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22/08/2020 Marcelo Barros Edição 3927 Quem é Jesus para nós
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"Jesus se identifica e se une não apenas às vítimas da exploração social, política e econômica. Jesus convive e 'come com as prostitutas e com as pessoas consideradas de má vida'."

Marcelo Barros

Neste XXI domingo comum do ano (A), o evangelho de Mateus 16, 13 – 20 nos faz retomar hoje a mesma pergunta que Jesus fez aos discípulos: E vocês, quem dizem que eu sou?

É normal que a mesma pessoa possa ser vista a partir de ângulos diversos a depender de quem a vê e da experiência que tem com ela ou ele.

Durante séculos, nos habituamos a ver Jesus a partir de imagens europeias. Apresentaram sempre um Jesus branco e identificado com títulos e funções de poder na sociedade ocidental. Foram astutos em trocar a mística do reinado divino no mundo (reino de Deus) pela espiritualidade do Cristo Rei, cujo poder é exercido através da Igreja e de seus legítimos representantes.

De fato, com exceção de duas ou três referências em obras de escritores do final do século I, o pouco que sabemos sobre Jesus nos vem do testemunho dos evangelhos. E estes já o veem a partir do olhar de comunidades cristãs que, mesmo baseadas em testemunhos mais antigos,  escreveram seus relatos a partir de 40 ou 50 anos depois da sua morte.

Estudos contemporâneos comparam relatos e fazem pesquisas arqueológicas sobre as sociedades do Oriente Médio no primeiro século. Em seus escritos, John Crossan mostra Jesus como “camponês judeu do Mediterrâneo”. Reza Aslan descreve o Jesus histórico como zelota. Ligando história e adesão da fé, José Antonio Pagola publicou vários livros para nos ajudar a redescobrir a humanidade de Jesus em seu mundo cultural, suas opções e sua proposta. Apesar de tudo isso, Jesus continua desconhecido, não somente para o mundo, mas sobretudo para as próprias Igrejas. Muitos preferem olhar Jesus como mito do que levar a sério sua humanidade e segui-lo como mestre de vida.

Há mais de 50 anos, as comunidades latino-americanas veem Jesus como o Cristo Libertador e recebem dele força e inspiração para a resistência em um mundo desigual e para testemunhar o projeto divino como justiça, paz, libertação para todos e comunhão com a Terra e toda a natureza. Para as pessoas comprometidas com a transformação do mundo, o que mais atrai na pessoa de Jesus libertador é que Ele assume esta função a partir da inserção no mundo como pobre, testemunhando o amor de Deus pelos pequeninos e vulneráveis do mundo e se identificando com eles nos diversos tipos de cruz em que até hoje a sociedade dominante os crucifica.

O desafio para as Igrejas e religiões estabelecidas é que Jesus se identifica e se une não apenas às vítimas da exploração social, política e econômica. O que mais escandaliza os religiosos é que Jesus convive e “come com as prostitutas e com as pessoas consideradas de má vida”.

Ainda hoje, mesmo eclesiásticos abertos ao social têm dificuldade de alargar esta abertura às relações de gênero, à luta contra o colonialismo não só econômico e social, mas também cultural e religioso. Até hoje estranham que, na festa de Natal, um grupo de humor cáustico e agressivo apresente a figura de um Jesus gay ou que, no desfile de Carnaval, uma escola de samba tome como enredo o Jesus da Gente. Não percebem que a luta maior do Jesus histórico foi justamente contra o poder religioso quando este pretende aprisionar Deus em sua gaiola sagrada.

Estudos mais atentos à História nos lembram que até a abertura do Canal de Suez, em 1864, a região da atual Palestina era considerada como pertencente à África. Portanto, Jesus nasceu, viveu e morreu como africano.

Neste domingo, 23 de agosto, anualmente a ONU celebra o Dia internacional da lembrança do tráfico de escravos e de sua abolição. E cada vez mais analistas sociais revelam que a sociedade brasileira se caracteriza por um racismo estrutural que ainda em nossos dias se expressa pela violência contra os pobres, especialmente as comunidades indígenas e os grupos remanescentes de Quilombos. E esta sociedade fez isso sempre relacionando o nome de Jesus com esta iniquidade.

Para nós, Jesus se revela nas vítimas e excluídos do mundo. A figura do nosso irmão e mestre Pedro Casaldáliga que nestes dias fez a sua Páscoa nos convida a retomar a palavra de Jesus que disse: “Tudo o que fizerdes a um desses pequeninos foi a mim que fizestes” (Mt 25, 31ss).

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