 desafios definidos pelo 1º. Assembleia Eclesial e propostos como programa de ação da Igreja para os próximos anos, 49 deles referem-se à sinodalidade, e entre os 41 desafios condensados ??pela Assembleia que totalizaram 231, 5 deles referem-se à sinodalidade.

Mudança de estrutura

P.- Saiu da Assembleia Eclesial um documento de reflexões e propostas pastorais, do Sínodo saiu um relatório sumário, na sua primeira fase, qual documento é mais importante? Como esses documentos estão relacionados?

A.- Convergir com o Sínodo sobre a sinodalidade, para a I Assembleia Eclesial, uma Igreja sinodal, toda ministerial, implica renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, a nossa concepção e experiência da Igreja como Povo de Deus, em comunhão com a riqueza do seu ministério, para evitar o clericalismo.

A renovação dos ministérios na Igreja permitiria a incorporação de leigos, mulheres e consagradas, para que tenham participação e poder na tomada de decisões. Trata-se de retomar a dimensão ministerial da Igreja a partir da circularidade, da sinodalidade e da corresponsabilidade.

Trata-se de rever o papel dos leigos e incluí-los na Igreja, através da capacitação da experiência orante da Palavra e da formação da consciência eclesial do Povo de Deus. A exclusão das mulheres da esfera eclesiástica em funções de liderança e de decisão deve ser reconhecida e, a partir de uma teologia relacional, devem ser-lhes assegurados espaços que demonstrem o reconhecimento da sua dignidade e protagonismo.

É claro que a criação de espaços para uma maior participação e inclusão dos jovens exige uma mudança nas estruturas da Igreja. Uma profunda revisão das estruturas da Igreja e do exercício do poder é condição para superar o clericalismo e implementar uma Igreja servidora, sinodal, que gere novas lideranças e ministérios.

Descentralizar o poder

P.- Do dizer ao fazer há um longo caminho: como materializar e pôr em prática as propostas da Assembleia Eclesial e do Sínodo?

R.- Um grande desafio colocado pela I Assembleia Eclesial e pelo Sínodo da Sinodalidade para uma Igreja sinodal missionária é uma verdadeira e profunda conversão à sinodalidade. É um processo complexo, que abrange tudo e todos na Igreja: o modo de viver e de agir, a Igreja como instituição e os processos pastorais.

Uma Igreja sinodal é uma Igreja em que tudo está orientado para a evangelização, pois existe para evangelizar. A sinodalidade rompe com uma Igreja fechada sobre si mesma. A comunhão entre os cristãos quer ser experiência e testemunho da realização do plano de Deus, que é a comunhão de toda a humanidade, uma fraternidade universal, todos os irmãos e irmãs.

Como vemos, pôr em prática os resultados da I Assembleia Eclesial e do Sínodo sobre a Sinodalidade não é uma tarefa fácil, pois estamos confrontados com a complexidade de uma instituição pesada, com estruturas obsoletas e sem o consenso necessário, como defende a sinodalidade eclesial. para fazer as mudanças que são impostas.

Um factor facilitador poderia ser uma maior autonomia das Igrejas locais ou da sua organização a nível nacional e continental, para responder aos desafios nas suas áreas de acção, uma vez que, apesar da reforma da Cúria Romana, o exercício do Primado permanece legalmente centralizado . Não basta uma descentralização do poder na Igreja; é necessária uma desconcentração do poder, de acordo com o princípio da subsidiariedade.

Sinodizar a Igreja

P.- Fala-se em grupos de uma proposta de Conselho Eclesial Latino-Americano e Caribenho no estilo da Conferência Eclesial da Amazônia. Você acha que tal instância é possível? O que aconteceria com entidades como CLAR e CELAM nesse caso hipotético?

R.- Após a realização da I Assembleia Eclesial, a criação do CEAMA e o atual Sínodo da Sinodalidade, numa Igreja Sinodal não há mais espaço para órgãos de decisão de uma determinada área eclesiástica que não sejam sinodais.

Poderão existir organizações apenas de sacerdotes, freiras, leigos ou bispos, mas não para discernir e decidir o que diz respeito a todos. A questão subjacente é o exercício do poder na Igreja. Como afirma o Papa Francisco na exortação Querida Amazônia e na constituição Praedicate Evangelium, em coerência com a eclesiologia do Vaticano II, os ministros ordenados não têm o monopólio do poder na Igreja, uma vez que na Igreja o poder não deriva do sacramento da a ordem, mas é estabelecido no sacramento do batismo.

Assim, numa Igreja sinodal, além dos clérigos, também os religiosos, os leigos e as leigas precisam ser participantes nos processos de tomada de decisão e assumir funções de coordenação e presidência nas organizações eclesiais em todos os campos e áreas da Igreja.

As Conferências Episcopais nacionais e continentais continuam a ser órgãos que exercem muito mais a colegialidade episcopal do que a sinodalidade eclesial. Não há outro caminho para eles senão “sinodizar”. Quando se trata de atender às solicitações das Igrejas locais, elas precisam ser menos uma assembleia de bispos e mais uma assembleia representativa do povo de Deus como um todo, pois, segundo o princípio da Igreja do primeiro milénio, o que diz respeito a todos deve ser discernido e decidido por todos.

Fonte: Vida Nueva Digital

 Tradução DM

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