Formação Catequese
Compartilhe esta notícia:
28/03/2023 Ir. Dione Afonso, SDN Edição 3957 O Storytelling como ferramenta para a Catequese o catequista e a arte de narrar histórias
F/Paróquia Bom Jesus-Manhumirim/MG
"Um bom catequista precisa ser um bom contador de histórias. Um bom catequista é capaz de envolver seus catequizandos numa perfeita narrativa que os envolva numa história surpreende capaz de transmitir a eles um conhecimento que jamais se esquecerão."

Se você não é uma pessoa familiarizada com novas expressões ou com a linguagem mais apropriada da cultura tecnológica e/ou cientificista, talvez não tenha ouvido ainda sobre a expressão: storytelling. Neste excerto formativo sobre Catequese e Storytelling, é importante darmos uma breve noção do termo e como que ele pode se aplicar à linguagem pastoral e catequética. Do inglês, “story” significa história e “telling”, é contar, narrar, indica ação.

O termo, de acordo com os dicionários sobre tecnologia digital, diz que “storytelling é a habilidade de contar histórias utilizando enredo elaborado, narrativa envolvente, e recursos audiovisuais”. Quem endossou e popularizou o termo foi a área do marketing, mas, quem primeiro soube usar o termo fora os líderes políticos, quando viram que, quando suas campanhas eram capazes de construir uma história mais humanizada com narrativas criativas e impactantes, fizeram do storytelling a mais poderosa ferramenta de campanha.

Foi em 1993, nos Estados Unidos, quando o comunicador Joe Lambert começou a provocar em seus alunos a prática de criar narrativas, contar suas histórias de vida de forma coesa e bem instigante. Quem contasse sua história da forma mais impactante e quem conseguisse prender mais a atenção era aquele que dominava com sabedoria a técnica do storytelling. Bom! O leitor, sobretudo se for catequista, deve estar se perguntando onde que a pastoral bíblico-catequética entra nisso tudo, não é mesmo?

O storytelling é uma poderosa ferramenta de ensino, aprendizado, comunicação e de saber capaz de envolver o jovem e o adolescente num processo educacional, no nosso caso, educacional da fé. Um bom catequista precisa ser um bom contador de histórias. Um bom catequista é capaz de envolver seus catequizandos numa perfeita narrativa que os envolva numa história surpreende capaz de transmitir a eles um conhecimento que jamais se esquecerão.

A PALAVRA DE DEUS: um grande storytelling

E, quando olhamos para a Palavra de Deus, percebemos que toda a bíblia é uma narrativa, uma história, um storytelling de um povo e da ação de Deus para com ele. É a narrativa das Alianças que Deus realizou com seu povo e de como o povo correspondia com essas alianças. Seja sendo fiel a elas, seja quebrando a Aliança. Um storytelling precisa ter um protagonista, um conflito, uma conclusão e uma lição de vida. Assim funcionam as narrativas mais completas.

Vejam, por exemplo, no Antigo Testamento o storytelling que acompanha o Povo de Deus até a Terra Proibida: protagonista (Moisés que é escolhido por Deus para libertar o povo); conflitos (por resistência do Faraó, o povo sofre as 10 pragas do Egito; depois, na caminhada, Moisés abre o Mar Vermelho); conclusão (o povo chega na Terra Prometida); lição (se quebrarmos a Aliança com Deus, distanciamo-nos do seu Projeto, cumprindo a Aliança com Deus, Ele sempre caminhará do nosso lado). Para uma catequese mais bíblica e mais pastoral, o storytelling se torna uma ferramenta rica se bem utilizada. Ela remonta às raízes geracionais em que avôs, pais e filhos transmitem a sabedoria da fé de geração em geração narrando histórias, apresentando um homem chamado Jesus que desafiou sistemas e pessoas em nome do Reino do Amor.

Da mesma forma você pode olhar para os Evangelhos e identificar o storytelling, cujo Jesus é o protagonista, e assim por diante em cada trecho narrado pela Bíblia. Um catequista com a prática do storytelling consegue tirar seu catequizando do ambiente fechado e limitado, que, na maioria das vezes é um salão ao lado da igreja e fazê-lo viajar, embarcar numa jornada, numa aventura que proporcionará a ele uma experiência única e que nunca mais esquecerá. Ao contar boas histórias, você garante que está produzindo um material único. Por mais que seja sobre um tema desgastado ou de conhecimento geral, o seu conteúdo abordará uma perspectiva única: a sua. E mais, quando você leva o jovem ou a criança a também contar histórias, o catequista terá a chance de conhecer a perspectiva de seu catequizando. Confira mais alguns aspectos que a contação de histórias podem proporcionar para a sua catequese:

  1. Histórias levam o público a uma nova jornada: uma leitura bíblica, as vezes, é lida e relida por várias vezes, mas quando ela é transformada num storytelling o catequista tem a chance de transformar aquela leitura da Palavra de Deus única. Crie possibilidades de narrar o trecho bíblico com as suas próprias palavras sem alterar o sentido do texto, mas aproximando os catequizandos mais da realidade deles. Conduza seu ouvinte a uma nova jornada; 
  1. Histórias geram identificação: o escritor inglês Neil Gaiman diz que “histórias lidas no momento certo jamais te abandonam. Você pode esquecer o autor ou o título. Pode até não lembrar precisamente o que aconteceu, mas se você se identifica com uma história, ela continua com você sempre”. Quando o catequizando se identifica com a história que seu catequista está contando, ele começa a ter um interesse maior em saber como tudo vai terminar. E ele começa a se imaginar na história. Lembrem-se, por exemplo, dos “discípulos de Emaús” (Lucas 24), seria lindo ver nossos catequizandos se identificando com aquela experiência, não é mesmo?; 
  1. Histórias despertam emoções: sobretudo nos jovens que costumam ter seus sentimentos e desejos à flor da pele. Além da identificação, as histórias também acionam nosso lado emocional, seja por despertar alguma memória do ouvinte, seja por fazê-lo se imaginar na pele do personagem; 
  1. Histórias nos seduzem com facilidade: essa prática de contação de histórias é pré-histórica. A comunicação humana é feita por histórias desde sempre. Você, catequista, pode construir seu storytelling; seus catequizandos também podem construir o deles e os recursos são diversificados: desde a escrita, até fotografias, imagens, vídeos, filmes...

“Jesus tomou a firme decisão de subir para Jerusalém” (cf. Lc 9, 51-56), cada trechinho da bíblia é contextualizado num determinado tempo e espaço. Seu storytelling também precisa estar, precisa transmitir veracidade, verdade, mesmo se você criar uma ficção, ela precisa ser bem construída. Olhe para as histórias dos super-heróis, por exemplo, há ali uma jornada fictícia, mas que é muito real no sentido da lição de vida que querem nos transmitir. A bíblia também tem seus heróis, cabe a nós saber explorar suas histórias e fazer do storytelling uma rica ferramenta afim de continuar transmitindo a fé e os valores da pessoa de Jesus às nossas gerações.

Quando o Diretório Nacional da Catequese fala da linguagem na catequese, ao falar da narrativa, o texto afirma que “a catequese, valoriza, em particular, a linguagem narrativa, pois nela não está só um recurso linguístico, mas permite que a pessoa entenda mais de si mesma e a realidade que a circunda, dando sentido à sua vida” (DNC, 207).

Compartilhe esta notícia:
Nome:
E-mail:
E-mail do amigo:
DEIXE UM COMENTÁRIO
TAGS
ÚLTIMAS NOTÍCIAS