Denilson Mariano

A fé na ressurreição e nossa participação na ressurreição de Jesus, embora presentes no imaginário cristão, na compreensão de muitos, ainda parecem bastantes superficiais. Talvez uma breve explicitação destes elementos nos ajude a lidar melhor com o destino último de todos nós.

A fé diz respeito ao que cremos, ao que nos leva a um salto de confiança para além de nós mesmos. Neste sentido, a palavra crer indica não apenas a adesão intelectual a uma verdade ou a uma ideia. Crer vem de credere (cor + dare) que indica dar o coração. Crer em Deus é dar o coração a Deus, é confiar sem reservas. Por isso crer na ressurreição não é apenas saber que há vida após a morte, não é apenas aceitar que estamos no mundo de passagem, o que já seria muito... O ato de crer diz respeito a movimento que vai para além da razão, que envolve todo o nosso ser. A maioria dos dramas ligados à perda de entes queridos, sobretudo com os que já partiram na velhice, vem da dificuldade de crer na ressurreição. Por isso, quanto mais crescer nossa fé na ressurreição, maior será nossa capacidade de lidar com o desfecho da travessia humana no mundo.

Somos participantes da ressurreição de Jesus. Para bem entendermos, precisamos contemplar mais, e de forma mais profunda, os relatos da ressurreição do Senhor. Ele ressuscita de forma plena. Assim, ao mesmo tempo que entra nos lugares fechados, permite que seja visto, escuta e fala com os discípulos, se deixa tocar, caminha e come com eles... A ressurreição de Jesus nos revela algo da vida nova depois da morte. Revela a vitória sobre a dor, sobre a injustiça, a violência e o mal. Em tudo isso somos vencedores, pela ressurreição de Jesus que nos abriu a vida eterna. Quanto mais nos aproximamos deste mistério da ressurreição do Senhor, mais fortalecemos em nós a fé na nossa ressurreição. Mas não basta crer com a mente, com o intelecto, é preciso crer com todo o nosso ser, com o coração. Quem crê na vida e se empenha na defesa da vida, está no caminho da vida eterna junto de Deus.

Pe. Demerval Alves Botelho foi um apaixonado pela vida. Ele a viveu no serviço e doação ao Reino, consagrou-se à vida religiosa e serviu a Igreja por meio de seu ministério sacerdotal e seu zelo pelas vocações. Ele participa agora das alegrias eternas, participa da ressurreição do Senhor. Uma vida dedicada aos outros, uma vida ofertada no dia a dia a serviço do Evangelho. Jesus, depois de ressuscitado, se fez presente junto aos discípulos. Neste sentido,  podemos dizer que Pe. Demerval está mais presente que antes. Isso, se cremos de fato na nossa participação na vitória de Jesus. Pe. Dedé, como carinhosamente o chamamos, repetia sempre: “Vocação acertada, futuro feliz!” Cremos que ele acertou em sua vocação. Viveu feliz, fez outros felizes e agora participa da felicidade sem fim. Agora intercede a Deus por todos nós.

Setembro é mês da Bíblia e estamos às vésperas do Sínodo da Amazônia. Que o estudo e aprofundamento da 1ª Carta de João nos leve a distinguir bem os filhos da luz dos filhos das trevas. Os filhos da luz, na fidelidade a Jesus e seu Evangelho, buscam fazer a Igreja avançar para responder aos desafios de nosso tempo. Os filhos das trevas confundem o povo e criam situações embaraçosas que impedem a Igreja de se converter à prática de Jesus. João nos revela que as atitudes que brotam do amor verdadeiro, sincero e desinteressado, dão testemunho da luz. As ações dos filhos das trevas vêm carregadas de ódio, de posturas violentas e agressivas... E isso é prá começo de conversa.