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09/08/2019 Ir. Dione Afonso, SDN Edição O Legado Vocacional do Pe. Demerval
"Pe. Dedé foi uma semente fecunda nas mãos do bom semeador. Uma semente que caiu em terra boa e produziu cem frutos por um. Uma semente que continuou sendo lançada ano após ano sem desânimo. Pe. Dedé ainda chegou a semear nos tempos da chamada “crise de vocações”, e uma vez ouvi ele dizer que não se tratava de uma crise vocacional, mas sim de uma falta de semear, falta de sementes. "

O LEGADO VOCACIONAL DO PE. DEMERVAL

 

Frt. Dione Afonso, SDN*

 

 

 

05 de agosto de 2019: PARTIU O NOSSO PADRE DEMERVAL! Próximo da celebração dos seus 96 anos de vida, o Missionário Sacramentino, Pe. Demerval Alves Botelho, SDN cumpre com sua última missão e faz a sua mais nobre oferta ao Pai. Nascido em 19 de novembro de 1923, no município de Mutum-MG, padre Demerval foi o primeiro padre mutuense. Conheceu o Servo de Deus Pe. Júlio Maria De Lombaerde e, fez de seu sacerdócio um exemplo de vida e de santidade.

 

Um Rosto Amigo de Deus

Diz o livro do Êxodo que Moisés conversava com Deus face a face, “como um homem fala com seu amigo” [Ex 33, 11], “com Ele eu falo face a face, às claras e sem enigmas; vejo a figura de Deus”[Nm 12, 8]. Moisés, o primeiro profeta da linhagem bíblica criou com Deus uma relação íntima e de amizade, a ponto de chama-lo de amigo. Podemos dizer que Moisés refletia a imagem de Deus em seu rosto e em sua vida.

Essa relação pura de intimidade com Deus é uma relação profunda de oração e de espiritualidade. Somente quem se alimenta, reza, contempla, comunga esse Deus, é que é capaz de ser com Ele um bom amigo. Alimentar-se da Palavra, da constante oração, da Eucaristia, de uma boa confissão é fundamental para que esse contato com Deus seja fecundo.

Pe. Demerval, SDN, um homem da vocação, ardoroso apóstolo da Pastoral Vocacional sempre orientou os jovens a manterem-se firmes na oração, na escuta da Palavra e na participação da Eucaristia. Um homem mariano: “façam sempre uma reverência a Santíssima Virgem, sejam apaixonados por Maria”, ele dizia. Um homem julimariano: “o Padre Júlio Maria era um homem alegre e de uma ascese muito grande. Ele me inspirava a ser missionário”, repetia Pe. Dedé em nossos encontros vocacionais. Um homem sacramentino: “é importante ser um bom homem, um bom cristão, essa é a essência de um grande Missionário Sacramentino”, alertava-nos quando a conversa apertava. Um homem profundamente da vocação: Pe. Dedé se preocupava com o nosso discernimento, era diretor espiritual, amigo, orientador, professor, músico, confessor. Sempre nos questionava e mostrava pra gente o valor e a importância de um bom discernimento, pois “vocação acertada, futuro feliz”, dizia pra gente em todos os encontros.

Moisés viu em Deus, um rosto amigo, e eu vi Deus no Pe. Demerval. Seu rosto é o mais próximo que conheci de um rosto de Deus. Vi em Pe. Dedé, como carinhosamente o chamávamos, o rosto de um santo. Pe. Dedé viveu uma pura e alegre santidade entre nós. Um homem apaixonado pelas crianças, adolescentes e jovens. Continuamente nos perguntava se alguma vez na vida tínhamos pensado em seguir o caminho do Seminário.

Nunca deixou de sorrir. Seu sorriso era seu cartão postal. Seu sorriso nos evangelizava. Seu sorriso também se convertia em “puxões de orelha”, pois até mesmo na severidade, ele conseguia manter a doçura e a leveza de um homem santo de Deus. Pe. Demerval, sem dúvidas, foi um Missionário guiado pelas mãos de Deus. Estava onde ele deveria estar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um rico “canteiro das vocações”

“Toda a Bíblia é vocacional”, dizia Pe. Dedé em seus encontros vocacionais. Para ele não existia leitura vocacional, ou evangelho vocacional. Pe. Dedé. Extraía da Palavra de Deus sempre uma mensagem vocacional. Era um homem apaixonado pela causa vocacional, sobretudo da Congregação. Fez da Pastoral Vocacional o seu carro-chefe em sua missão sacerdotal. Dedicou toda a sua vida à Formação, como Mestre de Noviços soube impregnar nos Coirmão Sacramentinos a essência Julimariana: Maria, Eucaristia e Missão.

