Entrevistas Vocacional
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03/02/2023 Conferência dos Religiosos Edição 3956 No Dia da Vida Religiosa CLAR pede para viver a nossa vocação com sentido, alegria e radicalidade
F/ Oblatas SSmo. Redentor
"Que Maria de Nazaré, a mulher que deu plenitude a estes cinco verbos – PROCURAR, PERMANECER, SABOREAR, INSISTIR e OFERECER –, nos dê a graça de viver nossa vocação com sentido, alegria e radicalidade."

Na sequência da Campanha Mulheres da Aurora, a Conferência Latino-americana de Religiosas (CLAR), por ocasião do Dia da Vida Religiosa, celebrado no dia 2 de fevereiro, lançou uma Mensagem à Vida Religiosa do Continente, que parte da passagem evangélica do dia, centrando-se na figura de Anna, uma daquelas mulheres "que rompem a noite e se aproximam da aurora vestidas de fidelidade e amor criativo".

O texto define-a como "a profetisa, a mulher, a pessoa de fé". Ela é a mulher que permanece, que resiste, que persevera, que não desiste. É ela que, vestida de fidelidade e movida pelo amor, se entrincheira no Templo, no lugar da memória e do encontro. A anciã que conhece bem a promessa e espera contra toda esperança, porque sabe que o Messias está chegando, aquela que, com ‘ternura e coragem, procura Jesus que salva’”.

Olhando para hoje, a mensagem mostra admiração pelas "mulheres que rezam e servem. Aquelas que não aparecem, mas do anonimato sustentam a esperança de todos quantos se aproximam delas. Resistindo, apoiando-se umas nas outras, sonhando com um futuro melhor". Eles são os "Anas" de hoje, que "não perdem tempo em lamentações, mas levantam a cabeça, seguram com fortaleza a frágil mão das pessoas que amam e acompanham, atravessam a incerteza, vencem o medo e entoam com fé uma canção indignada, resistente e esperançosa, apegando-se ao Deus que as sustenta, o mesmo Deus que nas noites escuras da vida é sua única luz".  

Mostrando quem é Ana, a mensagem sublinha que, à chegada da Criança ao Templo, "ela a reconheceu imediatamente", a partir de uma experiência de plenitude. A partir daí, a Vida Religiosa do continente reconhece as suas perdas, afirmando que " espera se tornou nossa rotina diária". Apesar disso, "Deus não cessa de se manifestar", sendo reconhecido como "o único capaz de dar plenitude à vida, de satisfazer as nossas necessidades".

Da sua fragilidade apelam à esperança, reconhecem a sua pobreza, estão prontos a proclamar e a percorrer o caminho da profecia como Vida Religiosa encarnada no meio dos mais pobres, a "pronunciar palavras que devolvem aos mais fracos a sua parcela de esperança, de alegria e de dignidade".

No seu dia, a Vida Religiosa é grata pelo dom da vocação, e juntamente com ela "a fé que permanece, a resistência ousada, a esperança teimosa, a oferta fecunda daqueles que reconhecem que a sua vocação é estar no tecido eclesial: misticismo, missão e profecia".

A partir daí sentem-se chamados a procurar Deus; a permanecer amigos do seu povo; a saborear a presença d'Aquele que satisfaz os seus desejos; a insistir na comunidade, na sinodalidade, nas redes, no intercongregacional, na itinerância; a oferecer o seu serviço diário. Para tal, pedem a ajuda de Maria para que "ela nos dê a graça de viver a nossa vocação com sentido, alegria e radicalidade".

 

MENSAGEM À VIDA RELIGIOSA

Havia também ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade avançada; tinha vivido com seu marido sete anos depois de se casar. E então permanecera viúva até a idade de 84 anos. Nunca deixava o templo: adorava a Deus com jejuns e orações dia e noite. Tendo chegado ali naquele exato momento, deu graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. (Lc 2, 36-38)

O Evangelho da liturgia de hoje nos coloca frente a frente com uma mulher, outra daquelas que rompem a noite e se aproximam da aurora vestidas de fidelidade e amor criativo. É Ana, a profetisa, a mulher, a pessoa de fé. Ela é a mulher que permanece, que resiste, que persevera, que não desiste. É aquela que, vestida de fidelidade e movida pelo amor, se entrincheira no templo, no lugar da memória e do encontro. Essa anciã conhece bem a promessa e esperas contra toda esperança, porque sabe que o Messias está chegando, aquela que, com “ternura e coragem, procura Jesus que salva”.

Hoje também nos maravilhamos com as mulheres que rezam e servem. Aquelas que não aparecem, mas a partir do anonimato sustentam a esperança de todos quantos se aproximam delas, resistindo, apoiando-se umas nas outras, sonhando com um futuro melhor. E sabemos, porque já o temos visto tantas vezes, que estas ‘Anas’ de nossos dias não perdem tempo em lamentações, mas levantam a cabeça, seguram com fortaleza a frágil mão das pessoas que amam e acompanham, atravessam a incerteza, vencem o medo e entoam com fé uma canção indignada, resistente e esperançosa, apegando-se ao Deus que as sustenta, o mesmo Deus que nas noites escuras da vida é sua única luz.

