O título deste artigo pode gerar certo desconforto ou uma espécie de julgamento de valor. Isso aponta, diretamente, para a nossa atuação pastoral e missionária dentro e fora de nossas comunidades. Mesmo tendo um direcionamento específico a catequistas e pessoas que se doam missionariamente ao serviço da catequese em sua diocese ou paróquia, falar de “catequese digital” explora muito mais que o ambiente catequético que sua comunidade constrói.
Colhendo inspirações do 13º Muticom – Mutirão de Comunicação – que teve lugar na Arquidiocese da Paraíba, em João Pessoa, entre os dias 13 a 16 de julho de 2023, o tema da Catequese Digital contou com colocações de três diretórios indispensáveis para pensar a catequese atual: o Diretório Nacional de Catequese, que é o Documento da CNBB, número 84; o Diretório para a Catequese de 2020 e o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil de 2023, número 99 da CNBB. Três diretórios que precisam conversar entre si para que os Catequistas e agentes da Catequese compreendam que a “catequese digital é muito mais sobre processos e presença do que simplesmente a técnica”.
Catequese: Processos e Meios de Comunicação
A nossa catequese paroquial precisa ser um “meio de comunicação”, pois ela tem uma mensagem que precisa ser comunicada à outra pessoa, aliás, é essa mensagem que se torna a essência da Catequese. Não transmití-la é afirmar que a pastoral perdeu seu sentido de existir. Catequese é Comunicação, e uma comunicação participativa, ativa e, nesse tempo de cultura digital: interativa. No Diretório de Comunicação diz que “os encontros de catequese se constituem em um ambiente comunicacional propício para a reflexão, a meditação e o aprofundamento da Sagrada Escritura” (Doc. CNBB 99, n. 88).
Hoje a nossa catequese, nossos encontros de Catequese precisam propiciar momentos de maior interatividade, pois essa é a principal marca da Internet, das Mídias Digitais e das Redes Sociais. Quando afirmamos que é mais sobre processos e menos sobre a técnica, no fundo a expressão diz que de muito pouco vale o Catequista se esforçar em aprender a entrar no Instagram, a gravar para o YouTube, se ele não busca ser interativo com seus catequizandos. “Umas das marcas da Internet hoje é essa personalização que ela gera. Claro que isso tem um lado ruim, pois gera maior individualismo e ficamos mais tentados a cair no erro da segregação e aí começamos a separar aquilo que nos interessa daquilo que nos desconforta”, afirma Andreia Gripp no 13º Muticom.
Outro ponto a ser considerado é a capacidade da destemporalização e da desterritorialização. Destemporalização: é no meu tempo; o mundo digital me proporciona consumir o que eu quiser, na hora que eu quiser. Sucesso que exemplifica isso são os serviços de streaming que colocaram em crise os canais de TV; Desterritorialização: a distância não é mais um problema. O catequizando em sua turma pode estar ali, no momento da catequese e, ao mesmo tempo, estar do outro lado do mundo interagindo com alguém nos mais diversos apps. Nessa hora o catequista precisa gerar engajamento, precisa provocar interatividade e dar “personalidade” ao seu encontro de catequese.
Catequese, ambiência digital e Cultura do Encontro
O Diretório para a Catequese, que é um documento Pontifício teve seu lançamento no auge da pandemia, em 2020. É louvável reconhecer a abertura deste texto, por se tratar do primeiro documento pontifício para a Catequese que traz o termo “catequese digital”: e o texto ainda afirma que “a catequese na era digital será personalizada, mas nunca um processo individual: do mundo individualista e isolado das mídias sociais se deve passar à comunidade eclesial, lugar no qual a experiência de Deus se realiza em comunhão e partilha da vivência” (DC, 372).
Aí entra a relevância da Cultura do Encontro: “o Catequista precisa abraçar um urgente processo de conversão. Sem essa abertura à qualidade interativa e personalidade de uma catequese digital, não haverá encontros profundos com a mensagem, com o Cristo”, reafirma Gripp. Tudo isso cria uma ambiência digital em nosso modo de evangelizar. A catequese como esse ambiente explora novos conceitos, busca novas formas de evangelizar e de cativar catequizandos fazendo com que eles se apaixonem pelo Cristo Ressuscitado. Deus também habita a Internet. Nas Redes Sociais também podemos encontrar Deus e experimentar seu amor, por que não, também numa Catequese Digital?
“A Cultura Digital é a cultura de uma sociedade em rede”, diz Andreia Gripp. E essa sociedade nos pede para que assumamos esses novos “sinais do tempo” e que possamos ouvir o que o Espírito Santo de Deus nos fala e para onde ele aponta. Sobre a técnica, se um catequista não sabe o que é um Instagram, TikTok e afins, o primeiro passo é querer saber o que é e como funciona. Talvez criar um perfil numa rede social e mostrar para seus catequizandos que você também está ali. Mas, antes disso, tenha coragem de abrir novos processos de conhecimento: interaja mais, condene menos, elogie mais, cobre menos, acolha mais, sorria mais e zangue menos. Depois disso, a acolhida dos catequizandos para com seus catequistas será mais próspera e interativa.