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24/06/2019 Guérric d’Igny Edição 3911 Lutar com Deus
f/ ellenwhite.info
"Não há perigo para vós, irmãos. Não existe risco quando ele se mostra forte contra vós, ele que, por vós, quis fazer-se fraco até a morte!"

Lutar com Deus

Guérric d’Igny

 

Diante de Deus, o patriarca Jacó não foi um desses violentos de que nos fala o Cristo? Lutador intrépido, ele se mostrou “forte contra Deus e o venceu” (Gn 32,29), como atesta a Escritura. Ele lutou com Deus até o amanhecer; ele segurou com força e obstinação aquele que lhe pedia para soltá-lo: “Eu não te soltarei, diz ele, até que me tenhas abençoado!” (Gn 32,26.)

Eu afirmo que ele lutou com Deus, pois Deus se encontrava no anjo com quem ele lutava. De outra forma, o anjo não lhe teria dito: “Por que me perguntas meu nome? Ele é misterioso!” E o próprio Jacó teria declarado: “Eu vi o Senhor face a face?” (Gn 32,30.)

Salutar violência que lhe arrancou a bênção! Feliz luta em que Deus se dobrou diante do homem, onde o vencido faz ao vencedor o dom da graça de uma bênção e o honrou com um nome mais santo! Que importa se, tocando-lhe a coxa, ele deixou manco o seu adversário? Prejuízo corporal que se suporta facilmente, prejuízo do qual a gente se consola sem dificuldade quando ele é compensado por tão grande benefício!

Irmão, tu não tens a impressão de lutar com o anjo ou, melhor dizendo, de lutar com o próprio Deus quando, a cada dia, ele se interpõe a teus desejos mais ardentes? Gritas para ele, e ele não te escuta! Queres aproximar-te dele, e ele te rejeita! Decides alguma coisa, e ele faz acontecer o contrário! Assim, em quase todos os teus planos, ele te combate com mão pesada.

Ó Senhor, clemência disfarçada, que simulas a dureza, com quanta ternura tu combates por aquele a quem combates! Gostas de “escondê-lo em teu coração” (Jó 10,13), “eu bem sei que amas aqueles que te amam”. (Pr 8,17.) Sem limites é “a abundância da bondade que reservas para aqueles que te temem”. (Sl 31,20.)

Então, irmão, não te desesperes; age corajosamente, tu que começaste a lutar com Deus! Para dizer a verdade, ele aprecia que lhe faças violência; ele deseja que tu o venças. Mesmo quando está irritado e estende o braço para golpear, ele procura, como ele mesmo confessa, um homem semelhante a Moisés que saiba resistir a ele. E se não o encontra, ele se lamenta e diz: “Não há ninguém para se erguer e me deter!” (Is 64,6 Vulgata.)

Não há perigo para vós, irmãos. Não existe risco quando ele se mostra forte contra vós, ele que, por vós, quis fazer-se fraco até a morte!

 

 

GUÉRRIC D’IGNY [1078-1157] nasceu em Tournai, Bélgica. Entrou para a abadia de Claraval em 1125, onde foi formado por São Bernardo. Este o enviou para a abadia de Igny, perto de Reims, onde se tornou abade em 1138. Dele foram conservados 54 sermões sobre o ano litúrgico, excelente amostra da produção cisterciense, refletindo o fervor que animava as primeiras comunidades da Ordem de Citeaux. Entre os discípulos de São Bernardo, ele talvez seja o mais próximo em sua maneira de interiorizar os mistérios de Cristo em uma relação pessoal com Jesus. O trecho acima foi extraído do 2º sermão para a Natividade de São João Batista.

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