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26/01/2021 Por: Luis Miguel Modino. Edição 3932 Brumadinho: um grito por justiça “Que a nossa voz seja um grito por justiça”
F/ prensacelam.org
"O bispo pediu “que nossa voz seja um grito por justiça”, pedindo “ uma reparação integral para todos os atingidos e afetados ”, aproveitando para denunciar o pacto que existe entre o Governo do Estado de Minas Gerais e a Minera Vale."

Desde 25 de janeiro de 2019 tudo mudou em Brumadinho. Naquele dia, o crime da Vale, outro dos registrados no litoral da mineradora, deixou 272 vítimas mortas e desaparecidas. Junto com o povo, também morreu a bacia do rio Paraopeba, sustento de muita gente e fonte de vida na região.

A Igreja Católica, desde o primeiro momento, posicionou-se como uma das grandes aliadas dos atingidos pelo crime de Brumadinho. Em maio de 2019, menos de 4 meses após a tragédia, o Papa Francisco enviou o secretário do Dicastério para o Desenvolvimento Integral, Dom Bruno-Marie Duffé, para expressar a solidariedade da Igreja com os afetados, celebrando uma missa e homenageando as vítimas .

No primeiro aniversário do crime, o Papa Francisco enviou um vídeo no qual rezou pelas 272 vítimas e lamentou a contaminação da bacia do rio Paraopeba. A Arquidiocese de Belo Horizonte, e especialmente Dom Vicente Ferreira, um de seus bispos auxiliares, tornou-se presença samaritana para o povo de uma região onde esse crime mudou completamente seu cotidiano.

Dia da conversão

Monsenhor Vicente reconhece que 25 de janeiro de 2019 foi o dia em que começou a viver uma conversão, assumindo a ecologia integral como bandeira de luta, denunciando a situação que as pessoas vivem em fóruns nacionais e internacionais. Ele, que se mudou para morar em Brumadinho, é um dos grandes promotores da Romaria de Ecologia Integral a Brumadinho, que realiza sua 2ª edição de 18 a 25 de janeiro. Dada a situação no Brasil devido à pandemia de Covid-19, a maioria das atividades tem sido virtual, restringindo os momentos presenciais às famílias das vítimas.

Foi um acontecimento marcado pela Ecologia Integral, um dos conceitos centrais da Encíclica "Laudato Si". “A peregrinação nos lembra a condição dos peregrinos, do povo de Deus que caminha, construindo a liberdade, buscando a paz e a justiça social. Nesse sentido, a Romaria Regional pela Ecologia Integral a Brumadinho reforça a memória de 272 pessoas e, mais recentemente, de mais um de nossos irmãos, que também morreu sepultado por esse crime no Vale. É uma reclamação, uma exigência de reparação e de esperança de semear, lutar e buscar uma Ecologia Integral para ser possível ”, disse

Um momento marcante foi a missa celebrada na comunidade do Córrego do Feijão, presidida por Monsenhor Vicente Ferreira, missa que o bispo definiu como uma oração coletiva por todos os defuntos, também por todos os que estão de luto pela pandemia do coronavírus. “Uma festa muito difícil, mas ao mesmo tempo muito necessária”, nas palavras do bispo auxiliar de Belo Horizonte, que lembrou que era hora de lembrar “um dia que marcou, foram 272 histórias arrancadas”.

Um grito por justiça

O bispo pediu “que nossa voz seja um grito por justiça”, pedindo “ uma reparação integral para todos os atingidos e afetados ”, aproveitando para denunciar o pacto que existe entre o Governo do Estado de Minas Gerais e a Minera Vale. A Missa teve lugar no dia em que a Igreja celebrou a Conversão de São Paulo, e nessa data Dom Vicente Ferreira fez um apelo, visto que somos zeladores da casa comum, a uma “conversão urgente, necessária e urgente”, insistindo numa conversão ecológica, que nos leva a rever e refazer a nossa relação com a nossa Casa Comum.

Devemos também estar cientes de que “ apesar da nossa dor e do nosso luto, Deus nos guia” , disse Dom Vicente, que fez um apelo para não esquecer as vítimas, as pessoas que morreram. Estas vítimas foram relembradas, interrompendo-se a homilia que se desenrolava, no final dos dois anos do crime, a 273 toques da campainha, uma para cada vítima, sendo também recordada a última vítima, Júlio César de Oliveira Cordeiro, sepultado em a mesma mina em dezembro de 2020.

Diante das disputas que existem entre os habitantes da região em relação à mineração, Dom Vicente afirmou que a festa foi “um momento para aumentar nossa unidade”, apelando a “unir nossos corações para que possamos construir um mundo diferente. Tudo isso por uma força que “não vem do poder nem do dinheiro, a força vem da nossa fé e da nossa união”.

Pacto das vítimas

Durante a Romaria, foi lançado o “ Pacto das Vítimas do Crime do Vale em Brumadinho ”. O documento, organizado pela Região Episcopal de Nuestra Señora del Rosario, da Arquidiocese de Belo Horizonte, elaborado em encontros realizados ao longo de dois anos, é, como diz o texto, “ um documento construído coletivamente“Para os atingidos e afetados por toda a bacia do Paraopeba, que“ contém a denúncia de um crime que matou 272 pessoas e os danos e violações dos direitos humanos e ambientais em toda a bacia do Paraopeba ”. Mas é também um documento que faz propostas sobre como “reconstruir os territórios afetados”, mostrando “os sonhos das comunidades de se libertarem do modelo mineiro predatório”, e ao mesmo tempo “revela o COMPROMISSO com os princípios de uma Ecologia Integral, que coloca a vida acima do lucro”.

Estamos diante de um texto profético, que lembra as vítimas, que promove caminhos de melhoria, justiça e reparação, tendo como pano de fundo que a esperança, a fé e o amor são o que as move. É lá que os atingidos pelo crime do Vale encontram sua "resistência cotidiana e cotidiana à mineração", defendendo uma Ecologia Integral, e pensam em novos horizontes, com alternativas econômicas e um mundo melhor, diferente deste, onde a vida está sempre acima lucro, como diz Marina Oliveira, atingida pelo crime de Brumadinho e uma das responsáveis pela organização da Romaria.

Fonte: CELAM

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