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01/03/2022 Denilson Mariano Edição 3945 CF 2022 - Discernir: Jesus mestre e educador
F/ Jesuitas Equador
"A educação é um caminho para o exercício da caridade cristã, a serviço de uma sociedade mais fraterna e justa (TB 156). E, é na vivência comunitária, na construção de relações fraternas, na qual vamos nos educando, nos humanizando, na medida em que procuramos colocar em prática o que Jesus viveu e ensinou. "

 

A Campanha da Fraternidade 2022 (CF 2022) segue os passos do método ver-julgar-agir em nova roupagem, explicitada pelo Papa Francisco como escutar, discernir, agir. Depois de tratar do eixo da escuta, seguimos com dimensão do discernir. A Campanha nos permite olhar para Jesus como grande mestre e educador.

Um jeito novo de educar

No tempo de Jesus, a sinagoga era o lugar de escuta e de estudo das Escrituras Sagradas e de debater os problemas e desafios da comunidade judaica. Jesus ensinava nas sinagogas (cf. Lucas 4,14-30) e, no conjunto dos evangelhos, vemos como Jesus aproxima as Escrituras da realidade da vida. O povo percebia que suas palavras não eram vazias (simples retórica), mas ensinava com autoridade, não como os doutores da lei (Mt 7,29).

O conteúdo do ensinamento de Jesus é profundamente comprometido com a vida e o futuro de seu povo. Ele escolhe no livro de Isaías o texto em que o profeta assume a missão de libertar os pobres, os presos, os oprimidos, de abrir os olhos dos cegos e anunciar o ano da remissão, em que as dívidas eram perdoadas e era dada uma nova oportunidade de refazer a vida com dignidade. Jesus assume esta missão e a atualiza em sua vida: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura” (Lc 4,21). Jesus coloca a palavra em ação, traduz a Escritura em atos e atitudes a favor da vida e dos mais vulneráveis, daí vem sua autoridade, como nos apresenta o Texto Base da CF 2022 (TB 149).

Jesus é um “mestre” que se coloca a serviço da vida do povo, um educador que abre os olhos, que leva a pensar de maneira crítica, relendo os acontecimentos, com novos olhos, sempre com misericórdia (TB 151). Jesus usa a Escritura como luz para discernir a falta de fé do povo de seu tempo. É o que ele deixa claro ao retomar a ação de Deus a favor da viúva estrangeira no tempo de Elias e a favor da cura do leproso, também estrangeiro, no tempo de Eliseu. Com visão clara, Jesus denuncia a falta de fé do povo da sinagoga de Nazaré. E mesmo com um ensinamento correto, fiel às Escrituras e de olhos abertos aos acontecimentos da história, Jesus foi rejeitado, expulso da cidade e ameaçado de morte, pelos seus irmãos de fé.

Porém, animado pelo Espírito, Jesus não perdeu o rumo ou a direção de seu projeto educativo-libertador: “passando no meio deles, continuou o seu caminho” (Lc 4,30). O conjunto dos Evangelhos nos revela que a pedagogia de Jesus liberta as diversas categorias de cativos: os pecadores (Lc 15,7-10), os cobradores de impostos (Lc 15,1-2; 19,7), os que são economicamente oprimidos (Lc 16,19-31), os possuídos pelos demônios (Lc 11,14), os doentes (Lc 13,10-17), os samaritanos (Lc 17,11-19) e os gentios (Lc 13,28-20)...

Educar um processo contínuo

A CF 2022 nos aponta a necessidade de um “modelo de educação que priorize o encorajamento ao aprendizado e à construção de conhecimentos significativos, que permitam a todos os atores do processo educativo abrirem-se à aprendizagem como tarefa que nos acompanha pela vida afora” (TB 112). Uma educação que não apenas garanta o acesso à escola, ao colégio, à faculdade, mas que esteja alinhada com a garantia de melhores condições de vida, pois sem a devida preparação para o exercício de uma profissão, cresce ainda mais o muro de separação entre ricos e pobres (TB 113). É preciso que o processo ensino-aprendizagem não seja apenas eficiente, mas que seja eficaz, de olhos abertos para a realidade unindo teoria e prática (TB 116). 

A pandemia também escancarou uma realidade de exclusão social quanto ao acesso às ferramentas digitais. As aulas podiam ser acompanhadas por meio de computadores, tablets e celulares, porém muitos não tinham acesso a essas ferramentas e outros, mesmo tendo os aparelhos, não tinham acesso à rede de internet com capacidade para participar das aulas. Importa lembrar que “as tecnologias podem muito, mas não podem tudo.” Quando ofertadas de maneira desigual, reforçam a exclusão que se espera superar (TB 118).

A valorização dos trabalhadores na educação é outro desafio a ser levado a serio. A polarização de opiniões se acirrou, aumentou a intolerância e desinibiu os violentos. Como resultado, há casos de agressões, abusos e violência dentro e fora da escola (TB 120). Somos chamados a trabalhar por uma educação que promova a vida em primeiro lugar, que resgate a dignidade da pessoa humana e eduque para a fraternidade e solidariedade, que valorize, em todos os sentidos os profissionais da educação. Onde também a escola se converta em uma comunidade sempre aberta a aprender. 

 Abrir-se à acolhida

Educar e educar-nos para acolher, abrindo-nos aos mais vulneráveis e marginalizados. Num mundo globalizado, a igualdade geral não foi alcançada, mas se acentuaram muitas formas de desequilíbrios sociais, econômicos e culturais. Ao lado dos cidadãos que obtêm os meios apropriados para o desenvolvimento pessoal e familiar, muitos são “não cidadãos”, “semi-cidadãos” ou “sobras urbanas”, excluídos (cf. Evangelii Gaudium, n. 74).

A educação deve, portanto, ajudar a viver o valor do respeito, deve ensinar “o amor capaz de aceitar todas as diferenças, a prioridade da dignidade de cada ser humano em relação a qualquer uma de suas ideias, sentimentos, práticas” (Fratelli Tutti 191). Jesus Cristo é o modelo maior de mestre e educador e nossa missão é sermos discípulos missionários educadores, continuadores de sua missão no mundo (TB 155). Neste sentido é muito feliz o refrão do hino da CF 2022: E quem fala com sabedoria, é aquele que ensina com amor. Sua vida em total maestria, é pra nós luz, caminho, vigor”.

A educação é um caminho para o exercício da caridade cristã, a serviço de uma sociedade mais fraterna e justa (TB 156). E, é na vivência comunitária, na construção de relações fraternas, na qual vamos nos educando, nos humanizando, na medida em que procuramos colocar em prática o que Jesus viveu e ensinou. Somos chamados a formar a pessoa humana em todas as suas dimensões, criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27), nossa missão é colaborar para que as pessoas sejam um retrato vivo de Deus na atualidade. E isto devemos começar a partir de nós mesmos e das pessoas que convivem conosco, cultivemos em nosso ser e agir o falar com sabedoria e ensinar com amor (cf. Pr 31,26).

Para aprofundamento: Nosso modo de ser, de agir e educar estão, cada vez, mais próximos ou distantes do jeito de Jesus? Por quê? Em que precisamos melhorar?

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