Roteiros Pastorais Homilética
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17/03/2020 Dom Emanuel Messias de Oliveira Edição 3921 Quinta-Feira Santa - Ceia do Senhor - 9/04/2020
F/ Les richesses de la Bible
"Serão felizes se o puserem em prática. (Jo 13,17b)"

Quinta-Feira Santa - Ceia do Senhor - 9/04/2020

“Serão felizes se o puserem em prática.” (Jo 13,17b)

Leituras: Ex 12,1-8.11-14; Sl 115[116]; 1Cor 11,23-26; Jo 13, 1-15

 

  1. O sangue que salva. O texto de hoje é um memorial da Páscoa. Pretende atualizar a libertação de Deus em favor de seu povo que, agora, está oprimido não mais no Egito, mas na Babilônia. O trecho aponta para uma vida nova, para a libertação. Isso só pode acontecer através da solidariedade, do serviço do outro, da partilha. O cordeiro, ou o cabrito, deve ser partilhado com todos. Nada deve ser guardado. O que sobrar deve ser queimado (v. 10).

É uma festa da preservação da vida. O sangue passado na moldura das portas é sinal da proteção de Deus contra o sistema opressor, que será castigado. Carne assada, pães sem fermento e as ervas amargas, cinto na cintura, pés calçados, cajado na mão lembram a pressa, a disposição para a partida, a libertação das amarguras do Egito.

É a Páscoa-passagem do Senhor. Ele vai passar ferindo o Egito e libertando o seu povo. Este memorial deverá ser celebrado como instituição perpétua. A Páscoa judaica prefigura a Páscoa cristã, que conserva alguns elementos da antiga; o início de uma nova era, a partilha, a preservação da vida e o memorial da ação de Deus em favor do povo.

 

  1. Em minha memória. A Eucaristia é um memorial das ações de Deus através de Jesus em favor do seu povo. É memória viva de Jesus. É o sinal que anuncia a sua morte e ressurreição para nós, no período entre a sua partida e o fim, ou seja, a sua nova vinda.

Em 1Cor, é a primeira vez que se coloca por escrito a tradição do rito eucarístico. Depois vai aparecer o texto dos evangelhos com pequenas variações. A ceia eucarística, ou a Páscoa cristã, foi celebrada por Jesus pela primeira vez na quinta-feira santa.

Depois da ação de graças, Jesus parte o pão, dizendo que aquilo é o corpo dele. Este corpo é entregue por nós, ou seja, para a nossa salvação. E Jesus pede que repitamos este gesto para celebrar sua memória. Depois da ceia, Jesus toma o cálice com vinho, afirmando que ele é a nova aliança em seu sangue, dizendo que sempre que dele bebermos, devemos fazê-lo em sua memória. Este gesto será sempre o anúncio da morte do Senhor, até que ele venha. Estamos diante do supremo gesto da entrega de amor por nós, que será realizado na cruz, mas celebrado com antecipação.

 

  1. Eu vos dei o exemplo. O lava-pés narra o significado da Ceia Eucarística, que é partilha de vida através do serviço mútuo. É curioso que João não narra a ceia, nem faz referência à Páscoa dos judeus, apenas diz que tudo aconteceu durante a ceia e foi antes da festa da Páscoa. É que Jesus rompe com o judaísmo, com seus dirigentes, com seu sistema opressor. Jesus abre uma nova era. Institui uma nova Páscoa, onde o serviço ao outro, a partilha e a comunhão são os elementos básicos.

A introdução é muito solene. Nela se exprime a consciência clara que Jesus tem de que a hora de sua entrega total havia chegado. Ele a assume conscientemente. O verbo “saber” aparece diversas vezes, salientando esta consciência. Seu amor é levado à plenitude. O antiprojeto do diabo já havia se instalado no coração do traidor Judas.

O lava-pés é uma expressão de serviço. Jesus retira o manto, que é sinal de dignidade, e pega uma toalha-avental, que é sinal de serviço. Quer dizer, o Senhor se torna servo. Não se diz o nome do primeiro apóstolo cujos pés Jesus lavou. O evangelista quer salientar que o amor não tem preferências. Jesus faz tudo sozinho para mostrar que seu serviço é total. É total e vai até à cruz, pois Jesus, depois, retoma o manto da sua dignidade sem tirar o avental do seu serviço. Isto significa que ele volta à posição de homem livre, mas conserva sua disposição de servir até o fim.

Pedro não quer que Jesus lave seus pés, pois ele não rompeu ainda com o sistema de classes. Ele é súdito e Jesus é o Senhor. Pedro ainda não aceita uma comunidade onde todos sejam iguais. Ele legitima a desigualdade de classes. Mas Pedro precisa converter-se, do contrário não terá parte com Jesus. É só diante desta ameaça que Pedro muda, mas continua entendendo o lava-pés como um simples rito de purificação, e não como a essência da vida cristã, ou seja, o serviço mútuo. O rito da purificação não diz tudo, pois Judas também participou e continuou sujo com seu antiprojeto de morte.

No final, Jesus dá explicação de sua atitude. Ele é, realmente, o Mestre e Senhor, mas lavou os pés dos discípulos, para eles seguirem seu exemplo, lavando os pés uns dos outros, ou seja, colocando-se a serviço uns dos outros como um servo que não busca recompensa.

 

 

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