A questão deve ser tomada com o devido realismo, tanto em termos históricos como teológicos. Três pontos de partidas necessários: a. Uma abordagem ideológica é perigosa. b. Outro problema é o tipo de ministerialidade, pois o diaconato, na tradição, é visto como uma exceção funcional. c. O Papa Francisco abriu novas portas.
Estamos perante um contexto eclesial, que não é apenas o dos teólogos, a maioria do povo não está preparada para tratar deste tema. O tema da igreja feminina, tanto do ponto de vista teológico, como jurídico, indica que a reflexão sobre as mulheres não parece ter atingido uma maturidade que justifique uma visão teológica compartilhada. Temos diferentes pressupostos, diferentes linguagens, tensões não só teológicas, que tratam o assunto, mas não colaboram para a um serviço eclesial às mulheres. Minha proposta será uma reflexão teológica a partir do conteúdo histórico.
A questão é complexa. Igreja, mulher e diaconato. O papel da mulher, visto na igreja com uma função. A igreja como um todo oferece funções ligadas aos ministérios ou às práticas usuais. A especificidade da mulher na história da salvação. A mulher nunca pode expressar sua originalidade sem o homem. Existe uma oportunidade para as mulheres falarem sobre o diaconato?
Três pontos para reflexão: a. Uma breve resumo histórico; b. uma necessária análise teológica; c. busca de novas perspectivas.
A. Análise Histórica.
O que impede a igreja de incluir mulheres como diáconos permanentes? Essa foi a pergunta que o Papa fez. O papa montou uma comissão articulada composta por membros treinados no assunto. Uma comissão que atualmente estuda o aspecto histórico. Houve muita liberdade do santo padre nesta questão.
A igreja primitiva era uma igreja masculina com muitas mulheres. Os Atos dos Apóstolos manifestam isso. Essas mulheres têm um papel importante na igreja, elas a constroem, ajudam nos alicerces, criam condições para acolhida, hospitalidade. Febe das diaconisas de Cencre (Ro 16,1). Paulo fala do trabalho de mulheres que vivem a serviço de Cristo. O mistério, o serviço dessas mulheres está ligado ao discipulado de Cristo. Paulo sublinha a continuidade da transmissão de algo (2 Tm 1,5) nos lugares cotidianos da igreja. As mulheres não fogem do cansaço. Apesar desse início, encontramos no NT que o diaconato como serviço à igreja tem um desenvolvimento anômalo. Um estudo da Comissão Teológica Internacional indica uma questão complexa não só na aplicação, mas também na reflexão sobre o que é o diaconato.
Existem vários testemunhos sobre o diaconato. Nestes dois primeiros séculos, vemos que a instituição se dá por ordenação do bispo, como um auxílio ao seu ministério . O diaconato e o presbiterato são duas funções eclesiais distintas. No século IV entende-se que o diaconato se torna um serviço autônomo específico: o serviço da catequese, da pregação e da atividade social ligada à própria pessoa. O ministério do diaconato masculino era ladeado pelo diaconato feminino. Este ministério existia e tinha características particulares. Ele era distinto do presbiterato e tinha o cargo de assistente do bispo.
Por que perdemos a figura do diaconato? Durante a prática litúrgica após o ano mil ocorre uma diminuição do diaconato masculino porque o presbítero passa a assumir todas as funções de diácono e assim desaparece. Após o cisma com a Igreja Oriental, todas as funções litúrgicas dos diáconos são assumidas pelos presbíteros. O Vaticano II faz um grande esforço. Moira Scimi: associa a palavra diaconisa à tradição mais antiga da igreja e mostra como entre os séculos I e IV as figuras femininas estão sempre ao lado da figura dos presbíteros. Testemunhos não cristãos nos ajudam. Plínio, o Jovem, fala de dois escravos cristãos que eram chamados de ministros.
