Entrevistas Vocacional
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07/09/2019 Frt. Dione Afonso, SDN Edição IV CONGRESSO VOCACIONAL: discernimento e sensibilidade
F/Dione Afonso
"São os jovens que podem ajudar a igreja a permanecer jovem. Os jovens são símbolos de uma igreja que se renova. Os jovens modificam os protocolos postos que há tanto tempo não respondem ao que sentem. Segundo Pe. Amedeo quando se quebra os protocolos a riqueza da espontaneidade, do sentimento e da criatividade se revela, “e quem tem essa coragem são os jovens, pois eles não conseguem viver presos a uma regra que não confere com o que sentem”."

IV CONGRESSO VOCACIONAL: discernimento e sensibilidade

 

Na Casa da Mãe Aparecida o 4° Congresso Vocacional do Brasil segue dando continuidade aos trabalhos e oficinas. O segundo dia, [06/09] teve início com a celebração presidida por Dom João Francisco Salm, da diocese de Tubarão, SC e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada. Dom Salm em sua homilia, falou da importância da última Exortação Apostólica do papa Francisco, “Christus Vivit”,  e acentuou a importância da Palavra de Deus no trabalho de discernimento.

 

Cristo Vive em nós

Entre o tema das vocações de agosto e o das missões de outubro, o mês da Bíblia apresenta a nós o tema do amor. Ao ler a bíblia ou quando alguém proclama a palavra, nós abrimos o coração porque é Deus quem fala. O desejo de Dom Salm é que “neste Congresso possamos abrir o nosso coração para Deus. Para ouvir a Deus. Nós só amamos porque Deus nos amou primeiro”. O grande anúncio para os jovens na Exortação é destacado pelo papa em três verdades que sempre deveriam ser anunciadas:

  1. Deus te ama: nunca duvides. Em qualquer circunstância é infinitamente amado por Deus;
  2. Cristo te salva: por amor Ele entregou tudo o que tinha para te salvar. A imagem de um bom amigo ele fez tudo para estar ao teu lado.
  3. Ele vive: é preciso sempre recordar com frequência. Pois Jesus não é alguém do passado, que está em nossa memória. Mas ele nos cura, nos conforta, nos ama, é o Cristo ressuscitado cheio de vida e que nos faz viver.

Nas leituras encontramos a confirmação da fala do papa Francisco. Os fariseus e mestres da lei não compreendiam o sinal do jejum. O jejum era sinal da ausência daquilo que se procura. Jesus, quando está presente,  Ele nos ama e nos comunica seu amor. Aquele que descobre esse tesouro, encontra o tesouro da vida e compreende que nunca está só. E, por isso, vive a grande alegria.

 

Documento de Aparecida, 2007

Dom Salm também faz o resgate do ensinamento transmitido pela Conferência de Aparecida em 2007. O documento de Aparecida, confirma “que os primeiros discípulos de Jesus, acolheram o dom da fé pois nunca foram capazes de se esquecer do encontro verdadeiro que teve com Jesus”. No evangelho Jesus critica os costumes e práticas que não atendem mais aos apelos de hoje. E, fica também o apelo de Dom Salm, “como é difícil olhar para nós mesmos e não conseguir abandonar nossas estruturas ultrapassadas e não conseguimos sair do papel e ir para o meio do povo”.

O vinho velho é bom e saboroso da Palavra de Deus, este  não pode ser deixado de lado. Com ele, é preciso compreender o que precisamos renovar em nossa missão e ações pastorais. Dom Salm conclui dizendo que “é preciso entender que Jesus quer, de cada jovem, antes de tudo, a sua amizade”.

 

O jovem e a linguagem atual

Depois de uma passada pela historia da Caminhada da Pastoral Vocacional explanada pelo Pe. Angelo Mezzari, rogacionista, o Pe. Amedeo Cencini ofereceu aos participantes uma rica orientação partindo do Sínodo dos jovens em 2018. Segundo Amadeo, “falar de jovem fragilizado é algo muito genérico e, na maioria das vezes, o fragilizado somos nós que não conseguimos acolher o jovem e sua história de vida, que não necessariamente é frágil, mas é a dele”.

Pe. Amedeo inicia dizendo que “os jovens, como um universo indecifrável ou como um enigma incompreensível, têm a capacidade de usar a linguagem do tempo atual. Na Exortação do papa é reiterado a revalorização dos jovens dentro da igreja”. Pe. Amedeo faz uma leve crítica sobre a expressão “sínodo dos jovens na igreja”, ou seria melhor dizer que se tratou mais de um “sínodo da igreja sobre os jovens? Pois parece que os que tiveram voz foram os jovens que estão na igreja ou, de fato, estiveram presentes no sínodo aqueles jovens que há muito não expressam sua fé dentro de uma comunidade reunida?”.

