Acabamos de ver manifestações pela vida, pela vacina, pela democracia, pela garantia dos direitos humanos e da natureza em várias cidades brasileiras. Nas manifestações todos usavam máscaras e mantinham relativo distanciamento social. De forma ordeira, realizaram uma manifestação pacífica e democrática. Não obstante a forma, foram flagradas algumas atitudes de violência e intolerância por parte da força policial que não guardou a devida isonomia diante do ato público de manifestação popular.
Fato é que nossa democracia está fragilizada e esta fragilidade tem aumentado na medida em que os direitos humanos são ignorados, na medida em que se criam subterfúgios para driblar as leis de proteção às terras indígenas, das áreas de preservação ambiental, do abuso no uso dos agrotóxicos, no desmonte de instituições de defesa da vida humana e do planeta. Também na precarização das leis trabalhistas e previdenciárias... Em síntese, quando aproveitam o clima da pandemia do Corona Vírus para “ir passando a boiada”, a democracia é fragilizada, ignorada...
A democracia está fragilidade pela incapacidade de olhar com objetividade para os fatos e acontecimentos. Daí o negacionismo da ciência, de que o homem não teria alcançado a ida a lua e que a terra seria plana. Um “guarda-chuva” para esconder outras negativas como o negação da necessidade do isolamento social durante a pandemia ou como o negacionismo na eficácia científica da vacina e a crença em medicamentos sem eficácia comprovada. Quando não se lida com a realidade tal como ela se manifesta, cria-se uma ilusão, acredita-se em fantasias, vive-se uma esclerose coletiva na qual não se sabe por onde ir e como caminhar. Como gado, o povo deixa-se levar e isso revela também a fragilidade a democracia, pois quem não sabe aonde quer chegar, não sabe escolher um caminho, nem a maneira de caminhar.
Trabalho importante tem uma fé consciente e comprometida tal como Jesus a viveu, testemunhou, anunciou e pediu que fosse confirmada até os confins da terra. Pois quando a fé é instrumentalizada para servir a interesses particulares ou de determinados governantes, tornam a fé cega e sem direção. A fé de Jesus e a verdadeira fé em Jesus nos leva a abrir os olhos, a agir de forma consciente e responsável, nos leva a enxergar a realidade, nos leva a defender a vida sobretudo a dos mais pobres e sofredores.
Por isso quando em uma pregação religiosa se fala mais do demônio do que em Jesus, não abre os olhos, mas os fecha nos artifícios do medo. Quando se propõe o sucesso econômico como um investimento no qual Deus é obrigado a dar mais, torna cega a fé que impede de olhar para os necessitados e carentes. Quando a fé é orientada a olhar apenas para dentro de si mesmo e para a eternidade, ocultando a realidade, torna-se uma fantasia em que se pensa encontrar com Deus e não encontra, senão, com o próprio ego.
Torna-se urgente recuperar a fé de Jesus. Neste caso, não basta ter fé em Jesus, na sua divindade. Mais ainda, é preciso ter a fé de Jesus. Assim, podemos avançar de olhos abertos para os acontecimentos, encarar de frente a realidade e nela perceber a ação de Deus na história.
As manifestações a favor da vida, da liberdade de expressão, da democracia, pela vacina e pelo pão na mesa, para além de questões partidárias, apontam para a defesa e preservação da vida humana e do planeta anunciadas nos Evangelhos. É preciso que sejam olhadas com um olhar de fé mais profunda. Quem tem olhos pra ver, que veja o que o Espírito nos quer dizer neste momento de nossa história... No clamor do povo, ressoa um clamor do Espírito... Ouçamos o que o Espírito nos quer dizer!
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