MAR (6)
Se a água é símbolo da vida na Sagrada Escritura, a água profunda e o mar evocam o abismo da morte, as profundezas onde a vida se torna impossível. É no mar que habitam os monstros como o Behemot e o Leviatã (cf. Jó 40,15.25), figuras das forças primitivas que se opõem ao bem.
No Livro do Apocalipse, a visão do apóstolo João fala de “um novo céu e uma nova terra”, mas não há qualquer referência a um “novo mar”, pois já não haverá espaço para o mal. “O mar já não existe.” (Ap 21,1)
Lançado ao mar pelos marinheiros, o profeta Jonas, recalcitrante diante da missão que o Senhor lhe impusera, é engolido por um grande peixe e clama: “Lançaste-me nas profundezas, no seio dos mares, e a torrente me cercou... As águas me envolveram até o pescoço, o oceano primitivo cercou-me... Mas tu fizeste subir da fossa a minha vida.” (Jn 3,4.6a.7b) O mar é o reino da morte, inimigo de Deus desde a origem (BJ).
No Antigo Testamento, apenas de forma pontual o homem recebe poder para enfrentar a força do oceano, como Moisés a estender a mão sobre o mar para abrir caminho aos hebreus que fugiam do Egito (Ex 14,15-16). Somente com Jesus Cristo esse panorama iria modificar-se.
Ao contemplar os ícones do Batismo de Jesus que o Oriente cristão nos apresenta, vemos no fundo das águas do Jordão figuras representativas dos ídolos pagãos, nos quais a presença do Filho de Deus provoca profundo temor. Um desses ícones, originário da Igreja maronita, transcreve palavras do Salmo 114: “O mar viu e fugiu, o Jordão voltou atrás... Que tens, ó mar, para fugires assim?”
Assim se revela o domínio de Cristo sobre as forças do mal, poder que espanta os próprios discípulos nas narrativas evangélicas da tempestade acalmada: “Quem é este homem a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4,41) Este poder de Cristo sobre o mar reaparece nas pescas milagrosas (cf. Lc 5,4-6; Jo 21,6-7) e no peixe que Pedro pescou com a moeda na boca (cf. Mt 17,27).
Desde os primeiros tempos do cristianismo, a Igreja é representada em mosaicos e pinturas como a barca de Pedro que enfrenta os perigos do mar da história humana. E Jesus a dizer: “Tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33)
Alguns textos bíblicos: Gn 1,10; Sl 104,26; Sl 107,23-30; Is 50,2.