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26/08/2023 Dom Edson Oriolo - Bispo de Leopoldina Edição 3962 Lançai as redes em águas mais profundas PROFISSIONALIZAR PARA AVANÇAR NA EVANGELIZAÇÃO I
F/ Pixabay
"O problema do ‘como evangelizar’ apresenta-se sempre atual, porque as maneiras de o fazer variam em conformidade com as diversas circunstâncias de tempo, lugar e de cultura e, por isso mesmo, lançam, de certo modo, um desafio a nossa capacidade de descobrir e adaptar."

A Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, ensina que a Igreja é mistério. Ela não tem origem sociológica ou cultural e, “para perscrutar este mistério, convém meditar primeiro sobre sua origem no desígnio salvífico da Santíssima Trindade e sua realização progressiva no curso da história” (CIC, §758). A Igreja foi sendo revelada progressivamente na História da Salvação e como afirmou Hermas: “O mundo foi criado em vista da Igreja” (Hermas, Pastor 8, 1 - Visio 2,4,1).

Tornar presente o Reinado de Cristo

O mistério da Encarnação do Verbo, na plenitude dos tempos, dá pleno cumprimento ao desígnio salvífico da Trindade. Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou o Reino de Deus. A Igreja “é o Reino de Cristo já misteriosamente presente” (LG 3: AAS 57 - 1965). Cumprida a missão do Filho e instituída a Igreja de seu “lado aberto na Cruz”, ela é capacitada para continuar na história humana a obra de salvação, por meio da ação do Espírito Santo, até sua consumação escatológica.

Assim, a Igreja – Una, Santa, Católica e Apostólica – é, ao mesmo tempo, sobrenatural (mistério) e visível (instituição). No decorrer da história, muitos teólogos questionaram sobre a relação existente entre as realidades da Igreja sobrenatural, nascida nas relações intratrinitárias e da Igreja enquanto instituição, dotada de hierarquia, tradição e de um estatuto legal.

Para os padres do Concílio Vaticano II, a Igreja institucional ou peregrina é sacramento da Igreja sobrenatural. Não há substituição, tampouco negação de uma pela outra, que, na verdade, são expressões de uma única realidade. Assim, de acordo com a definição eclesiológica clássica: A Igreja é sacramento do Reino de Deus.

Continuar a missão de Jesus: evangelizar

Tais conclusões evidenciam a sintonia entre a Igreja, organizada como instituição, e o desígnio salvífico de Deus. A instituição eclesial (Igreja Católica Apostólica Romana), com toda a sua hierarquia, conjunto de normas e estruturas, existe em função da continuidade da missão salvífica de Jesus. Os responsáveis por essa continuidade, capacitados pelo Espírito Santo, são os apóstolos, sucedidos por gerações infindáveis de “dispensadores da graça de Deus” até os nossos dias.

Destarte, a missão da Igreja é evangelizar. A Igreja sempre procurou ser fiel ao anúncio da Boa-Nova, segundo a ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15), assim como sempre se preocupou em responder a essa nobilíssima vocação de ser portadora da Boa- Nova e sacramento universal de salvação (cf. LG 48).

A Igreja assume o mandato missionário de Jesus – “Ide” – e ela anuncia a Boa-Nova da dignidade humana (cf. DAp 104-105), da vida (cf. DAp 106-113), da família (cf DAp 114-119), da atividade humana: trabalho, ciência, tecnologia (cf DAp 120-124), do destino universal dos bens e da ecologia (cf DAp 125-126), do continente da esperança e do amor (cf DAp 127-128), nas cidades.

No entanto, a Igreja é convidada a anunciar o Evangelho, com discernimento e ousadia, cumprindo sua missão nos “areópagos” do nosso tempo. Uma Igreja em saída será, necessariamente, uma comunidade eclesial missionária que dialoga com as expressões características de nosso tempo.

Inculturar o Evangelho

O Papa Francisco afirma: “Há uma necessidade imperiosa de evangelizar as culturas para inculturar o evangelho” (EG 69). “A pastoral da Igreja não pode prescindir do contexto histórico onde vivem seus membros. Sua vida acontece em contextos socioculturais bem concretos” (DAp 267).

Nunca será possível haver evangelização sem ação do Espírito Santo. É um fato que o Espírito Santo de Deus tem um lugar eminente em toda a vida da Igreja, mas, é na missão evangelizadora da mesma Igreja que Ele mais age (Cf. EN 75). “As técnicas da evangelização são boas, obviamente; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem Ele. De igual modo, a dialética mais convincente, sem Ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E ainda os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de valor” (EN 75).

“A crise de paradigmas que caracteriza o tempo presente indica que o momento é novo e intrigante, exigindo o repensar da evangelização. Diante destas mudanças profundas e rápidas que caracterizam a sociedade de hoje, o agente de evangelização deve se esforçar para compreender e enfrentar as grandes questões desencadeadas por esta realidade que naturalmente afeta a sua ação pastoral” (Di Flora, M.C. O novo tempo, os novos atores sociais e a nova evangelização, p. 44).

A importância da evangelização não se deve levar a descuidar das vias. O problema do ‘como evangelizar’ apresenta-se sempre atual, porque as maneiras de o fazer variam em conformidade com as diversas circunstâncias de tempo, lugar e de cultura e, por isso mesmo, lançam, de certo modo, um desafio a nossa capacidade de descobrir e adaptar” (cf. EN 40).

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