São os jovens que podem ajudar a igreja a permanecer jovem. Os jovens são símbolos de uma igreja que se renova. Os jovens modificam os protocolos postos que há tanto tempo não respondem ao que sentem. Segundo Pe. Amedeo quando se quebra os protocolos a riqueza da espontaneidade, do sentimento e da criatividade se revela, “e quem tem essa coragem são os jovens, pois eles não conseguem viver presos a uma regra que não confere com o que sentem”.

Voltando àqueles jovens que marcaram presença no sínodo, Pe. Amedeo acentua que “aqueles jovens não representavam jovens quaisquer. Eram jovens alinhados à mesma fé. Mas que tentaram falar pelos jovens que não partilham dessa fé. Minha pergunta é: será que conseguiram? Ao ler a Exortação conseguimos identificar a voz desses tantos jovens que não celebram e vivem a mesma fé que os que estavam presente e que a cada final de semana celebra a Eucaristia em comunidade?”.

 

Dar voz aos jovens que estão fora

Pe. Amedeo então ergue a voz, num sotaque italiano com um português compreensível afirmando que precisamos então voltar os nossos olhos para estas jovens que não encontraram espaço nas vozes do Sínodo. Estes estão entre nós e, na maioria das vezes estão longe, distante e, estão assim não porque querem, mas porque nós não conseguimos entender sobre suas vidas e sentimentos. Pe. Amadeo acentua três aspectos que carece de nosso discernimento:

 

  1. Existe um lugar psicológico, que “compreende o jovem como um termômetro de mudança. Os jovens são a parte dos seres vivos que mais desejam preencher a sua vida de valor. A juventude é um lugar psicológico dessa busca de sentido de vida, de lugar e de beleza. É por isso que para a juventude não pode faltar a capacidade de sonhar juntos. Cada geração é jovem à sua maneira, e nenhuma se repete. Em essência, os jovens são o meio pelo qual a sociedade experimenta o mundo em mudança e responde aos desafios dessa mudança. São os jovens que sinalizam que o mundo muda, e muda todos os dias. E são eles que nos questionam quando não acompanhamos a mudança. É  necessário que o mundo adulto não se enrijeça ou abandone o jovem em sua busca., mas é  preciso acompanhar os jovens em seus desejos e potencialidades. O jovem é potencialidade e precisamos entende-la antes de julga-la”;

 

  1. Reconhecemos também o lugar teológico, “que compreende o jovem como novidade é jovialidade da fé. A fé não pode ser simplesmente repetida, transmitida, conservada, mas, ela é sempre nova. A fé não é algo precisamente preservado e transmitido. Ela é uma experiência nova e que não se repete. Deus não se repete. Cada cultura, no progresso, nos próprios sofrimentos, nas questões de inquietudes, na sensibilidade do homem, no coração humano sedento de amor, mas ao mesmo tempo, na sede de busca, Deus é presença e novidade. Mesmo parecendo abandonar o homem, sobretudo quando busca, Deus se esconde e se revela no sussurro de uma brisa leve, mas sempre de maneira nova e presencial. Assim como não há uma geração igual a outra também não há uma única forma de crer sempre com as mesmas motivações, e com as mesmas atitudes. É sempre o mesmo Deus, mas a relação é estabelecida inevitavelmente nova. O homem deve a cada dia acolher Deus em sua novidade, sempre. O Deus de ontem é o ídolo de hoje, pois hoje Deus se revela diferente de ontem, Ele se revela de maneira nova. Esse Deus convida o homem a segui-lo numa caminhada. Não é o homem que faz uma experiência de Deus. Mas é Deus que faz a experiência do homem. A geração juvenil é, por sua própria natureza, a mais exposta por essa novidade. O jovem de hoje sente a necessidade de uma nova maneira de crer. Sempre abraça uma nova busca. Uma busca saudável se for feita em conjunto e em diálogo com a geração que o precedeu”;

Por fim o terceiro lugar:

  1. O lugar sociológico que indica “o fim do cristianismo convencional. O jovem põe fim a um cristianismo sociológico, aquele transmitido de geração para geração. Estamos diante de uma crise desse cristianismo de geração. Por isso, classificamos essa geração jovem de 'geração incrédula', que vive tranquilamente sem fé. Os efeitos não são tão negativos, pois teremos um cristianismo por opção, por escolha pessoal, e um cristianismo por minoria, isso é óbvio. Chegaremos à fé pela conversão e pela opção pessoal e não pela convenção social, mas por uma convicção pessoal. A transmissão da fé não é mais transmitida por um sistema de conservação, mas por experiência pessoal, e aqui nasce a importância de pequenas comunidades eclesiais, pois nesse processo de discernimento é a comunidade reunida que orienta o jovem. Cristianismo por opção significa cristianismo por discernimento. Assim, como dizia Tertuliano, 'não se nasce cristão, torna-se'"... Ser cristão não é mais percebido como necessário para se viver bem a vida. No entanto, o mundo e o cristianismo que está diante de nós não é pior do que o que está atrás de nós. A atual geração arrisca ser uma geração incrédula por não encontrar adultos capazes de os acompanhar ou por não encontrar quem valorize seus questionamentos e testemunhos com a verdade”.

