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04/01/2020 Antônio Carlos Santini Edição 3918 Fracasso do homem, vitória de Deus Para refletir...
F/ Brigitte Serenity Studio
"A história faz desfilar aos nossos olhos uma esplêndida procissão de fracassados"

 

 

Nunca me esqueço daquela parenta que me disse:

- Foi a melhor coisa que me aconteceu...

Na força de seus 25 anos, ela se envolvera em um acidente de estrada e veio a perder uma das pernas e metade da outra.

Natural, a frase choca e ficou bem gravada em minha mente. Com o passar dos anos, pude comprovar o sentido de seu desabafo. Os aparentes fracassos de nosso itinerário acabam por tornar-se a oportunidade de uma reviravolta em nossa vida e de nos projetar a horizontes insuspeitados.

Recentemente, relendo a autobiografia do conhecido pregador Inácio Larrañaga, ele confirma tudo isto: “Observando atentamente ao meu redor, jamais pude ver um ser humano que, nadando em riqueza, saúde ou prestígio, tivesse dado o salto mortal no mar de Deus e se tivesse convertido. Nenhum caso. Não sei do que se trata, porém é visível que o bem-estar fecha o homem em si mesmo, submete-o ao grilhão do egoísmo, conforme aquele instinto primário que se converte em uma das leis universais do coração: procurar o agradável e rejeitar o desagradável. Com o bem-estar, o homem tem tudo; não precisa de nada”.

Ora o homem é um nada, diz o pensador da Escritura. Enquanto ele se ilude com os brilharecos dos negócios, dos aplausos e das amizades duvidosas, continuará circulando em torno de seu próprio vazio. Não se espere deste iludido autossuficiente algum tipo de solidariedade, de altruísmo, de dedicação ao próximo.

A história faz desfilar aos nossos olhos uma esplêndida procissão de fracassados que encontraram o sentido da vida e o chamado à missão apenas depois de verem os sonhos reduzidos a pó. Francisco de Assis e Inácio de Loyola são dois casos exemplares.

No fundo do poço, o homem desperta para seu nada, despe-se do orgulho e da arrogância, pronto a deixar-se modelar. Nas palavras de Larrañaga, “depenado e impotente, o homem transforma-se em matéria-prima apta e maleável nas mãos de Deus. Agora que todas as suas seguranças falharam e os pilares de sustentação se transformaram em pó, a única segurança que o homem pode vislumbrar à sua volta é Deus”.

Curiosamente, as pessoas se dividem em dois grupos: aqueles que veem no fracasso apenas uma desgraça e aqueles que encontram no sofrimento a catapulta para um novo nascimento. Os primeiros, fechados em sua concha, se desesperam; os outros se abrem à graça de Deus e experimentam os primeiros passos de uma vida transfigurada.

A conclusão é que nosso Deus é um grande pedagogo. Ele sabe que mãos cheias não têm como agarrar os seus dons; assim, começa por esvaziá-las e nos reduz à condição de pedintes, agora dispostos a acolher os tesouros de seu amor.

Nossas perdas são oportunidades. Elas abrem espaço para uma vida livre e feliz. E, como dizia a minha jovem parenta:

- Eu estava mesmo andando depressa demais...

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