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29/05/2023 Ir. Dione Afonso, SDN Edição 3959 PasCom e agentes de comunicação paroquial lidam com os desafios da tecnologia e da falta de espiritualidade pastoral Congresso lidou com a IA e o futuro das paróquias neste universo digital
F/Gerd Altmann via Pixabay
"O Conacomp, depois de cuidar dessa parte pastoral que se preocupa com a Espiritualidade do Comunicador, pois sem a prática e a vivência da espiritualidade, o comunicador se esvazia, fragiliza-se e se torna um sujeito vulnerável à crise, tanto pastoral, quanto de identidade. Não podemos fechar os olhos para a evolução dessas tecnologias. Primeiro, é preciso ter claro para nós que não podemos avançar na tecnologia em detrimento das relações humanas e do zelo da natureza. "

O Conacomp – Congresso Nacional de Comunicação Paroquial – na edição de 2023 abordou temas cruciais que iluminam o trabalho dos agentes responsáveis pela PasCom e pela comunicação paroquial em nossas comunidades e paróquias. Antes de aprofundar temáticas atuais como os perigos da IA (“Inteligência Artificial”) e as transformações que o ChatGPT provoca nas lideranças e nos serviços pastorais, palestrantes abordaram conceitos mais “antigos” e, talvez, esquecidos por nossos leigos e pelo clero como: a espiritualidade pastoral; a fraternidade; o diálogo e a acolhida em nossas comunidades; o auge dos “influencers”; metaverso; o algoritmo das Redes Sociais entre outros...

Primeiro, nota-se um certo egoísmo e liderança ambiciosa por parte dos agentes de comunicação por não trabalhar, antes de qualquer serviço, a Espiritualidade do Comunicador. E ser um agente de comunicação não é somente preocupar-se com o que postar nas Redes Sociais, o que transmitir em minha paróquia e nas comunidades, o que divulgar e o que não divulgar, mas é se preocupar com a oração, com a prática da comunhão e com o diálogo fraterno e amoroso com os fiéis de cada paróquia. Muitos agentes de comunicação perdem-se no caminho da fé e na comunhão por se tornarem apenas o “carinha” ou a “moça” que vai transmitir a missa ou que vai fotografar o evento para postar nos perfis oficiais da empresa. Onde que fica a fé? Onde estão os encontros de formação da PasCom e dos agentes de comunicação? Onde está o estudo, a partilha e a oração do que deveria ser uma pastoral a serviço da Igreja?

 

“Não promova eventos...”

Os agentes de comunicação, são conhecidos por tornar mais visível, atraente e mais comunicativo os acontecimentos e datas da paróquia e das comunidades. Entre uma e outra encontramos aqueles avisos “explosivos”, chamativos, “coloridos” convocando a comunidade paroquial para aquele evento juvenil onde se louva, pula, dança, senta e ouve uma palestra; louva, pula, dança, senta e ouve uma palestra; louva, pula dança, senta e ouve uma palestra... onde que fica a partilha? O diálogo? A experiência de vida? O desabafo, já que muitos jovens não encontram espaço em suas casas para conversar e expor suas dores e angústias? Temos que parar de nos preocupar em promover eventos em nossas paróquias e começar a construir espaços de experiência com nossos adolescentes, com os casais, com os jovens... Evento vem e passa, todo mundo se cansa, fica feliz, mas é uma felicidade passageira, some uma hora depois. Mas quando se encontra para viver uma experiência, para conversar, dialogar, partilhar a vida, aquilo permanece, marca, transforma a vida.

Atualmente o Brasil é o país com o maior número de influenciadores digitais, superando a China, Rússia e Estados Unidos. Uma pesquisa encomendada por Hootsuite e We Are Social afirma que o país brasileiro é “terreno digital fértil” para alavancar novos influencers digitais. O mercado digital é próspero. Com isso, é preciso que nossas paróquias e comunidades admirem essas tecnologias com mais interesse e fé. Vemos muitas personalidades católicas (padres ou não) que usam esses recursos e neles colecionam seguidores aos milhões. Por outro lado, encontramos, por exemplo, um padre que é responsável pela Pastoral Vocacional que não consegue e nem busca formas de gravar um vídeo de 1 minuto todo mês para postar nas redes oficiais. Um padre que é Presidente ou Superior de uma Ordem Religiosa não se esforça para fazer o mesmo. Muitas Casas Religiosas e paróquias não possuem nem mesmo um Canal aberto no YouTube e os que têm, não atualizam. Ficam no esquecimento porque desprezam ferramentas que tem o poder de melhorar e ampliar a divulgação da fé e a evangelização.

 

Metaverso, ChatGPT e Inteligência Artificial

Por fim, o Conacomp, depois de cuidar dessa parte pastoral que se preocupa com a Espiritualidade do Comunicador, pois sem a prática e a vivência da espiritualidade, o comunicador se esvazia, fragiliza-se e se torna um sujeito vulnerável à crise, tanto pastoral, quanto de identidade. Não podemos fechar os olhos para a evolução dessas tecnologias. Primeiro, é preciso ter claro para nós que não podemos avançar na tecnologia em detrimento das relações humanas e do zelo da natureza. Diante de falas do Magistério como a Laudato Sí’ (2015) e a Fratelli Tutti (2020), é preciso se preocupar com o lixo tecnológico que produzimos e com as “gigantes da tecnologia”, empresas que disfarçam a globalização com uma roupagem que esconde a exclusão digital e o desprezo com comunidades pobres e vulneráveis.

 

Imagens do pontífice criadas por IA viralizaram na internet. F/ Reprodução dia Twitter.

 

 

 O bate-papo iniciou-se com o advento do metaverso: uma realidade virtual que busca reproduzir, copiar o máximo possível a experiência real. Levar para um espaço virtual “as coisas”, pessoas e ações que realizamos no real. Quando uma foto do papa Francisco viralizou mostrando o pontífice usando um colete de alta costura, entramos na discussão sobre a IA: máquinas que operam e têm a capacidade de substituir ações humanas. O perigo? Produzir imagens e “realidades” de algo que não é verdade. Povoar a internet com informações falsas. Por fim, chega-se à era do ChatGPT, uma ferramenta de IA especialista em diálogo. Em outro artigo, reportamos a notícia de um padre húngaro que começou a utilizar a ferramenta para construir suas homilias. Não estamos aqui para levantar um juízo a respeito do uso dessas ferramentas, “a tecnologia é de grande ajuda para a humanidade. Portanto, nesse sentido, é um conforto para mim o compromisso de tantos que trabalham nestes campos para garantir que a tecnologia seja centrada no homem, fundamentada em bases éticas e orientada para o bem”, diz o papa Francisco em Audiência Geral.

Uma coisa é certa: há algo que essas ferramentas e essa tal “inteligência” nunca terá, o contexto. Nós, humanos, sempre teremos o respaldo da experiência, da partilha de vida, dos abraços, diálogo, nós teremos contexto. Numa conversa com o nosso povo fiel reunidos em nossas pequenas comunidades e em nossa paróquia para celebrar a Eucaristia, partilhar a vida, fazer suas orações, sempre teremos a experiência e o contexto para elaborar um discurso coerente e que se faça atual e atualizado para com a nossa gente. É preciso abrir rodas de conversa para refletir sobre o avanço das tecnologias e até em que ponto elas não ferem a ética e o cuidado com a Casa Comum e com o ser humano, sobretudo o excluído e o vulnerável.

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