IV CONGRESSO VOCACIONAL: discernimento e sensibilidade
Na Casa da Mãe Aparecida o 4° Congresso Vocacional do Brasil segue dando continuidade aos trabalhos e oficinas. O segundo dia, [06/09] teve início com a celebração presidida por Dom João Francisco Salm, da diocese de Tubarão, SC e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada. Dom Salm em sua homilia, falou da importância da última Exortação Apostólica do papa Francisco, “Christus Vivit”, e acentuou a importância da Palavra de Deus no trabalho de discernimento.
Cristo Vive em nós
Entre o tema das vocações de agosto e o das missões de outubro, o mês da Bíblia apresenta a nós o tema do amor. Ao ler a bíblia ou quando alguém proclama a palavra, nós abrimos o coração porque é Deus quem fala. O desejo de Dom Salm é que “neste Congresso possamos abrir o nosso coração para Deus. Para ouvir a Deus. Nós só amamos porque Deus nos amou primeiro”. O grande anúncio para os jovens na Exortação é destacado pelo papa em três verdades que sempre deveriam ser anunciadas:
Nas leituras encontramos a confirmação da fala do papa Francisco. Os fariseus e mestres da lei não compreendiam o sinal do jejum. O jejum era sinal da ausência daquilo que se procura. Jesus, quando está presente, Ele nos ama e nos comunica seu amor. Aquele que descobre esse tesouro, encontra o tesouro da vida e compreende que nunca está só. E, por isso, vive a grande alegria.
Documento de Aparecida, 2007
Dom Salm também faz o resgate do ensinamento transmitido pela Conferência de Aparecida em 2007. O documento de Aparecida, confirma “que os primeiros discípulos de Jesus, acolheram o dom da fé pois nunca foram capazes de se esquecer do encontro verdadeiro que teve com Jesus”. No evangelho Jesus critica os costumes e práticas que não atendem mais aos apelos de hoje. E, fica também o apelo de Dom Salm, “como é difícil olhar para nós mesmos e não conseguir abandonar nossas estruturas ultrapassadas e não conseguimos sair do papel e ir para o meio do povo”.
O vinho velho é bom e saboroso da Palavra de Deus, este não pode ser deixado de lado. Com ele, é preciso compreender o que precisamos renovar em nossa missão e ações pastorais. Dom Salm conclui dizendo que “é preciso entender que Jesus quer, de cada jovem, antes de tudo, a sua amizade”.
O jovem e a linguagem atual
Depois de uma passada pela historia da Caminhada da Pastoral Vocacional explanada pelo Pe. Angelo Mezzari, rogacionista, o Pe. Amedeo Cencini ofereceu aos participantes uma rica orientação partindo do Sínodo dos jovens em 2018. Segundo Amadeo, “falar de jovem fragilizado é algo muito genérico e, na maioria das vezes, o fragilizado somos nós que não conseguimos acolher o jovem e sua história de vida, que não necessariamente é frágil, mas é a dele”.
Pe. Amedeo inicia dizendo que “os jovens, como um universo indecifrável ou como um enigma incompreensível, têm a capacidade de usar a linguagem do tempo atual. Na Exortação do papa é reiterado a revalorização dos jovens dentro da igreja”. Pe. Amedeo faz uma leve crítica sobre a expressão “sínodo dos jovens na igreja”, ou seria melhor dizer que se tratou mais de um “sínodo da igreja sobre os jovens? Pois parece que os que tiveram voz foram os jovens que estão na igreja ou, de fato, estiveram presentes no sínodo aqueles jovens que há muito não expressam sua fé dentro de uma comunidade reunida?”.
São os jovens que podem ajudar a igreja a permanecer jovem. Os jovens são símbolos de uma igreja que se renova. Os jovens modificam os protocolos postos que há tanto tempo não respondem ao que sentem. Segundo Pe. Amedeo quando se quebra os protocolos a riqueza da espontaneidade, do sentimento e da criatividade se revela, “e quem tem essa coragem são os jovens, pois eles não conseguem viver presos a uma regra que não confere com o que sentem”.
Voltando àqueles jovens que marcaram presença no sínodo, Pe. Amedeo acentua que “aqueles jovens não representavam jovens quaisquer. Eram jovens alinhados à mesma fé. Mas que tentaram falar pelos jovens que não partilham dessa fé. Minha pergunta é: será que conseguiram? Ao ler a Exortação conseguimos identificar a voz desses tantos jovens que não celebram e vivem a mesma fé que os que estavam presente e que a cada final de semana celebra a Eucaristia em comunidade?”.