 

A geração digital

Hoje vivemos o momento do advento digital. O mundo se transformou com o surgimento da internet. Vivemos um mundo social que sofre a angústia da mesclagem do privado com o público, o que é pessoal perde sua característica ao ser publicado na espera pública. Pe. Amedeo Cencini toca no assunto da geração digital. Diz ele que “o problema da geração digital é o fraco nível da consciência. O nível de consciência digital é muito baixo, pois impede o jovem de fazer o uso de sua própria  consciência”.

Nessa sociedade digital convivemos com os ditos, “nativos digitais", são “Os que nasceram junto com a interne. Estão, podemos, assim dizer que “totalmente inseridos entre no universo digital”. Um segundo grupo é o dos “imigrantes digitais”, são aqueles que já com uma consciência formada, “são jogados nessa nova configuração social digital. Imigra. Lara a internet, caem no perigo da relação de dependência que resulta na perda progressiva de identidade”.

Essa geração digital é marcada e, de certa forma fisgada por quatro fortes elementos: rapidez, imediatismo, superficialidade, simbioticidade. Segundo Cencini, “o jovem que vive na situação da geração digital, corre o risco de viver numa comunidade virtual. E por isso desloca-se cada vez mais para fora sem que a pessoa perceba o deslizamento”, Cencini continua dizendo que é como se “a consciência do jovem fosse pega por um julgamento e este desloca-o cada vez mais para fora. Ocorre quase que uma evasão”.

A lógica da internet não inclui reflexão, comparação, aprofundamento e processos de fundamentos do sujeito. O jovem, ou seja, esse sujeito é convidado a não pensar. Portando, ele delega o pensamento a essa realidade externa e virtual. Desse modo, diz Cencini, “cria-se uma espécie de inconsciência pessoal e também coletiva. E nada tem a ver como uma consciência entendida e nem cristã. O sujeito vive numa comunidade virtual do qual se reconhece como membro e retém como pertença a autoridade.

Pe. Amedeo Cencini não deixou de dizer que a internet tem o seu lado positivo, “por outro lado traz suas oportunidades: a comunicação em rede, o contato além-fronteiras, o conhecimento amplo e cada vez mais personalizado, a coletividade, o aproximar laços”.

 

Discernimento e sensibilidade

 O discernimento é uma arte que se aprende com a ajuda de um irmão mais velho na fé e no discipulado. E ele transmite essa arte. Não é uma metodologia pura. Mas faz parte da sensibilidade e consciência. O último ponto da fala do Pe. Amedeo Cencini diz respeito à consciência de cada jovem, e ele diz que numa pedagogia do discernimento vocacional “a consciência do jovem é para nós o ponto fraco, mas também estratégico, pois trata-se de uma consciência que corre o risco de ser desapropriada”. E, portanto a abordagem parte ou deve partir de uma perspectiva particular. E, segundo Amedeo “é preciso que seja uma abordagem mediadora e sensível permitindo que o jovem possa, de fato, reconhecer-se chamado”

De acordo com a perspectiva psicológica, a consciência é uma expressão da nossa sensibilidade. Se ela, de fato, indica o estado de vigilância, portanto, ela tem a capacidade de julgar a realidade dentro e fora de nós. Cencini diz que “a sensibilidade é aquela orientação emocional, intelectual e decisória do sujeito”.

Cada um de nós encontra em si uma sensibilidade já presente, conseguida e feita. E, que constantemente  é formada. Como se forma a sensibilidade? Questiona-nos Pe. Amedeo, e ele diz que “a sensibilidade se forma e se é formada em cada um de nós através de nossas escolhas. Essas escolhas nos dão orientação”, continua dizendo que “os elementos constitutivos da sensibilidade compreendem: os sentidos externos, os sentidos internos, sensações, emoções, sentimentos, afetos, simpatias, gostos, desejos, critérios seletivos, expectativas, juízos, paixões”. Portanto, afirma Pe. Amedeo que “ser santo significa ter uma sensibilidade específica”.

“Os nossos processos formativos não dão atenção à sensibilidade. Todos somos responsáveis por nossa sensibilidade”, continua Pe. Amedeo. “Cada um tem a sensibilidade que merece e, que construiu dia a pós dia, escolha por escolha”. É com a sensibilidade que chegamos a sentir Deus. E, nesse sentido, conclui Pe. Amedeo “a Animação Vocacional deve ser sempre universal. Pastoral Vocacional é para todos e não para os que achamos que têm vocação. Aqueles escolhidos a dedo por nós. Todos têm vocação, nós que não temos sensibilidade para enxergar”.

 

Texto de Fr. Dione Afonso

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