Quando, naquela narrativa da experiência do ressuscitado no caminho de Emaús, Jesus se aproxima de dois jovens discípulos, Ele, com sua simplicidade e jeito cativante os questiona sobre o conteúdo do que indagavam. A mesma experiência nos provoca hoje, e Jesus pode estar nos questionando: “o que estamos conversando pelo caminho (digital)” (cf. Lc 24, 17).

Na noite do dia 24 de outubro de 2022, os Religiosos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora deram início a mais uma Assembleia de Estudos. Contemplando os pilares da evangelização dirigidos a cada Sacramentino, o Pilar da Missão que, em uma de suas ações, prevê que é preciso “apropriar-se dos Meios de Comunicação Sociais (MCS), para a ação evangelizadora criando uma Rede Sacramentina de Comunicação, integrando nossos veículos de comunicação e investindo nas novas mídias, como um novo campo de missão”.

Para nos ajudar a refletir, pensar e nos provocar dentro dessa chamada "Cultura Digital", os Missionários Sacramentinos contam com a presença e contribuição da pesquisadora, professora e doutora Aline Amaro da Silva. De Porto Alegre-RS. Aline é jornalista, escritora, Doutora em Teologia e membro ativa do GreCom, um grupo de reflexão sobre comunicação da CNBB. Também é Co-Fundadora de uma Agência de Comunicação e Marketing Digital. Inspirada e provocada pela proximidade do binômio teologia + comunicação, resolveu dedicar seus estudos e pesquisas na área, na qual, desenvolve trabalhos de evangelização com catequistas, com a CNBB, líderes religiosos e outros grupos da igreja.

A Assembleia Sacramentina de Estudos

Em cada Assembleia Geral, os Missionários Sacramentinos sempre buscam pautar-se em eixos teóricos e práticos da atualidade. Dessa vez, o tema da Cultura Digital pareceu-lhes emergente e pulsante na vida e na lida da missionariedade e presença Sacramentina nas mais diversas áreas de missão da Congregação.

Com o tema: “Missionários Sacramentinos inseridos na Cultura Digital”, a assessora Aline provocou uma metanoia (transformação) digital com o intuito de olhar para a evolução da internet e os avanços da Web 1.0; Web 2.0 ... até chegarmos à Web 5.0 com um olhar mais acolhedor e aberto.

Aline Amaro nos provocou ao afirmar que “não se trata de termos um perfil ativo nas principais Redes Sociais. Mais do que comunicar por essas ferramentas, é preciso saber se comunicar. Comunicar quem e o que somos”. Ancorada no pesquisador jesuíta Antônio Spadaro, o pioneiro do termo “ciberteologia”, “as redes não são fios e cabos, iphones e tablets, mas somos nós. São pessoas humanas que se conectam e se relacionam”.

Outro dado que nos provoca e faz com que refletamos um pouco mais além é que a Internet e suas potencialidades tomaram de nós, religiosos, padres e irmãos missionários, bispos e até do papa o seu lugar de hierarquia. Hoje a voz também se dá por parte de outros fieis leigos e irmãos que abrem seu microfone ou sua câmera do smartphone e expõe suas ideias e sua opinião.

Toda essa experiência entre as redes digitais nos provocam. Hoje lidamos com os diversos conteúdos virais. As publicações que, por algum atrativo inovador, por um jeito criativo de se comunicar ou de transmitir determinado conteúdo viralizam nas redes sociais digitais. A pergunta que fica é: pode (e deve) a Igreja, também encarar com sabedoria a produção desses conteúdos virais em prol da evangelização e da angariação de seguidores?

Diagnóstico atual: as novas frentes de missão

No dia 25 de outubro, o segundo dia da assembleia, a assessora propõs que os Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora encarassem com coragem e ousadia as próprias frentes de missão: 1) perfis oficiais no Instagram, Twitter, Facebook; 2) o trabalho da Juventude Sacramentina; 3) O Lutador; 4) as rádios e o sucesso dos podcasts; 5) o Tribuna do Leste; 6) o trabalho de comunicação junto de cada paróquia e a presença delas nas redes sociais; 7) a WebTV e os vídeos para YouTube.

Em cada frente de missão e de presença Sacramentina mais próxima ao povo, analisar: a identidade: “qual o carisma, valores, missão, o diferencial SDN?”; a realidade: “como estamos vivenciando nosso carisma SDN? O nosso chamado vocacional à evangelização? Pontos negativos e positivos”; e em relação à imagem: “como os outros nos veem nas Redes? Como os jovens nos enxergam e o que eles buscam, procuram e, o que encontram em nossos perfis sociais digitais?”.

Para iluminar o trabalho de grupo, entre tantas reflexões e motivações, uma das mais relevantes e inspiradoras destacadasa por  Aline Amaro foi a do filósofo Floridi sobre o “onlife”: “tal neologismo, ‘onlife’ [...] se refere à nova experiência de uma realidade hiperconectada dentro da qual não é mais sensato perguntar se se pode estar online ou offline”. Ou seja, não somos uma persona dúbia, não vivemos uma realidade “on” e uma outra “off”, mas é uma vida só, uma experiência só, um único testemunho que se converte em ambas estradas e caminhos. Caminhos de terra como a realidade missionária do Mato Grosso, caminhos de pedra como a Presença Sacramentina em cidades grandes como as capitais, caminhos de água como no Nortão Brasileiro, pelos rios da Amazônia e, também, caminhos digitais como a presença da Congregação nas principais redes sociais digitais, Instagram, Twitter, YouTube, WhatsApp... Onde há humanidade, há a presença do sagrado, há Deus e uma experiência de fé.

* Filósofo, graduando em comunicação pela PUC-Minas.

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