Dar voz aos jovens que estão fora
Pe. Amedeo então ergue a voz, num sotaque italiano com um português compreensível afirmando que precisamos então voltar os nossos olhos para estas jovens que não encontraram espaço nas vozes do Sínodo. Estes estão entre nós e, na maioria das vezes estão longe, distante e, estão assim não porque querem, mas porque nós não conseguimos entender sobre suas vidas e sentimentos. Pe. Amadeo acentua três aspectos que carece de nosso discernimento:
Por fim o terceiro lugar:
A geração digital
Hoje vivemos o momento do advento digital. O mundo se transformou com o surgimento da internet. Vivemos um mundo social que sofre a angústia da mesclagem do privado com o público, o que é pessoal perde sua característica ao ser publicado na espera pública. Pe. Amedeo Cencini toca no assunto da geração digital. Diz ele que “o problema da geração digital é o fraco nível da consciência. O nível de consciência digital é muito baixo, pois impede o jovem de fazer o uso de sua própria consciência”.
Nessa sociedade digital convivemos com os ditos, “nativos digitais", são “Os que nasceram junto com a interne. Estão, podemos, assim dizer que “totalmente inseridos entre no universo digital”. Um segundo grupo é o dos “imigrantes digitais”, são aqueles que já com uma consciência formada, “são jogados nessa nova configuração social digital. Imigra. Lara a internet, caem no perigo da relação de dependência que resulta na perda progressiva de identidade”.
Essa geração digital é marcada e, de certa forma fisgada por quatro fortes elementos: rapidez, imediatismo, superficialidade, simbioticidade. Segundo Cencini, “o jovem que vive na situação da geração digital, corre o risco de viver numa comunidade virtual. E por isso desloca-se cada vez mais para fora sem que a pessoa perceba o deslizamento”, Cencini continua dizendo que é como se “a consciência do jovem fosse pega por um julgamento e este desloca-o cada vez mais para fora. Ocorre quase que uma evasão”.
A lógica da internet não inclui reflexão, comparação, aprofundamento e processos de fundamentos do sujeito. O jovem, ou seja, esse sujeito é convidado a não pensar. Portando, ele delega o pensamento a essa realidade externa e virtual. Desse modo, diz Cencini, “cria-se uma espécie de inconsciência pessoal e também coletiva. E nada tem a ver como uma consciência entendida e nem cristã. O sujeito vive numa comunidade virtual do qual se reconhece como membro e retém como pertença a autoridade.
Pe. Amedeo Cencini não deixou de dizer que a internet tem o seu lado positivo, “por outro lado traz suas oportunidades: a comunicação em rede, o contato além-fronteiras, o conhecimento amplo e cada vez mais personalizado, a coletividade, o aproximar laços”.
Discernimento e sensibilidade
O discernimento é uma arte que se aprende com a ajuda de um irmão mais velho na fé e no discipulado. E ele transmite essa arte. Não é uma metodologia pura. Mas faz parte da sensibilidade e consciência. O último ponto da fala do Pe. Amedeo Cencini diz respeito à consciência de cada jovem, e ele diz que numa pedagogia do discernimento vocacional “a consciência do jovem é para nós o ponto fraco, mas também estratégico, pois trata-se de uma consciência que corre o risco de ser desapropriada”. E, portanto a abordagem parte ou deve partir de uma perspectiva particular. E, segundo Amedeo “é preciso que seja uma abordagem mediadora e sensível permitindo que o jovem possa, de fato, reconhecer-se chamado”
De acordo com a perspectiva psicológica, a consciência é uma expressão da nossa sensibilidade. Se ela, de fato, indica o estado de vigilância, portanto, ela tem a capacidade de julgar a realidade dentro e fora de nós. Cencini diz que “a sensibilidade é aquela orientação emocional, intelectual e decisória do sujeito”.
Cada um de nós encontra em si uma sensibilidade já presente, conseguida e feita. E, que constantemente é formada. Como se forma a sensibilidade? Questiona-nos Pe. Amedeo, e ele diz que “a sensibilidade se forma e se é formada em cada um de nós através de nossas escolhas. Essas escolhas nos dão orientação”, continua dizendo que “os elementos constitutivos da sensibilidade compreendem: os sentidos externos, os sentidos internos, sensações, emoções, sentimentos, afetos, simpatias, gostos, desejos, critérios seletivos, expectativas, juízos, paixões”. Portanto, afirma Pe. Amedeo que “ser santo significa ter uma sensibilidade específica”.
“Os nossos processos formativos não dão atenção à sensibilidade. Todos somos responsáveis por nossa sensibilidade”, continua Pe. Amedeo. “Cada um tem a sensibilidade que merece e, que construiu dia a pós dia, escolha por escolha”. É com a sensibilidade que chegamos a sentir Deus. E, nesse sentido, conclui Pe. Amedeo “a Animação Vocacional deve ser sempre universal. Pastoral Vocacional é para todos e não para os que achamos que têm vocação. Aqueles escolhidos a dedo por nós. Todos têm vocação, nós que não temos sensibilidade para enxergar”.
Texto de Fr. Dione Afonso