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24/06/2022 Ir. Michele da Silva, ICM Edição 3948 O Corpo Feminino um Espaço Sagrado!
F/ Pixabay
"Pensemos nos corpos das mulheres negras, indígenas, ribeirinhas, periféricas, migrantes, trans, e no quanto são feridos pelas intolerâncias, violências e violações de direitos... conseguimos ver em cada uma dessas mulheres a presença de Deus como espaço sagrado?"

Quando refletimos a dimensão do sagrado em nossas vidas, logo pensamos em santos, Igreja, e na Eucaristia, como presença do Cristo Vivo entre nós, isso é consenso entre católicos e traz uma dimensão bonita da manifestação da fé e do respeito que temos pelo que tem valor na espiritualidade e na vida.

O feminino como um espaço sagrado

Mas se apresentássemos o corpo feminino como um espaço sagrado, o que aconteceria? Pela visão da maioria dos homens e de algumas mulheres, seria considerado uma heresia, por alguns, uma ideia inovadora e para boa parte das mulheres uma oportunidade de viver com mais dignidade, liberdade e respeito!

Cristo se fez alimento para ser partilhado, seu corpo tornou-se sustento da missão e das lutas por justiça e igualdade. Em cada Irmã ou Irmão que sofre Cristo está presente, e porque não pode ser o corpo de uma mulher esse espaço sagrado?   

O corpo feminino é sagrado e precisa ser cuidado, respeitado e valorizado. Em cada mulher que sofre violência, preconceito e que não tem os seus direitos garantidos, o próprio corpo de Cristo é machucado. As dores dos corpos das mulheres são sentidas por Deus que é Pai e Mãe e se solidariza com elas.

Pensemos nos corpos das mulheres negras, indígenas, ribeirinhas, periféricas, migrantes, trans, e no quanto são feridos pelas intolerâncias, violências e violações de direitos... conseguimos ver em cada uma dessas mulheres a presença de Deus como espaço sagrado? Ou preferimos julgar, condenar e excluir esses corpos “fora do padrão”!

A construção do sagrado perpassa as dimensões cultural e espiritual, em cada cultura ou crença temos diferentes formas de vivenciá-las, e na maioria das religiões o feminino acaba sendo inferiorizado, em prol do masculino que é superexaltado. Temos muita dificuldade em romper com esse sistema patriarcal que marginaliza e violenta o corpo das mulheres, particularmente no campo religioso, que inclusive justifica e naturaliza essas relações de poder desiguais!

Violentar é ferir o próprio Cristo

Violentar o corpo de uma mulher é ferir o próprio Cristo! Sentimos nosso corpo ferido por violências físicas, psicológicas, verbais, virtuais, quando somos assediadas na rua, no trabalho e nas igrejas, por não termos o lugar de fala, ou o direito de ocupar espaços que nos são legítimos inclusive nos ministérios a nós negados!

Nossos corpos clamam por liberdade, não pertencemos ao sistema capitalista de consumo, somos templos da presença de Deus com rosto amoroso e feminino, que deseja a vida do seu povo! (Cfe. Ester 7,3).

Necessitamos urgentemente realizar uma hermenêutica feminista do sagrado! Nos aventurar por caminhos novos, sugerir possibilidades e nos permitir ser um corpo sagrado, reconhecendo em cada mulher o divino que habita o seu interior, a sua corporeidade expressa de maneira integral e livre.

Olhar o corpo feminino como espaço sagrado é inovador e libertador, tanto para as mulheres, quanto para os homens, que infelizmente são condicionados por uma masculinidade tóxica, machista e ultrapassada de poder e objetificação da mulher.

Queremos respeito, ter o direito de sair na rua com tranquilidade, estudar, trabalhar, ter um salário justo, ocupar espaços decisórios, poder escolher uma roupa sem pensar num assédio, coisas tão simples que deixamos de fazer, porque temos um corpo feminino, que não é considerado sagrado por isso, pode ser violado, usado e descartado.

Somos da esperança, da utopia e da iniciativa de processos

Para além de uma contestação, buscamos o diálogo, a desconstrução do sistema opressor, a acolhida e o cuidado pelos nossos corpos, nenhuma mulher “merece ser estuprada”, como escutamos tantas vezes no senso comum, queremos dignidade, igualdade e valorização.

Sabemos que temos um longo e conturbado caminho para a superação desta mentalidade, mas somos mulheres da esperança, da utopia e da iniciativa de processos coletivos e transformadores, cada pequena conquista é motivo de alegria, e ansiamos por mudanças estruturais na sociedade e na igreja que acreditamos ser possível!

Apresentar o corpo feminino desta forma torna-se uma provocação! E realmente precisamos polemizar essa realidade, nossos corpos são sagrados sim, belos, apresentam a leveza da liberdade e da força, que nos empodera para fazer essa experiência tão importante de reconhecimento que a Divina Ruah faz morada em nosso ser e nos move a ousar, lutar e resistir!

 

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