Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos – 2/11/2019
Leituras: Sb 3,1-9; Sl 24[25]; Rm 5,5-11; Jo 11,17-27
Destaque: “Eu sou a ressurreição e a vida.” [Jo 11,25]
Isto não significa absolutamente ignorar os sofrimentos experimentados no mundo ou minimizar as dores da existência, mas dá-lhes um novo sentido: são provações que purificam (v. 6) e preparam para a vida definitiva com Deus. Deus escolhe aqueles a quem deseja visitar (v. 9).
Por outro lado, as dificuldades e sofrimentos da existência não são inúteis. Ao contrário, diz Paulo, eles contribuem para que nós exercitemos a constância, uma capacidade de resistência ao mal que treina a virtude e se projeta na esperança.
O apóstolo vai mais longe: mostra nossa falta de mérito para a reconciliação realizada em nós: éramos pecadores quando Cristo deu sua vida por nós. Apesar de tudo, Deus derramou seu amor em nossos corações. Esta é a experiência fundadora que nos permite perseverar na fé. Desde já, estamos reconciliados com Deus.
O Evangelho de João não utiliza a palavra bios – a vida animal, biológica -, mas a palavra zoé – a vida eterna, vida do espírito, a vida que não está sujeita às intempéries e aos dissabores de cada dia. Para o pagão, um absurdo; para o cristão, a invencível fonte de esperança.
Na cena deste Evangelho, Jesus diz estas palavras logo antes de reanimar Lázaro, morto há quatro dias, e trazê-lo de volta à existência temporal. Essa demonstração sinaliza que de fato Jesus é Senhor da Vida, e que a própria morte está debaixo de seu domínio.
Não devemos confundir “reanimação” e “ressurreição”. Chamar por Lázaro e fazê-lo regressar vivo do sono da morte, como fez Jesus, isto é “reanimação”. Claro que, tendo voltado ao mundo dos vivos, Lázaro viveu por mais algum tempo e voltou a morrer. A morte é um traço típico de nossa condição humana neste planeta provisório. Podemos até adiá-la, mas não podemos suprimi-la.
Ao contrário, quando Jesus fala da “ressurreição”, ele se refere a uma realidade que transpõe os limites estreitos de nossa existência histórica. A “ressurreição da carne” – artigo do Símbolo dos Apóstolos, o Creio – ocorrerá na Segunda Vinda de Jesus Cristo, quando retornará “para julgar os vivos e os mortos”.
O apóstolo Paulo trata com detalhes sobre o tema da ressurreição na 1a Carta aos Coríntios, capítulo 15. A ressurreição de Cristo é o alicerce desta certeza: ele foi as “primícias” de uma colheita que nos incluirá no fim dos tempos. E trata-se de um ponto central de nossa fé cristã: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”. (1Cor 15, 14.) A ressurreição de Cristo é o penhor, a garantia de nossa própria ressurreição. Com base nas reflexões de Paulo, a liturgia de Finados, em um de seus Prefácios, afirma com segurança: “A vida não é tirada, mas transformada”. Vita mutatur, non tollitur.
Dirigindo-se a Marta, irmã de Lázaro, Jesus afirma categoricamente: “Eu sou a ressurreição e a vida”. É nele que começamos a vida eterna, inaugurada no momento de nosso Batismo. Nele, permaneceremos vivos além da morte, pois ela perdeu o seu ferrão (cf. 1Cor 15, 55) com a morte e ressurreição do Senhor.
Se a reanimação de Lázaro é o sinal evidente de que Jesus é o Senhor da vida, sabemos que há um número incontável de pessoas que experimentaram em sua existência pessoal a entrada em uma vida nova, que não se extinguirá com o tempo e se projeta muito além da morte, na eternidade. (ACS)