30/03/2024 – Quem rolará a pedra? (Mc 16,1-7)
Sim, o piedoso José de Arimateia, depois de envolver o corpo de Jesus em um lençol de linho, selara o túmulo, rolando à sua entrada uma pesada pedra (cf. Mc 15,46). Na vigília da mesma noite, as mulheres haviam comprado aromas para embalsamar o corpo de Jesus. Após o repouso do sábado, logo ao raiar do dia, elas se mexem e rumam para o túmulo com uma preocupação em mente: “Quem nos rolará a pedra?”
Para sua surpresa, Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, encontram a pedra já removida. O obstáculo já não existia. Entretanto, no interior da gruta, um anjo com aparência de jovem informa: “Não está aqui!” Jesus havia ressuscitado.
Jean Valette reflete: “Este elemento do ‘maravilhoso’, que é a presença do anjo, não se destina a embelezar o relato, nem a fornecer uma prova externa da realidade do acontecimento. Ele tem profunda significação teológica: com mais sobriedade e verdade que qualquer outro arrazoado – e, talvez, da única maneira possível -, ele diz que Deus passou por ali, que ele agiu, que ele introduziu no impossível humano o seu possível e, daí em diante, já não precisa de aromas.
‘Procurais Jesus de Nazaré, o crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui.’ Esta palavra do anjo se dirige sempre a nós. Toda busca de Jesus e de seu ensinamento que faz a economia da fé na ressurreição, ou que só vê nesta última um símbolo desse ensinamento, não é mais que a procura por um morto e por uma palavra morta. O Evangelho só tem verdade e força porque ele é uma pessoa ao mesmo tempo que uma palavra. Fora dessa pessoa, o Evangelho pode subsistir como doutrina e religião, mas não mais como poder.
‘Ide dizer a seus discípulos e a Pedro...’ Por que esta distinção entre Pedro e os discípulos como grupo? A menção ‘e a Pedro’ está ali, talvez, para atestar que o apóstolo, de quem não ouvimos mais falar depois de sua negação, não foi jamais desqualificado por ela e está reinvestido em seu cargo.”
Em poucas palavras, várias lições. É inútil alimentar preocupações com nossas perfumarias, como é inútil superestimar as pedras que deveremos rolar em nossa missão. Se a obra é de Deus, ele mesmo providenciará a remoção dos obstáculos. Além disso, a Palavra que nos foi confiada, enquanto Igreja, é muito mais que um texto sagrado repassado até nós como herança dos antigos. Não é em um livro santo, mas em uma Pessoa divina – o Filho de Deus – que se encontra o potencial de vida e salvação confiado às comunidades cristãs.
Nós não abandonaremos jamais a missão que Deus nos entregou. Cristo vive. A vida continua...
Orai sem cessar: “A tua promessa me faz viver...” (Sl 119,50)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.