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20/04/2020 Pe. Márcio Antônio Pacheco, SDN Edição 3923 Dom Miranda: 100 anos vivamente sacramentinos!
F/ Acervo Dom Miranda
"Parabéns Dom Miranda pelo seu centenário (18/04/2020), seu legado é e continuará sendo uma bênção de Deus para a Igreja."

 

Abril deste ano tem um significado muito especial para a nossa Revista O Lutador e para a Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento: Dom Antônio Affonso de Miranda, que por muitos anos foi diretor de O Lutador, primeiro Superior Geral e primeiro bispo dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, completa 100 anos de vida.

 

Os 100 anos do dileto filho do Pe. Júlio Maria

Caminhando sob as frondosas árvores da Praça Bias Fortes, em Mercês-MG, a manhã de Dom Miranda acende-se de uma luz especial nessa semana em que passou a se lembrar com mais acuidade dos cem anos de sua história, contada à nossa reportagem. Saúde boa, raciocínio lúcido, lógica linear, seu vigor físico é traído apenas pelo uso de uma bengala que lhe dá arrimo nos passos lentos, mas decididos. E seu bom humor não se desvanece, como nunca deixou de ser uma de suas marcas, da infância à feliz idade em que celebra o seu centenário.

 

O coroinha do padre Del Gáudio

Dom Miranda nasceu em São Caetano do Xopotó, hoje Cipotânea, em 14 de abril de 1920. Foi uma criança como as outras, arteiro, brincalhão. Mas em um aspecto se diferenciava delas. Seus pais, José Affonso dos Reis e dona Maria das Dores Miranda, eram pessoas muito religiosas e educaram seus filhos num clima de intensa religiosidade e devoção, especialmente a Nossa Senhora e ao Santíssimo Sacramento. A reza do terço em família era um hábito diário, e as missas aos domingos uma obrigação da qual não se descuidava. Em sua infância, o menino Toninho, desde muito pequeno, acompanhava a mãe às visitas ao Santíssimo na matriz de São Caetano. Aos sete anos já era coroinha do padre Alfredo Fernandes. Esses hábitos fizeram dele um menino piedoso e obediente.

Em 1929, Cipotânea ficava pequena para os negócios para o seu José Affonso, que resolveu mudar-se com a família para a cidade de Mercês, a mais ou menos setenta quilômetros dali. Em Mercês, a família logo se adaptou, seu Affonso montou sua loja, a Casa Affonso, que funciona até os dias de hoje, nos seus 90 anos de atividades no comércio. O pai prometera ao Toninho abrir-lhe um novo ponto de comércio para quando ele crescesse. Mas o menino não pensava em outra coisa que não fosse ser padre. Aliás, um dos seus irmãos, o Geraldo, entrou para o seminário por volta de 1930. Toninho queria seguir-lhe os passos. Até os seus 12 anos, quase treze, foi coroinha na igreja matriz de Nossa Senhora das Mercês, onde o pároco era o padre Francisco Del Gáudio.

No final de 1932, depois de um encontro com o frei Geraldo, sacramentino que andava pelas cidadezinhas mineiras vendendo assinaturas do jornal O Lutador, Toninho decidiu-se por entrar no Seminário Bom Jesus, de Manhumirim. Nem imaginava que um dia viria a ser o diretor do jornal de que o frade sacramentino fazia propaganda.

Em 1º de fevereiro de 1933 era recebido pelo padre Júlio Maria de Lombaerde, que fundara a sua Congregação cinco anos antes. Toninho foi, portanto, um dos pioneiros dos Sacramentinos.

 

O Frater Miranda chamava a atenção

Inteligente, aplicado nos estudos, piedoso e disciplinado, Antônio Miranda chamava a atenção do Fundador, o Pe. Júlio Maria, pelos seus dons e já pelo seu carisma sacramentino alimentado desde a tenra idade pela sua formação familiar. Desde muito cedo, Pe. Júlio Maria investia suas esperanças naquele menino, moldando seu caráter muito à sua própria imagem, fazendo dele uma promessa para a consolidação da comunidade sacramentina que fundara em 1928.

E foi o que aconteceu. O frater Miranda fez o seu noviciado em 1938, seus estudos de Filosofia e Teologia, estes em Belo Horizonte, tendo obtido notas 10 em todas as matérias durante os quatro anos de curso. Já nos seus estudos de Teologia no Seminário Coração Eucarístico, era apontado por alguns professores como um futuro bispo, que diziam isso com muita naturalidade e quase certeza.