Comentário dos Padres sobre Rm 16. Timóteo faz este pedido sobre os diáconos. Essas mulheres podem ser mulheres que serviram à igreja, esposas de diáconos ou elas mesmas. Se se trata de mulheres diáconas, Timóteo fala delas porque elas tiveram que se apresentar a ele. O pastor de Hermas fala sobre isso. Não há arbitrariedade no uso desta palavra, mas sim uma partilha do fato de que o diaconato existiu e que essas mulheres tinham uma função precisa. O que eles estavam fazendo? Eram diaconisas que distribuíram a Eucaristia. Teodoro de Mopsuéstia diz isso. O diaconato feminino se espalha em Edessa e na Mesopotâmia. Aqui eles ajudam no rito do batismo, também porque era administrado a adultos, principalmente nas unções. Visitas a mulheres enfermas em casas de pagãos. Esse testemunho remonta ao início do século IV.
Clemente Alessandrino : as diaconisas além da caridade pregada. Na estabilização do serviço diaconal das mulheres temos uma especificidade: as mulheres cuidam das mulheres e as acompanham ao batismo e ajudam no rito do batismo. No Oriente cristão, ela se estabiliza no monaquismo feminino. A Ásia Menor fala dessas freiras sagradas. João Crisóstomo fala de Olímpia.
Se no Oriente cristão há um crescimento desse aspecto, no Ocidente há um declínio. Na Gália, há pronunciamentos contra a ordenação de mulheres. Em Nimes, diz-se que esta consagração é inconveniente. Diz-se que as mulheres são frágeis, por isso a bênção do diaconato não será mais concedida.
O desaparecimento do diaconato feminino torna-se a causa do fim do diaconato masculino. O que resta do monaquismo feminino? As insígnias episcopais estavam presentes nas abadessas até dois séculos atrás. É interessante obervar que o ministério presbiteral tenha de fato concentrado em si as competências do diaconato. Houve uma substituição das funções secundárias. A recuperação do diaconato que ocorre no Vaticano II deixa uma porta aberta. O Vaticano II é a explicação de uma preparação que durou mais de 150 anos.
O texto da LG é claro nessa perspectiva. Ministerialidade que passa pela pertença à igreja (LG 29). Paulo VI, em 1972, faz um esclarecimento. Bento XVI será quem implementará a mudança no cânon 1008-1009 e estabelecerá profundas distinções. Ele destaca a diferença entre episcopado, presbiterato, diaconato e estabelece as várias ações.
B. Reflexão teológica.
Para compreender o problema do diaconato feminino, devemos colocar o problema no contexto do papel das mulheres na igreja, assim como a igreja o quer . É preciso superar uma visão sociológica, uma visão que a cultura contemporânea sugere que não ajuda a igreja. Pode impedir-nos de ver o centro da questão, que é o que a mulher é em si mesma, o que a mulher é nas relações na sociedade eclesial.
Uma função eclesial não pode ter a mesma função que a outra. Para falar de unidade, Paulo diz que cada um tem uma função. A importância da unidade é a diferença. Cancelar diversidades está muito em voga. A igreja em sua maternidade gera e garante a fé. Desde a igreja primitiva, ele manteve o foco nas mulheres.
As mulheres não são semelhantes aos diáconos. Elas vivem uma experiência diferente, mesmo sendo chamadas de diaconisas. Há uma distinção entre ministérios e ministérios de ajuda, como o diaconato. Esses ministérios atuam juntos. A perspectiva do diaconato feminino é laica.
É uma responsabilidade eclesial. Não são apenas os que decidem que vêem. Existe uma responsabilidade de visão sapiencial. Teologia e magistério são duas mãos de um mesmo movimento.
C. Perspectivas. A dignidade das mulheres na igreja está vinculada ao batismo e ao sacerdócio comum. Duas propostas:
Kasper: propõe uma possibilidade para as mulheres no diaconato. O pedido não permite algo, mas abre algo mais. Ela nos permite agir na perspectiva de Cristo, o servo, e não de Cristo, o cabeça. O diaconato feminino pode ser inscrito no serviço do bispo.
Problema: ser mulher é um impedimento para o diaconato? Conclusão: não extinga o Espírito. Guarde tudo o que é bom e saiba o que a igreja tem de bom para nós.
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