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19/10/2020 Ir. Dione Afonso, SDN Edição 3929 Equipes Missionárias em tempos de pandemia
F/ Pixabay - Sweetlouise
"Estamos no mês missionário, e ele pede que inovemos na forma de ser missionários. Convoca-nos para a missão nas estradas digitais."

Ir. Dione Afonso, SDN

dafonsohp@outlook.com

Há pouco tempo escrevi aqui exclusivamente para a Revista O Lutador sobre a Pastoral da Acolhida em tempos de pandemia. No artigo, lembrávamos da real necessidade de voltar à fonte da pastoral e buscar os verdadeiros fundamentos de uma equipe acolhedora. Pastoral da Acolhida nunca se referiu no estar à porta das comunidades e acolher bem o povo que chega. É isso também, mas vai muito além disso: as visitas, as ligações, o procurar saber se estão bem, também é missão acolhedora.

Em tempos de pandemia, a pastoral viu-se a, de fato, desgrudar-se das calçadas de suas comunidades e, a ir, de fato, exercer a missão que lhes compete: visitar. Agora que as celebrações dominicais restringiram sua participação e o rodízio de fieis passa a ser uma saída para o alimentar a fé e a Eucaristia, é função pioneira da Pastoral da Acolhida buscar meios pastorais concretos de continuar atingindo a todos os fieis da comunidade em suas buscas espirituais e de oração na comunidade de fé cristã.

Agora, estamos ingressando num mês chamado de Mês das Missões. A pandemia toca profundamente em outro grupo pastoral de nossas paróquias: as Equipes Missionárias. Aqueles agentes de pastoral, catequistas, membros das coordenações das pastorais que, no mínimo uma vez ao mês dedicavam uma parcela de sua atividade pastoral para ir ao encontro daquelas famílias que pouco tinham acesso à comunidade: idosos, acamados, gestantes, famílias vulneráveis, pobres, enfim..., cumprir com o chamado do Pai que nos pediu “vão e façam meus discípulos todos eles” [Mt 28,19].

 Partir “apressadamente” ao encontro do outro

Ser missionário nasce de uma espiritualidade particular. Implica movermo-nos por dentro e envolve a comunidade, pois faz-nos caminhar junto com o outro. A passagem do evangelho de Lucas, que coloca Maria partindo às pressas para a casa de Isabel, é iluminadora nesses aspectos. Maria deixa-se mover por dentro. Ela percebe algo em si mesma e que precisa ser comunicado a alguém. Depois, Maria vai para a casa de sua prima Isabel. Lá, a comunidade de fé está formada.

No caminho nós não precisamos seguir sozinhos. Se for assim, a equipe de missionários torna-se equipe de um só: uma “eu”-quipe. Isso não existe. Sair em missão é, de fato, desinstalar-se, deixar de ser o centro, é também deixar seu lugar, sua casa, sua família e ir ao encontro do outro, onde ele está, em sua casa, conhecer sua família. No entanto, a pandemia nos tirou esse movimento que nos faz muito bem.

Agora, é tempo de voltar às fontes de nossa espiritualidade missionária e aprender com Maria a “guardar todas as coisas no coração”. O mundo atual nos fornece outros caminhos de missão que precisamos abraçar com coragem e fé. Se a Equipe Missionária ficou impossibilitada de sair, é hora de repensar o gesto missionário. Como cada pastoral pode se encaixar na sua realidade atual? Já que missionários somos todos nós, representantes de pastoral, é hora de aplicar o que a missão nos ensinou no nosso trabalho na pastoral em que atuamos. Hoje, estamos imersos numa cultura digital que nos oferece uma gama de possibilidades e caminhos que faz com que a missão não pare.

O encontro virtual ou a conversa via whatsapp jamais substituirá a presença física. Na verdade, isso não pode acontecer. É fácil cairmos nessa acomodação. No entanto, a presença missionária nas Redes Sociais vai estreitando e aproximando-nos das famílias de nossas comunidades. Quantos catequistas não tiveram que readaptar seus encontros semanais para encontros virtuais através de videochamadas? Quantos missionários não tiveram que transferir suas formações pastorais para as lives do YouTube? Quantas famílias, tiveram que quebrar a timidez e usar mais o WhatsApp para não perderem o contato com os próprios vizinhos?

