No meio do tempo do Advento, conforme a tradição latina, este 3º domingo é chamado “O domingo da Alegria” (em latim: Gaudete). Este título vem do cântico de entrada do Missal Romano, tirado de um verso da carta aos filipenses que, desde antigamente, a Igreja proclama na 2ª leitura deste domingo: “Alegrai-vos no Senhor. Alegrai-vos porque o Senhor está bem perto” (Fl 4, 4). Na celebração de hoje, este apelo à alegria é escutado na primeira leitura, tirada do profeta Sofonias. É um texto que inspirou o evangelho quando contou o anúncio do anjo a Maria quase com as mesmas palavras que o profeta dirigia ao povo: Alegra-te porque o Senhor está no meio de ti. Hoje, nós traduzimos: está em ti.
O trecho do evangelho lido neste domingo continua o capítulo 3 de Lucas, cuja leitura iniciamos no domingo passado e não fala explicitamente de alegria. No entanto, tem como pano de fundo o mesmo motivo fundamental da alegria messiânica: o Senhor está perto. O evangelho de hoje diz que o povo vivia na expectativa (v. 15). O profeta João Batista tinha anunciado que, no deserto, onde não era possível se abrir estrada, Deus abriria um caminho para conduzir o seu povo do cativeiro à libertação. Diante disso, as pessoas começam a perguntar: O que devemos fazer? Ou seja, como podemos participar e como podemos responder a essa iniciativa divina?
A resposta dada por João Batista não se refere em si à religião. Não fala em crenças. Não propõe nenhum rito. Nem também alude à política mais ampla. A resposta de João se fixa na questão ética. E ética comunitária e de base. É como se ele dissesse: “O que vai nos fazer sair dessa situação é o nosso compromisso em sermos pessoas corretas, vivermos a justiça e a bondade uns com os outros”. Concretamente, João responde às perguntas do povo propondo a partilha e nos casos concretos em que a realidade social favorece a exploração, restauração da justiça a partir do direito dos mais vulneráveis. Esse é o lastro social e humano a partir do qual ocorre a vinda do Senhor, ou seja, a realização do projeto divino de justiça e de paz no mundo.
Apesar de que o horizonte das respostas de João é mais amplo do que a cultura judaica e religiosa do povo que o escutava, o profeta acolhe as dúvidas do povo e esclarece a questão fundamental. Ele não é o Messias prometido pelos profetas. Explica que o seu gesto profético de mergulhar as pessoas nas águas prepara a vinda do Cristo (consagrado de Deus) que mergulhará a humanidade na ventania e no fogo. Desde os antigos profetas, a tempestade e o fogo eram sinais do Julgamento de Deus que viria transformar o mundo. Todo mundo sabe o que acontece quando em meio a um incêndio, se levanta forte ventania. O fogo fica incontrolável. Assim é o fogo da justiça divina atiçado pela ventania do Espírito.
Com essas palavras de João Batista, o evangelho quer reacender nas comunidades a confiança na vinda do projeto divino ao mundo. Hoje isso deve ser traduzido para além da cultura religiosa. Existem expressões de fé e espiritualidade que parecem não ter nenhuma relação com a justiça, nem sensibilidade em relação à partilha. Infelizmente, as Igrejas cristãs têm uma dívida histórica com a humanidade por terem sido coniventes com impérios opressores e terem desenvolvido um sistema religioso que se afastou do espírito do evangelho da justiça do reino de Deus. É urgente a conversão de cada um/uma de nós e das Igrejas nessa reconstrução de um mundo no qual a desumanidade e como em Chipre afirmou o papa Francisco: há um fracasso da civilização diante da crueldade e desamor com que a maioria da humanidade está sendo tratada.
Para que neste tempo de Advento possamos nos alegrar com a proximidade de Deus e do seu reino, é preciso retomar o Evangelho que revela que o eixo da fé é o projeto de justiça e de paz que sinaliza ao mundo que a manifestação do reinado divino está próxima.
Leia também:
A dor do suicídio
Enfrentamento ao tráfico humano
Assembleia Eclesial, grande avanço
Cassino Brasil
Os bispos devem comportar-se como os fiéis
Assembleia Eclesial: Esperança entre luzes e sombras
O suicídio no clero do Brasil
Sinodalidade: envolver todos os sujeitos
Estar presente onde a vida mais clama
Levar aos outros o transbordamento do Espírito
Reacender Aparecida para responder aos Clamores da AL
Dispor o coração para discernir em comum
A Escritura nos tira do analfabetismo espiritual
Unidos na diversidade de ministérios e carismas
Marcelo Barros: um monge para os dias de hoje
Sinodalidade: Podemos caminhar juntos!
Fofoca: um mal a ser combatido
Hino oficial da I Assembleia Eclesial
Documento para discernimento: Asembleia Eclesial
Pré Assembleia Eclesial
Cardeal Barreto na COP26
Acesse este link para entrar nosso grupo do WhatsApp: Revista O Lutador Você receberá as novas postagens da Revista O Lutador em primeira mão.