Quinta-Feira Santa - Ceia do Senhor - 9/04/2020
“Serão felizes se o puserem em prática.” (Jo 13,17b)
Leituras: Ex 12,1-8.11-14; Sl 115[116]; 1Cor 11,23-26; Jo 13, 1-15
É uma festa da preservação da vida. O sangue passado na moldura das portas é sinal da proteção de Deus contra o sistema opressor, que será castigado. Carne assada, pães sem fermento e as ervas amargas, cinto na cintura, pés calçados, cajado na mão lembram a pressa, a disposição para a partida, a libertação das amarguras do Egito.
É a Páscoa-passagem do Senhor. Ele vai passar ferindo o Egito e libertando o seu povo. Este memorial deverá ser celebrado como instituição perpétua. A Páscoa judaica prefigura a Páscoa cristã, que conserva alguns elementos da antiga; o início de uma nova era, a partilha, a preservação da vida e o memorial da ação de Deus em favor do povo.
Em 1Cor, é a primeira vez que se coloca por escrito a tradição do rito eucarístico. Depois vai aparecer o texto dos evangelhos com pequenas variações. A ceia eucarística, ou a Páscoa cristã, foi celebrada por Jesus pela primeira vez na quinta-feira santa.
Depois da ação de graças, Jesus parte o pão, dizendo que aquilo é o corpo dele. Este corpo é entregue por nós, ou seja, para a nossa salvação. E Jesus pede que repitamos este gesto para celebrar sua memória. Depois da ceia, Jesus toma o cálice com vinho, afirmando que ele é a nova aliança em seu sangue, dizendo que sempre que dele bebermos, devemos fazê-lo em sua memória. Este gesto será sempre o anúncio da morte do Senhor, até que ele venha. Estamos diante do supremo gesto da entrega de amor por nós, que será realizado na cruz, mas celebrado com antecipação.
A introdução é muito solene. Nela se exprime a consciência clara que Jesus tem de que a hora de sua entrega total havia chegado. Ele a assume conscientemente. O verbo “saber” aparece diversas vezes, salientando esta consciência. Seu amor é levado à plenitude. O antiprojeto do diabo já havia se instalado no coração do traidor Judas.
O lava-pés é uma expressão de serviço. Jesus retira o manto, que é sinal de dignidade, e pega uma toalha-avental, que é sinal de serviço. Quer dizer, o Senhor se torna servo. Não se diz o nome do primeiro apóstolo cujos pés Jesus lavou. O evangelista quer salientar que o amor não tem preferências. Jesus faz tudo sozinho para mostrar que seu serviço é total. É total e vai até à cruz, pois Jesus, depois, retoma o manto da sua dignidade sem tirar o avental do seu serviço. Isto significa que ele volta à posição de homem livre, mas conserva sua disposição de servir até o fim.
Pedro não quer que Jesus lave seus pés, pois ele não rompeu ainda com o sistema de classes. Ele é súdito e Jesus é o Senhor. Pedro ainda não aceita uma comunidade onde todos sejam iguais. Ele legitima a desigualdade de classes. Mas Pedro precisa converter-se, do contrário não terá parte com Jesus. É só diante desta ameaça que Pedro muda, mas continua entendendo o lava-pés como um simples rito de purificação, e não como a essência da vida cristã, ou seja, o serviço mútuo. O rito da purificação não diz tudo, pois Judas também participou e continuou sujo com seu antiprojeto de morte.
No final, Jesus dá explicação de sua atitude. Ele é, realmente, o Mestre e Senhor, mas lavou os pés dos discípulos, para eles seguirem seu exemplo, lavando os pés uns dos outros, ou seja, colocando-se a serviço uns dos outros como um servo que não busca recompensa.