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08/06/2019 Ir. Dione Afonso, SDN Edição 3909 Os Jogos Online e a Vida em Jogo
F/PrintDaTelaDeBoasVindasDoFreeFire
"Toda essa relação, mesmo que, agradável, é puramente online. A relação é virtual, não real. São vínculos passageiros, sem raízes e sem conexões com a vida social. "

Frt. Dione Afonso, SDN

dafonsohp@outlook.com

 

Desde 2017 jogos online, como o Free Fire, vêm ganhando mercado significativo no mundo dos eletrônicos. As plataformas recriam um mundo virtual de ação e aventura onde os jogadores, numa espécie de ilha, buscam meio de sobrevivência adquirindo poder bélico, suprimentos e pontuação, afim de garantir seu tempo na plataforma. Com menos de um ano do lançamento, o Free Fire somou a marca dos 7,5 milhões de jogadores [downloads] e ganhou o prêmio de “Melhor Jogo online” pela Google Play Store em 2018.

 

A experiência do Free Fire

 

Juntamente com um grupo de jovens fiz a experiência de login numa conta do jogo online. A jogabilidade consiste num campo de batalha, avião e salto de paraquedas. Assim que há o pouso, o jogador deve sair à procura de armas e itens como equipamento médico, granadas, colete à prova de balas, capacete de proteção, mochila, facão, entre muitos outros objetos. O objetivo final do jogo é o jogador sobreviver numa ilha com até outros 50 jogadores online e, todos lutam pelo mesmo objetivo. Para cumprir sua missão, é necessário eliminar todos os adversários que o jogador encontrar pelo caminho e garantir que ele seja sobrevivente.

 

O jogo só é possível com conexão da internet. Na plataforma jogamos com jovens de todo o canto do mundo. Por meio desse jogo, os jovens criam também uma relação virtual de amizade e companheirismo. Por meio da plataforma, faz-se amizades, trocam-se contatos das Redes Sociais, cria-se vínculos e uma parceria agradável.

 

Toda essa relação, mesmo que, agradável, é puramente online. A relação é virtual, não real. São vínculos passageiros, sem raízes e sem conexões com a vida social. A experiência desses jovens ali é puramente “com os cabos, as ligações, o microfone e as vídeos chamadas. Não são reais, são pessoas num plano virtual que não tem nenhuma âncora de apoio com o mundo real social” [Spadaro, 2017].

 

A vida em jogo

 

No Free Fire as regras são claras: ou você mata, ou você morre! Na vida real, essa regra deve ser submetida à do evangelho: “todos devem ter vida plena” [Jo 10,10]. Esses jovens passam diariamente de 4 a 5 horas nessa plataforma virtual. O risco é que perdem o ritmo e as transformações do dia a dia na relação com os amigos, na escola, com os vizinhos, com a família... O jovem acaba criando uma vida on e off-line, como se isso fosse possível. “Não existe uma vida online e uma off-line. Existe uma vida, só uma, e temos que cuidá-la bem dela. Podemos ser digitais, não virtuais” [Ibid.].

 

Não raramente, identificamos nesses jovens problemas de relacionamento com a família, mal desempenho nos estudos, dificuldades em relações fraternas e das amizades. A plataforma virtual acaba tornando-se também um refúgio afim de fugir dos problemas e das situações desagradáveis do dia a dia.  “No Free Fire eu tenho domínio, em casa, na escola, no dia a dia eu sou dominado!” – disseram-me. Aqui, na vida real, todos devem viver.

 

Outro risco que o jogo on line acaba desencadeando é a formação de uma dupla personalidade, pessoas que sofrem de bipolaridade e de sentimentos atrofiados. Cada vez mais, não apenas os jovens, mas o jogo tem cativado desde crianças a partir dos 5 anos até adultos. E os problemas relacionados a relacionamentos, convivência e participação e presença familiar e social são cada vez mais tangíveis.

 

O papa e uma fala de esperança

 

Nossa vida social não deve se converter num Free Fire. O virtual não é real. Mas a família é real. Os sonhos são reais e a juventude também. Papa Francisco acentua três elementos essenciais numa de suas catequeses direcionada aos jovens:

 

1]. Ouçam os idosos: o papa convida os jovens a “ser cada vez mais próximos dos que têm mais tempo de vida. Os idosos carregam um tesouro preciso no coração: a experiência”. E ainda completa motivando-os a sempre “gastar tempo com os avós, com o idoso que mora em sua casa e não a se trancar no quarto vivendo uma realidade on line mas, morta, sem experiência real”. E, completa: “visite também os recantos, casas de repouso que são criadas afim de abrigar os idosos que por algum motivo são deixados. Lá vocês ouviram uma Boa Nova”.

 

2]. Partilhem a vida: o papa acredita que cada jovem tem que ter sempre um adulto como ponto de referência na fé e na vida de comunidade e familiar. “Nem sempre essa pessoa é o pai ou a mãe, mas um amigo, adulto, e que apresenta um bom testemunho cristão”. “Ele ou ela o ajudará a dar passos importantes na vida e no seu discernimento pessoal”.

 

3]. Não percam nunca suas raízes: por fim, o papa retoma o tema do “não formar uma sociedade desenraizada da vida”. Ele diz que jovens sem raízes são jovens sem passado e, consequentemente, jovens que não terão um futuro. “Nunca perca de vista a sua origem, de onde vieram, onde nasceram e viveram. Ali está sua raiz, sua origem”. O papa conclui afirmando que ao invés de nos fechar, fugir ou ignorar as situações difíceis que nos surgem, “devemos voltar no passado para nos recordar quem somos”, e nos exorta a “fazer de nossa história uma história de esperança e de conquistas, sendo jovens firmes na fé e perseverantes naquilo que sonhamos. Não façam das suas vidas um jogo onde alguém sempre tem que perder para que o outro ganhe. Não! Cristo quer que todos nós sejamos vencedores!”.

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