Formação Liturgia
Compartilhe esta notícia:
04/09/2023 Frei Vanildo Zgno Edição 3963 O VAR da liturgia
F/ Ivan Jaques cathopic.com
"O árbitro de vídeo tornou o futebol chato. Não deixemos que façam o mesmo com nossas liturgias. Mais do que uma suposta defesa da Liturgia que os Fiscais pretendem fazer, preocupemo-nos com Aquele que é a razão de rezarmos e com aqueles que levantam a voz para louvar o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Jesus..."

Muitos que gostam de futebol ainda não nos acostumamos com o árbitro de vídeo, o tal de VAR. Ele consegue ser mais chato que o impedimento. Eu sempre achei que não devia haver impedimento no futebol. É uma lei que coage a dinâmica do ataque e favorece os retranqueiros que ficam armando a tal “linha do impedimento”, uma coisa que os juízes – o de campo e os de linha – sempre tiveram dificuldade de administrar. Quem não lembra de algum jogo e até de campeonatos que foram decididos porque o bandeirinha ou o juiz, equivocadamente, anulou ou validou um gol em que o impedimento era duvidoso.

Pois com o árbitro de vídeo aquilo que era ruim ficou pior. O jogador faz o gol, comemora e depois tem que esperar a validação pelo VAR. E lá vem as tais linhas vermelha e azul que, por milímetros, decidem o jogo ou o campeonato. E, como a prática tem mostrada, essa decisão tomada dentro de uma sala isolada e longe da pressão dos jogadores, dirigentes e da torcida, nem sempre é neutra. É tão subjetiva quanto a dos juízes que correm sobre a grama.

Pois, na Igreja Católica Apostólica Romana, a moda do VAR entrou na Liturgia. Em muitas paróquias e em quase todas as dioceses é cada vez mais frequente a presença do VAR da Liturgia. Não é um ministério oficial como no futebol. É para oficial. Verdade que às vezes é feito com o consentimento ou até a mando das autoridades. Mas, na maioria dos casos, são pessoas que se autoinsituem no Ministério de Fiscais da Liturgia. Elas vão na Missa não para rezar. Elas vão para observar se tudo é feito segundo a interpretação que elas têm dos cânones litúrgicos. E, ao invés de se importar com apresentar a vida da comunidade diante de Deus e escutar o que Ele tem a nos dizer, ficam observando se o padre diz todas as palavras do ritual na ordem e no ritmo certo, se os acólitos se movem nas linhas e nas curvas estabelecidas, se os coroinhas não se aproximam demais do padre e – o detalhe mais importante para os Fiscais da Liturgia – se não há nenhuma mulher ou nenhum homem separado ou “amasiado” perto demais da hóstia.

Fiscalizam a cor e a quantidade das roupas dos ministros, os panos e outros objetos colocados sobre o altar, o estado dos livros litúrgicos, o tamanho das hóstias, a cor e o odor do vinho, o volume da fumaça do incenso, o tamanho da vela, a cor das flores, a roupa dos fiéis, se se sentem, levantam e ajoelham no hora e na forma correta, se tomam a hóstia na mão ou na boca, se os cantos escolhidos são autenticamente litúrgicos, se não há instrumentos profanos sendo tocados…

Fiscalizam tudo e todos nos mínimos detalhes e, terminada a Missa, correm para casa e do alto do tribunal das redes sociais dão seu veredicto sobre a validade ou não do que se celebrou. Eles pretendem dizer se, pelo fato de o padre, na hora da Consagração, ter-se inclinado dois milímetros a menos do que deveria, impediu que o pão e o vinho se tornassem o Corpo e Sangue de Cristo. Ou então, se o padre titubeou na hora de pronunciar uma das palavras do ritual, fez com que a missa toda fosse inválida. E que a palavra “libertação” presente num dos cantos tornou a missa impura. Eles traçam a “linha do impedimento” que torna válida ou não a Liturgia rezada pela comunidade. E seu julgamento, igual ao do VAR, não tem apelo, mesmo que a decisão tenha sido subjetiva.

Triste. Muito triste, verdadeiramente triste. Mas, infelizmente, real e frequente. É uma atitude deprimente de quem não crê na presença viva de Cristo na comunidade que se reúne para celebrar sua fé no Deus da Vida que aceita o rito não pela sua correção formal, mas por sua intenção fundamental que é de celebrar a Graça de Deus que nos salva e nos alimenta para continuarmos na jornada.

O árbitro de vídeo tornou o futebol chato. Não deixemos que façam o mesmo com nossas liturgias. Mais do que uma suposta defesa da Liturgia que os Fiscais pretendem fazer, preocupemo-nos com Aquele que é a razão de rezarmos e com aqueles que levantam a voz para louvar o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Jesus, o Deus de todos nós, aquele que nos dá a vida e quer que todos a tenham em abundância e sem qualquer tipo de impedimento.

Fonte: Blog Frei Vanildo Zugno

Compartilhe esta notícia:
Nome:
E-mail:
E-mail do amigo:
DEIXE UM COMENTÁRIO
TAGS
ÚLTIMAS NOTÍCIAS