Tudo isso veio para facilitar o nosso trabalho pastoral. Estamos no mês missionário, e ele pede que inovemos na forma de ser missionários. Convoca-nos para a missão nas estradas digitais.

 A força da missão depende do leigo e da leiga

Em 2014, a Igreja do Brasil, por meio da CNBB, lançou o documento 100, Comunidade de comunidades, uma nova paróquia. Deixou claro que uma igreja missionária e uma paróquia renovada só se tornam possíveis pela valorização do leigo na vida cristã eclesial: “Quem participa da vida de sua paróquia tem vínculos comunitários. Há interesse e empenho em atrair os afastados. Nessas paróquias, os párocos e os cristãos engajados, homens e mulheres, desenvolvem uma pastoral de comunhão e participação”, afirma o número 30 sobre a conversão pastoral.

Citando o papa Francisco, diz o documento: “o grande desafio das paróquias é sair em missão, deixar de ocupar-se apenas com a rotina e com as mesmas pessoas que já estão na comunidade e sair ao encontro das pessoas. O papa Francisco exorta a vencer a mesmice: a pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: ‘fez-se sempre assim’. Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades”, (CNBB, Doc. 100, n. 31).

Uma bela experiência que podemos trazer aqui é a dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora. Uma congregação decididamente missionária que carrega no coração e nos pés as ações de Maria. Empenhados em organizar as comunidades paroquiais sempre levando em conta os dons do povo, os Sacramentinos formavam lideranças missionárias, despertavam seu protagonismo na evangelização, na catequese em suas paróquias e comunidades.

As equipes missionárias tornaram-se “marca carimbada” nas paróquias coordenadas pelos Missionários Sacramentinos. Um grupo de jovens, casais, adultos, idosos, pessoas de bem e cristãos com consciência crítica abraçaram a causa e foram incumbidos de anunciar a Palavra de Deus àquelas famílias que mais necessitavam. O objetivo único era esse: levar a Palavra. E esse “levar a Palavra” não significava simplesmente chegar na casa de alguém e abrir a bíblia. Era refletir a Boa Nova de Jesus no seu próprio estilo de vida, no seu modo de ser e de agir. Ou seja, o meu ser missionário devia refletir o ser de Jesus. Testemunhar com a vida a Palavra de Deus.

 Bem-vindos ao mês missionário

O documento 105 da CNBB, de 2016, Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade nos exorta a sermos cristãos “fermento, sal e luz”: assim como o fermento na massa, que sejamos na sociedade aquela força evangelizadora que, com a própria vida, consegue questionar estruturas e propor um estilo de sociedade mais pautada na vida para todos; assim como o sal que dá sabor aos alimentos, que sejamos leigos e leigas de voz atuante, forte e eficaz que, alimentada pela voz da Palavra Viva, faz-se Boa Nova que converte homens e mulheres a construir uma sociedade em harmonia com toda a Casa Comum; e, que, como a luz (da lanterna, da vela, do poste, do celular), sejamos essa inspiração que ilumina os caminhos e aponta novas perspectivas. A luz é silenciosa, e só é acesa se algo ou alguém a despertar. Que sejamos essa luz. Luz capaz de salvar a vida de quem corre perigo e indicar um caminho novo de salvação. Caminho que liberta.

Estamos no mês das missões. A igreja afirma “a vida é missão”. A minha, a sua, a nossa vida é missão. Os mesmos materiais, igual a todos os anos (pelo menos, para esse novo momento, penso que deveriam ter sido adaptados) foram preparados e disponibilizados a para todos nós (físico e digital). Cabe a nós abraçar o projeto e realizar a nossa missão de ser fermento, sal e luz.

Não pode visitar as famílias? Que ações as equipes missionárias poderão promover para se aproximar de suas famílias? Como podemos nos reorganizar para que a missão de anunciar a Palavra continue sendo realizada? O finalzinho do documento 105 nos indica alguns caminhos para que a promoção da vida humana e a construção de uma identidade possam ser assumidos por nós. “Há muitos outros mundos a serem iluminados e transformados pela ação cristã dos leigos e leigas como a força da juventude; a promoção da mulher; as escolas; a política... tudo numa Igreja em saída” (CNBB, Doc. 105, n.273).

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