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27/08/2020 Dom Edson Oriolo Edição 3927 Os consagrados e a violência neuronal
F/ isjbrasil
" A vida consagrada é “uma resposta livre a um chamamento particular de Cristo, mediante a qual os consagrados se entregam totalmente a Deus."

Dom Edson Oriolo

 Inúmeras pessoas, ao longo da história, consagram suas vidas a serviço do Reino dos Céus. Os consagrados dedicam suas vidas no seguimento de Jesus e na vivência de seus ensinamentos. A vida consagrada é “uma resposta livre a um chamamento particular de Cristo, mediante a qual os consagrados se entregam totalmente a Deus e tendem para a perfeição da caridade sob a moção do Espirito Santo” (CIC, 192). Podemos entender consagrados os sacerdotes, religiosos e religiosas.

Vivemos a consagração numa sociedade dinâmica. O mundo exige de nós muita produtividade. Mesmo entregando-nos a Deus, temos que ser produtivos, não interessa como fazer, mas temos que fazer. Trabalhamos muitas vezes não pela consagração, voltados para uma mística, mas na manutenção ou crescimento de uma instituição com seus objetivos, finalidades, natureza, projetos, metas e estratégias. Temos que produzir resultados e mais resultados. Nossas demandas existenciais vão além do nosso ideal de consagração. Em tempo de pandemia, em espaços de plataformas virtuais, temos que demonstrar produtividade nas iniciativas evangelizadoras. São audioconferências, videoconferências, troca de mensagens virtuais, busca de plataformas digitais etc.

O momento pede para sermos eficazes, isto é, fazer coisas certas e eficientes, fazer coisas corretamente. Essas realidades estão nos bombardeando de todos os lados. Para sermos eficazes e eficientes estamos usando todo o nosso ser (corpo e mente) na produção de inúmeras videoconferências, na revisão de projetos de gestão, na adequação às redes sociais e muito mais. Focamos em posicionamento digital, queremos preparar bem as lives, que nos obrigam ser mais produtivos. Estamos sendo desafiados por um vírus que vem nos causando medos, apreensões, divisões e conflitos. Temos que ressignificar nossa consagração, voltar à fonte primeira.

Byung-Chul Han, um pensador coreano que se fixou na Alemanha, em sua obra “Cansaço dos Bons”, fala de uma sociedade configurada em torno de um excesso, tanto de positividade como de produtividade, que caracteriza a chamada “sociedade do desempenho”. A sociedade e os consagrados, com essa crise sanitária, estão sendo levados, nos últimos meses, ao excesso de positividade e de produtividade. Para Han, ao fazer uma análise patológica da sociedade, isso que estamos vivendo nada mais é do que uma série de males que variam conforme suas fases históricas. Os desafios do tempo trazem situações patológicas.

No século passado, a sociedade foi marcada por doenças virais e bacteriológicas que chegaram ao fim com a descoberta dos antibióticos pelo inglês Alexander Fleming, em 1928, pois os antibióticos podem ser bactericidas (matam) ou bacteriostáticos (impedem o crescimento).

Mesmo ciente de que a tecnologia voltada para a questão imunológica continua sendo um desafio, basta ver a procura da vacina para Covid-19, cientistas, pesquisadores ainda continuam lutando para vencerem a guerra bacteriológica.

No entanto, a questão discutida por Han é que muitas doenças típicas da atualidade não são decorrentes de infeções. São doenças provocadas por um excesso de positividade e, por isso mesmo, nenhuma técnica imunológica mostra-se eficaz para combatê-las.

Destarte, devemos entender que nós, consagrados, somos mente e corpo. Se existe uma mente existe um corpo. Uma mente sadia, um corpo sábio. Se o corpo adoece ele pode adoecer a mente, assim como a mente pode adoecer o corpo. Nesse tempo de pandemia, nós consagrados estamos sendo impactados em nosso corpo e mente pelo vírus Covid-19. Em relação ao corpo, o fazer-fazer pode nos adoecer e a nossa mente desenfreada, buscando saber e saber mais, pode ser afetada por grandes transtornos neuronais

Para Han, “a violência da positividade, que resulta da superprodução, superdesempenho ou supercomunicação, já não é mais viral”. A imunologia não assegura mais nenhum acesso a ela. A rejeição frente ao excesso de positividade não apresenta nenhuma defesa imunológica, mas uma ab-reação neuronal-digestiva, uma rejeição, manifestações de uma violência neuronal, que não é viral, uma vez que não podem ser reduzidas à negatividade imunológica.

No entanto, os consagrados devem cuidar e ser atentos em relação às doenças neuronais como a depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (Tdah), transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou a síndrome de Burnout (SB), apatia, stress, cansaço, esgotamento (físico, mental), síndrome do pânico, ansiedade e tantas outras podem vir do excesso da positividade e da produtividade.

Necessitamos cuidar de nossas mentes para dar agilidade ao nosso corpo e, cuidando do nosso corpo, nossa mente não será atingida pela violência neuronal. Nunca podemos esquecer da escola do Evangelho que nos fortifica na consagração

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