A cidade fervilha. Eu, uma ilha cercada de cimento,
O que nos resta de sentimento, sem dó, e endurece.
Nesta festa de rumores, pó e buzinas,
Quem ouvirá minha prece, saberá minha sina, sentirá minhas dores?
Haverá que não me apresse e me diga: vou contigo aonde fores?
A cidade fervilha. Eu, na escotilha dum navio que teima em singrar,
Que queima seu molhado pavio.
Mas, que mar? Que mar? De pedra e gelo? De um sol demasiado frio?
Melhor não sê-lo, melhor não-mar...
No desfiar deste novelo, quem se fia na indiferença,
Desvia os olhos do irmão que passa:
Eis aí sua triste crença, bebe, então, sua amarga taça!
A cidade fervilha. Escuto um choro:
Entre os pés e o cerebelo haverá um coração?
A cidade fervilha. Eu, uma ilha a olhar o semáforo dos olhos do foro... e a gritar:
- Perdão, Senhor, perdão!