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15/12/2022 Dr. Inácio José do Vale Edição 3954 Uma reflexão em torno do suicídio coletivo mais famoso da história   Pastor Jim Jones – 44 anos depois
F/ Pixabay
"Posso afirmar que ninguém foi tão perverso quanto esse líder religioso nas suas patologias. Ele reúne a sua maldade na blindagem do cargo eclesiástico, no poder econômico e na doença mental, daí a sua gigantesca crueldade."

“O fanatismo é alimentado por um sistema de crenças absolutas e irracionais que visa servir à um ser poderoso empenhado na luta contra o Mal. Geralmente os fanáticos que se tornam assassinos o fazem "em nome de Deus", ou em nome de um Outro qualquer”, afirma o Dr. Raymundo de Lima que é psicanalista, professor do Departamento de Fundamentos da Educação (UEM) e doutor pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Relembrando os fatos

Pastor Jim Jones (1931-1978), foi o fundador e líder da seita Templo dos Povos, famoso devido ao suicídio/assassinato em massa em novembro de 1978 de 918 dos seus membros em Jonestown, Guiana, além do assassinato do congressista Leo Ryan e de quatro mortes adicionais em Georgetown, capital guianense. Incluindo 304 crianças e adolescentes, foram assassinadas em Jonestown, quase todas por envenenamento por ingestão de cianeto. Jones morreu de um ferimento de bala na cabeça; suspeita-se que sua morte foi um suicídio.

Entre pequenas casas de madeira, os fiéis jaziam de bruços sobre a grama, abatidos pela ingestão de refresco envenenado. O líder e fundador do grupo, Pastor Jim Jones, foi encontrado junto aos discípulos, com um ferimento de bala na cabeça. O clima tropical acelerou a decomposição dos corpos, obrigando os soldados da força-tarefa do governo local a vestirem máscaras para enfrentar o mau cheiro que impregnava o ambiente. Apenas 87 moradores da comunidade sobreviveram à tragédia, híbrido de suicídio coletivo com assassinato em massa.

A perplexidade dos brasileiros, no entanto, passava por questões anteriores ao massacre: uma década e meia antes, Jim Jones havia morado no Brasil. Sua passagem por três capitais da região Sudeste (SP, MG e RJ), no auge da Guerra Fria, é parte de um quebra-cabeças cujas peças estão nos arquivos públicos do país, em antigas coleções de jornais e no acervo documental da própria seita, digitalizado pela Universidade Estadual de San Diego (na Califórnia, EUA).

Templo dos Povos dos Discípulos de Cristo comumente abreviado para Templo do Povo, foi um novo movimento religioso pentecostal fundado em 1955 por Jim Jones, em Indianápolis, Indiana, Estados Unidos. Jim Jones por um tempo morou em Belo Horizonte, fixando residência em Santo Antônio, bairro nobre da capital mineira.

Minhas Pesquisas

Foi a partir desse suicídio coletivo que fui motivado ardentemente a estudar Psicopatologia, Psicanálise, Sociologia da Religião e Psicologia, para entender o que se passa na cabeça de um psicopata, sociopata e comportamentos parafilíacos. Principalmente na cabeça de certos líderes religiosos. Dediquei quase dez anos da minha vida de pesquisas em religiões, seitas e grupos espiritualistas. Penetrei nos bastidores e nos envolvimentos de cultos e celebrações para saber as intenções, realizações sectárias e empreendimentos de crescimentos de tais líderes religiosos.

Uma outra motivação que levou-me aos estudos dos Novos Movimentos Religiosos, foi o renomado monge e teólogo Dom Estêvão Bettencourt, O.S.B. (1919-2008), diretor e professor da Escola Mater Ecclesiae, foi diretor e redator da revista apologética, Pergunte & Responderemos. Esta revista publicou vários dos meus artigos e como aluno de Dom Estêvão, tornei-me apologeticamente estudioso do fenômeno religioso.

Os resultados dessas pesquisas foram relevantes na abordagem da psicanálise na configuração paranoica do fanatismo e na psicoterapia como prática auxiliar em prol da saúde mental de adeptos ou ex-adeptos na ressocialização do convívio familiar, profissional, social e espiritual.

Extremo grau de perversidade

Posso afirmar que ninguém foi tão perverso quanto esse líder religioso nas suas patologias. Ele reúne a sua maldade na blindagem do cargo eclesiástico, no poder econômico e na doença mental, daí a sua gigantesca crueldade. O líder religioso patológico comete a transgressão com mais requinte de crueldade do que aquele criminoso que não é religioso. O campo religioso é muito propício ao ocultamento de muitas patologias e o indivíduo portador destas, sabe muito bem disfarçar, enganar e executar seus planos. Quando é descoberto os tais já tem cometidos vários delitos. As três marcas desses líderes religiosos são: idolatria pelo dinheiro (narcisista e hedonista), espetacularização pelo poder religioso e político (adora paramentos caríssimos e luxo) e a luxúria desenfreada.

Instituições sérias tem em seu quadro de Recursos Humanos, profissionais altamente qualificados em saúde mental para identificar, tratar e encaminhar portadores de tais patologias para os devidos procedimentos em prol da defesa da comunidade e da sociedade.

*Psicanalista Clínico, PhD. Especialista em Psicologia Clínica pela Faculdade Dom Alberto-RS.

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