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07/04/2023 Luis Miguel Modino Edição 3957 Paixão e morte da Amazónia e dos seus cuidadores ancestrais, os povos indígenas
F/ Pixabay
"No Brasil, o extermínio dos povos indígenas tornou-se política de Estado durante vários anos, com um governo que lhes negou todos os seus direitos, e que incentivou aqueles que se tornaram os executores de uma política de morte: garimpeiros, madeireiros, agronegócio..."

A morte dos povos indígenas é a morte da floresta. Numa Amazônia que caminha na sua Via Sacra no caminho da morte, podemos descobrir os sinais da Paixão, e estes sinais aumentaram nos últimos anos, colocando em perigo um dos pulmões do Planeta, e quando falta ar a um corpo, as hipóteses de sobrevivência estão a desaparecer.

No Brasil, o extermínio dos povos indígenas tornou-se política de Estado durante vários anos, com um governo que lhes negou todos os seus direitos, e que incentivou aqueles que se tornaram os executores de uma política de morte: garimpeiros, madeireiros, agronegócio... e tantos outros atores que se constituíram como usurpadores de territórios ancestrais e das vidas dos seus milenares cuidadores.

Expulsar os povos indígenas dos seus territórios, ou simplesmente matá-los a míngua, negando-lhes os seus direitos fundamentais, tem sido o caminho escolhido para tomar conta da Amazónia e das suas riquezas. Uma invasão milimetricamente preparada e orquestrada, que tem sido levada a cabo sem demora, causando muito sofrimento.

O que aconteceu com o povo Yanomami, um verdadeiro genocídio que levou à morte de centenas de indígenas, incluindo muitas crianças, é um exemplo de uma realidade que em maior ou menor grau se repete em muitos cantos da região amazónica, não só no Brasil, mas em todos os países que dela fazem parte. A corrida pelo ouro tem vindo a matar aqueles que se tornaram o seu principal obstáculo: os povos amazónicos, especialmente os povos indígenas.

Defender a Mãe Terra é uma obrigação para esses povos, que se sentem profundamente ligados a ela como resultado das suas cosmovisões. É algo muito mais profundo do que o fato de poder encontrar nela sustento ou benefício, é um sentimento espiritual que brota do mais profundo do seu ser e que os leva a defender aquilo que é a fonte da vida e da harmonia.

Os corpos emaciados, não só fisicamente, mas também espiritualmente, dos Yanomami são um exemplo do que está a acontecer na Amazónia, onde as feridas humanas são uma expressão de feridas ambientais. Feridas que corroem corpos, mas que também deixam cicatrizes internas num planeta e em povos que estão a render o Espírito, tal como o Crucificado, curvando a sua cabeça, rendeu o Espírito.

Isto sob o olhar de uma sociedade que não é diferente daquela que há quase dois mil anos atrás se encontravam aos pés da Cruz. Muitos impassível, desinteressados diante do sofrimento dos outros, muitos satisfeitos com a morte de alguém que dificultava a sua ânsia de poder e ganho inescrupuloso. No final das contas, os rostos dos crucificados são sempre semelhantes, perpassando a história, marcada pela morte, mas com a esperança de vida em plenitude, da Ressurreição em que muitos ainda acreditam, também da Amazónia, que, não esqueçamos, tem nos povos indígenas os seus grandes cuidadores.

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