Meus filhos e Deus
Maria
E foi um berreiro daqueles!
Abaixei-me para ver o quê acontecia em baixo da mesa onde eu passava roupa: era o lugar predileto para o brinquedo dos meus filhos; além do mais, dali eu podia controlar melhor a minha turminha.
O motivo do berreiro?
Besouros!
Eles pegaram um punhado de besouros e cada qual arranjara uma casinha ideal para os seus “boizinhos”…
Os “boizinhos” do menor aproveitaram um cochilo dos “carreiros” e saíram da casinha, causando aquele choro todo.
- Chora não, sô! Eu te dou o meu boizinho cinzento!
E o irmão tentava consolar o menino.
- Eu não quero o seu, não! O meu é que tem “friche”…
- Não é “friche”… é chi-fre! Chi-fre!
- Pois é! Custei a arranjar um de “friche”...
Aí, então, Deus foi lembrado:
- Reza, bobo! Num instantinho, Deus acha seu “bizorro”...
- Acha nada! Eu tô aqui pertinho e não acho!
- Mas Deus tá no céu e de lá ele vê tudo…
- Vê não… Vê nã-ã-ã-o!
Fiquei atenta. Os dois ficaram caladinhos…
Aí o choro recomeçou. E a busca também: procuraram no guarda-roupa, debaixo das camas e até dentro dos meus chinelos abandonados pelo calor…
E, como o menino não se calava, o mais velho resolveu tirar o besouro de dentro do bolso, onde o havia escondido.
Não querendo dar o braço a torcer, falou:
- Aqui! Achei ele procê! Não falei que Deus acha tudo!
E o pequeno, desconfiado da manobra do irmão:
- Eu acredito que Deus acha “bizorro” perdido só se ele der conta de fazer uma casinha de joão-de-barro pra mim ,agora! A-g-o-r-a!
E com o dedinho gorducho marcava um lugar no chão, esperando a casinha de joão-de-barro aparecer…
Entrei em cena e dei uma colherzinha-de-chá para Deus.
Porque, se a conversa dos dois continuasse, eu acho que a casinha de joão-de-barro teria de aparecer, na hora! Ah! Isto teria...