Não há quem o diga que não foi formando do Pe. Dedé. Conheci a Congregação em 2011, um ano antes de minha entrada, e, já, desde então, ouvia dizer o nome do Pe. Demerval como ícone, um grande nome, respeitado. E, depois entendi porque. Pe. Dedé, era venerado por todos. Homem de um respeito sem igual, de um sorriso que nunca se apagou de seu rosto. Até o seu último dia entre nós.

Pe. Dedé foi uma semente fecunda nas mãos do bom semeador. Uma semente que caiu em terra boa e produziu cem frutos por um. Uma semente que continuou sendo lançada ano após ano sem desânimo. Pe. Dedé ainda chegou a semear nos tempos da chamada “crise de vocações”, e uma vez ouvi ele dizer que não se tratava de uma crise vocacional, mas sim de uma falta de semear, falta de sementes.

Portanto, seu “canteiro vocacional” sempre era regado com muita dedicação, carinho e trabalho. Pe. Dedé sabia fazer do chamado algo muito leve e cativante, ele jamais obrigava alguém a escolher pelo Seminário, mas ele fazia todos nós pensar sobre o assunto; depois vinha o momento do acompanhamento. Suas cartinhas eram hilárias, com pitadas de humor e com seriedade também. Um homem que sabia se aproximar da linguagem do jovem, ele tinha seu jeito carismático de tocar em assuntos pertinentes da vida, de maneira descontraída. Com o convite [chamado], o acompanhamento, vinha então o momento do discernimento. Pe. Dedé nos encorajava a participar dos retiros, convívios vocacionais e, por fim, a tomar a decisão!

Pe. Dedé sempre se colocava à nossa disposição. Até contava piadas. Isso enchia o nosso coração de alegria. Seu “canteiro vocacional” não se limitava ao Seminário, e nem com os que ingressavam. Aqueles que tomavam outros caminhos, também fizeram uma grande amizade com este nosso santo. “Não vá negar fogo não, heim, meu nego”, dizia ele. E sempre nos pedia para não nos afastarmos de Maria e nem da oração.

 

Um Legado Vocacional

Sem sombra de dúvidas, percebemos que o legado deixado pelo Pe. Demerval é uma importante ferramenta para nós: trabalhar apaixonadamente pelas vocações! Eu diria que o Pe. Dedé fez da Pastoral Vocacional uma família. Uma grande família que olha para as vocações com amor. Com preocupação, é claro, mas, acima de tudo, com amor. Este homem já fazia acontecer entre a Congregação a “cultura vocacional” antes mesmo de ouvirmos do papa Francisco. Pois entendemos que uma verdadeira cultura vocacional é aquela que ultrapassa os limites pastorais e que vai até na família. Ultrapassa os limites congregacionais e vai até a escolha profissional. Ultrapassa os limites pessoais e vai até os comunitários e sociais.

Não se trata de realizar um trabalho perfeito, sem erros. Como qualquer todo homem, Pe. Dedé também teve seus erros, também brigou, ficou chateado, mas isso nunca o impediu de seguir a diante. Na homilia de corpo presente, Pe. Mundinho, SDN disse que o “Pe. Demerval não tinha inimigos”. Na verdade, nunca o vimos reclamando e nem falando mal de ninguém. Mas isso, é porque o mais importante não eram as falhas, mas as oportunidades de mudar, de se converter e seguir a diante.

Pe. Dedé nos deixa um apelo. Um pedido expresso em sua vida, em sua carne: “não se esqueçam da Pastoral Vocacional”. Cuidem dela com esmero. Um bom trabalho vocacional é realizado com alegria, e, com espírito de oração. As bases de um bom trabalho vocacional são a alegria, o testemunho e a vida de oração. Ele nos deixa esse legado e agora? Quem de nós irá honrar com essa missão? Quem de nós irá conduzir com paixão o trabalho vocacional daqui pra frente? Pe. Dedé semeou...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

* Missionário Sacramentino de Nossa Senhora

Graduando em Jornalismo pela PUC-Minas

dafonsohp@outlook.com

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