Em dezembro de 1944, quando ele concluíra o seu terceiro ano de Teologia, uma tragédia abateu-se sobre os sacramentinos. Pe Júlio Maria, que centralizava em si toda a vida da sua Congregação, foi vítima fatal de um acidente exatamente na noite de Natal. A partir daí, a presença do frater Miranda passou a ser de suma importância dentro da comunidade sacramentina. Ordenou-se sacerdote em 1º de novembro de 1945 e no ano seguinte assumiu a reitoria do Seminário Bom Jesus.

 

Sua importância para os sacramentinos

Órfã do seu fundador, a Congregação Sacramentina viveu alguns anos de instabilidade, atribulada por certa tibieza e até mesmo indisciplina por parte de alguns fraters que não se sujeitavam com a devida obediência aos seus superiores. Durante oito anos a Congregação foi dirigida por um triunvirato nomeado pelo bispo de Caratinga, a quem os Sacramentinos tinham que se reportar.

Pe. Miranda exerceu um papel importante na condução da sua Congregação, buscando colocá-la nos trilhos não somente sob o aspecto disciplinar como canônico com a valiosa ajuda de outros dois, os padres Paschoal Rangel e Geraldo Silva se envolveram de tal forma para salvar a Congregação, que seus esforços foram reconhecidos pela Santa Sé. Embora muito jovem ainda, padre Antônio Miranda foi eleito o primeiro Superior Geral depois do Pe. Júlio Maria. Assim, em 14 de novembro de 1952, foi eleito Superior Geral, cargo que ocupou até 8 de janeiro de 1962.

 

O primeiro bispo sacramentino

Durante o paroquiato em Dores do Indaiá, Pe. Miranda conseguiu conciliar suas atividades com o curso de Direito na Universidade Federal do Espírito Santo, pela qual se formou advogado em 1969.

Em novembro de 1971 os boatos de um possível bispado para ele se confirmaram. Antes disso, seu nome já havia sido colocado à apreciação do clero diocesano para o episcopado, quando contava com apenas 34 anos, não tendo prosperada a possível indicação, possivelmente pela sua pouca idade. Dom Belchior Joaquim da Silva Neto, então bispo de Luz, resgatou o processo da poeira nas prateleiras da Nunciatura Apostólica, quando foi indicado o seu nome para ser o primeiro bispo sacramentino, tendo por destino a diocese de Lorena, no estado de São Paulo. Em 27 de dezembro daquele ano foi sagrado bispo em Mercês, e em 23 de janeiro de 1972 tomou posse em sua primeira diocese.

Em outubro de 1976 foi transferido para a diocese de Campanha-MG, onde tomou posse (6/01/1977), como bispo coadjutor com direito à sucessão de dom Othon Motta e administrador apostólico com plenos poderes em decorrência de doença degenerativa que vitimava o bispo titular. Enquanto bispo de Campanha, dom Miranda foi escolhido pela Santa Sé para ser um dos delegados brasileiros na Conferência Episcopal de Puebla, realizada no México no início de 1979, onde teve brilhante participação.

Em agosto de 1981 foi transferido para a diocese de Taubaté-SP, onde tomou posse em 20 de setembro. Dirigiu a diocese de São Francisco das Chagas de Taubaté até o dia 17 de agosto de 1996, quando passou o báculo diocesano a dom Carmo João Rhoden.

 

Um intelectual e operário pastoral

Dom Miranda é um intelectual muito respeitado no episcopado brasileiro. Autor de mais de quarenta livros sobre Teologia, Mariologia, catequese e até um de poemas, marcou sua passagem pelas três dioceses que dirigiu como um pastoralista, que soube delegar aos seus cleros, sob sua criteriosa, enérgica e paternal atenção, a composição de planos e diretrizes pastorais que movimentaram de maneira especial os leigos no trabalho de evangelização.

Em Lorena, foi o responsável pela criação da Comunidade Canção Nova, quando chamou o padre Jonas Abib para reunir os seus jovens na evangelização através dos meios de comunicação social, em atendimento aos apelos da exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, do papa Paulo VI.

É reconhecido pelos cleros diocesanos que dirigiu como um dedicado pastor e excelente administrador, politicamente um homem que se dedicou a “apagar vários incêndios” com muita sabedoria, conciliação, compaixão e, principalmente, paternal afeto que dedicava a seus padres e às pessoas leigas que se acercam dele, com as quais interage com extrema simplicidade e simpatia.

Hoje desfruta do convívio da família em Mercês, onde ainda preside celebrações e faz brilhantes homilias. Seus 100 anos de vida estão registrados no livro Dom Antônio Affonso de Miranda – Crônica do Menino que virou Bispo, de autoria de Henrique Faria, que será publicado pela Editora O Lutador.

Parabéns Dom Miranda pelo seu centenário (18/04/2020), seu legado é e continuará sendo uma bênção de Deus para a Igreja.

 

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