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19/09/2023 Luis Miguel Modino - Regional Norte 1 Edição 3963 Fazer memória para uma leitura da trajetória da Igreja na Amazônia 50ª Assembleia do Regional Norte1 da CNBB
F/ L M Modino
"Dom Edson Damião, definiu a profecia como o Evangelho vivo de Jesus, que quando encarnado na realidade, ele denuncia as injustiças, a exploração das pessoas, a marginalização, a fome e a miséria, tão presentes aqui na Amazônia. [...] A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova do Evangelho."

A memória "não é uma simples lembrança, mas um passado que está presente hoje", segundo Dom Adolfo Zon, bispo da diocese do Alto Solimões e vice-presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que está realizando sua 50ª Assembleia Regional, de 18 a 21 de setembro, em Manaus, com a participação de mais de 80 pessoas. Uma memória que ajuda a recordar tantas coisas boas vividas no Regional, depois de um sentimento de compaixão dos bispos que os levou à ação, gerando processos que ajudam a superar uma pastoral de eventos.

Missões: instrumento prófético

A memória nos leva a fazer uma leitura da trajetória da Igreja na Amazônia. Uma história marcada pelo esforço de pessoas concretas, de alguns bispos, das congregações a quem foram confiadas as prelazias que iam sendo criadas, mas também de leigos, que sempre marcaram o rosto da Igreja na Amazônia. Vanthuy Neto, padre da diocese de Roraima, falou de uma história baseada em seis pontos, que ele mostrou como pano de fundo da atual organização eclesial: povos originários, abertura dos portos para o comércio exterior, os conflitos das fronteiras, a Igreja entre o padroado e a romanização, a presença protestante e as prelazias e Igrejas locais como novo caminho de evangelização.

As missões tornaram-se um instrumento profético na Amazônia, com grande preocupação com a escravidão dos indígenas, que em poucos anos passaram de maioria a minoria, como consequência da escravidão e das epidemias. O ciclo da borracha ajudou a ver a floresta não mais como um obstáculo, mas como um paraíso verde, uma fonte de riqueza, mudando o mundo da Amazônia. Uma época em que as fontes de riqueza provocavam guerras de fronteira, em um momento de grande influência da maçonaria e da chegada do mundo protestante. Época em que surgiu o chamado positivismo católico, que buscava trazer os habitantes da região, especialmente os indígenas, para o mundo da razão.

Em 1892, foi criada a diocese do Amazonas, e Manaus tornou-se um local de apoio às prelazias do interior. Pouco a pouco, intensificou-se o apelo para fomentar o clero local, o clero indígena, já que todos os missionários vinham de fora, principalmente da Europa. Aos poucos, a diocese do Amazonas foi se dividindo em novas dioceses e prelazias, uma Igreja de festas, de religiosidade popular, a ponto de "a procissão ser mais importante do que a missa", destaca o padre Vanthuy Neto.

Uma missão ligada à questão da fé, mas também ao progresso da região. Vieram para evangelizar, especialmente por meio do batismo e do matrimônio, e realizaram a missão de acordo com um tripé: escola, saúde e trabalho. Uma história que contribuiu para o nascimento do Regional Norte1 , que agora celebra sua 50ª Assembleia, em um tempo de comunhão, participação e missão, seguindo o caminho do Sínodo da Sinodalidade, que a Igreja está vivendo, em um tempo de encarnação na realidade e evangelização libertadora, linhas propostas para a Igreja da Amazônia pelo Documento de Santarém, em 1972, que deu muita luz ao planejamento pastoral das Igrejas particulares do Regional, segundo o padre Zenildo Lima, que relembrou os sucessivos encontros.

Sinergia com as propostas da Igreja

50 assembleias com grande sinergia com as propostas da Igreja universal, da América Latina e do Brasil. Uma vida de comunhão fomentada pela catequese, liturgia, formação de agentes de pastoral, pastoral vocacional, diálogo ecumênico, comunidades eclesiais e ministérios. Mais de 50 anos de evangelização libertadora, que se concretizou na relação entre as Igrejas particulares e as autoridades públicas, exigindo sua presença nas bases e no desenvolvimento humano. Uma Igreja com grande importância da animação missionária, dos leigos, especialmente das mulheres, que fundaram comunidades que hoje são paróquias e áreas missionárias na periferia de Manaus. Mulheres com uma presença fecunda, que marca o caminho. 

A Vida Religiosa teve um papel decisivo na história da região, assumindo as prelazias e se fazendo presente de muitas maneiras, abraçando os jovens, cuidando das vítimas de violência, tráfico e abuso sexual com a Rede Grito pela Vida, estando onde ninguém quer estar, enviada para amar e ser sinal da Boa Nova do Reino. Portanto, a Vida Religiosa pediu: “vamos somar o que temos em comum, diminuir as nossas diferenças, dividir e partilhar a vida e o pão e multiplicarmos o que nos fortalece na missão”.

50 assembleias que "demonstram uma Igreja que busca viver e levar o Evangelho", enfatizou o Cardeal Leonardo Steiner. Isso “numa Igreja que desejou profundamente se encarnar, com todas as suas dificuldades e contradições, mas procurou se encarnar”, segundo o arcebispo de Manaus, que insistiu em destacar o papel de “uma Igreja que sempre levou em conta as dificuldades”, destacando os frutos do caminho e pedindo que “nossa Igreja que está na Amazônia possa ajudar a perceber a presença do Reino de Deus, Jesus Ressuscitado, Crucificado, vida plenificada porque transformada na morte”.

Entre os desafios atuais o arcebispo de Manaus falou da devastação da Amazônia, mas também afirmou como um dos grandes passos dados, “que crescemos no espírito missionário, nós temos hoje uma presença maior dos leigos na frente da catequese, à frente das comunidades, lideranças, uma presença maior de religiosos e religiosas, a presença maior de igrejas particulares, a presença maior de bispos”. O cardeal destacou que “aquele primeiro desafio de chegar e começar a falar de Deus, a falar do Evangelho, esse a gente pode dizer que está superado, mas estamos sempre iniciando, o Evangelho é uma eterna novidade”.

Dom Edson Damião, definiu a profecia como o Evangelho vivo de Jesus, que quando encarnado na realidade, ele denuncia as injustiças, a exploração das pessoas, a marginalização, a fome e a miséria, tão presentes aqui na Amazônia. O bispo de uma diocese onde grande parte da população é indígena disse ter assumido um princípio desde que chegou lá: "A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova do Evangelho", destacando os valores dos povos originários, culturais e humanos, que o levam a dizer que o Espírito Santo chegou antes dos missionários.

Povos indígenas que, segundo Deolinda Melchior da Silva, líder do povo Macuxi, aprenderam com a Igreja regional, afirmando que “Deus olha para nós povos indígenas, com nossas culturas, com nossos direitos a terra”. Uma presença da Igreja que a líder indígena insiste em que lhes ajuda muito, denunciando a morte dos povos indígenas, como está acontecendo com os yanomami.

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