Ana sentia-se habitada por um grande vazio, acompanhada pela sede, envolvida por uma pobreza profunda e radical. Era viúva, e por isso conhecia o amor e a carência. Conhecera o companheirismo e beijava a solidão por muitos anos. Mas o que tinha de seu era a fidelidade, e por isso “não saía do templo, servindo a Deus noite e dia em jejum e oração”.

O encontro é a fonte na qual toda a pobreza encontra uma maneira de se reabastecer. A criança veio para o templo e a habitou, preenchendo cada vazio. Ela a reconheceu imediatamente. Esse menino era o bem desejado, o amor almejado, a riqueza diante do qual tudo o mais se torna relativo. A experiência da plenitude que o amor lhe deu, a levou ao anúncio, e por isso se dedicou a elogiar e falar desse menino.

Como a Ana do Evangelho, viemos reconhecer nossas perdas. Algo está faltando em nossa Vida Religiosa, a espera se tornou nossa rotina diária. Mas Deus não cessa de se manifestar. Ele continua abrindo caminho pelo templo, pela praça pública, pelas estradas poeirentas do nosso continente. Ele é o único capaz de dar plenitude à vida, de satisfazer as nossas necessidades.

A experiência da nossa pobreza pessoal, comunitária e institucional, dos nossos limites e fragilidades, fortalece nossa esperança e nos torna mais capazes de caminhar com outras pessoas, para nos solidarizarmos e exercer a necessária misericórdia. O encontro com Jesus proporciona à nossa pobreza a medida certa. Sabemos que nós somos criaturas, experimentamos que tudo é um dom e nos preparamos para o anúncio. A experiência de saber que somos visitados, habitados pela graça, nos leva à profecia. Como Vida Religiosa encarnada no meio dos mais pobres, cabe-nos pronunciar palavras que devolvam aos mais fracos sua parcela de esperança, de alegria e de dignidade.

Ana é sem dúvida uma “Mulher da Aurora”, e com ela festejamos este 2 de fevereiro, o dia mundial da Vida Consagrada. Com ela agradecemos o dom da nossa vocação, a fé que permanece, a resistência ousada, a esperança teimosa, a oferta fecunda daqueles que reconhecem que a sua vocação é estar no tecido eclesial: misticismo, missão e profecia.

E com isso, nós religiosos e religiosas do continente, nos sentimos chamados a:

PROCURAR insistentemente nosso Deus, fazê-lo em oração que é a ligação que centraliza o coração, na leitura crente e esperançosa da Palavra, na imersão alegre de nossa vida em tantos ‘templos’ existenciais e geográficos. Buscá-lo nas reviravoltas de nossa história e nos deixar surpreender por aquele que vem; sim, ele vem sempre para nos repovoar com nova vida.

PERMANECER como amigos de nosso povo nos recantos onde a boa notícia é mais urgente, onde a vida é mais vulnerável, onde os direitos humanos são ameaçados, onde a democracia é percebida mais frágil e onde os sistemas corruptos e revestidos de consumo ostentam o poder que invisibiliza o bem comum e aniquila a vida.

SABOREAR a presença dAquele que satisfaz nossos anseios, acolhendo-O em meio aos encontros diários, no canto, na celebração e na mesa comum à qual Ele nos convida a ser um Nele. Deixando-nos abraçar por aquela presença que guia nossa jornada com o povo e nos convida à alegria da proclamação; como Ana, exultante e pronta para compartilhar os primeiros frutos da ação de um Deus que está sempre abrindo caminho.

INSISTIR na utopia do comunitário, no espírito da Sinodalidade e nos esforços para renovar o que se tornou obsoleto com autorreferencialidade. Não podemos desanimar em nosso desejo de transformar nossos corações, atitudes e instituições. Vamos juntos tecer redes, procurar com outros, abraçar a interculturalidade, assumir riscos intercongregacionais, converter-nos pastoralmente até nos tornarmos cada vez mais radicalmente itinerantes, simplesmente missionários, radicalmente proféticos.

OFERECER nosso serviço diário como parábola do Reino e expressão de comunhão. Como a pequena oferta que nos coloca na lógica do germinal. E ser incansavelmente, nesta sociedade e nesta Igreja ameaçada pela divisão, os guardiões resolutos da comunhão. Sejamos daqueles que reconhecem os conflitos, verbalizam as falhas, não negam ingenuamente a realidade, mas acreditam no Senhor e por isso encorajam o diálogo e o encontro, tecem redes e fraternidades, abrem as portas, ampliam a mesa e reconhecem no Magistério do Papa Francisco uma abertura de evangelho e esperança, através da qual o Espírito Santo abre caminho pela nossa história.

Que Maria de Nazaré, a mulher que deu plenitude a estes cinco verbos – PROCURAR, PERMANECER, SABOREAR, INSISTIR e OFERECER –, nos dê a graça de viver nossa vocação com sentido, alegria e radicalidade.

Contem hoje com a nossa oração e carinho,

Presidência da CLAR Bogotá, D.C., 1 de fevereiro de 2023

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