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14/09/2023 Luis Miguel Modino Edição 3963 Seminário de Ecoteologia, “um casamento feliz da fé cristã com a Ecologia”
"O cardeal Steiner destacou que depois de Laudato Si a questão ecológica não pode estar mais ausente das nossas reflexões teológicas, mas também não pode estar ausente da nossa ação evangelizadora..."

Organizado pela Faculdade Católica do Amazonas, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), a Arquidiocese de Manaus, a Comissão Episcopal para a Amazônia e o Regional Norte1, acontece no Centro de Treinamento de Lideranças da Arquidiocese de Manaus (Maromba), de 13 a 15 de setembro de 2023, o Seminário de Ecoteologia.

Ecologia e evangelização

Um momento para “aprofundar a questão da ecologia ligada à evangelização”, segundo dom Leonardo Steiner, que insistiu no “desejo de deixarmos tomar pelo Mistério presente em toda a Criação do qual fazemos parte, de tentarmos deixarmos inspirar para ver a presença do Verbo de Deus, ver nas criaturas o mesmo pertencimento que nós temos”.

Segundo o arcebispo de Manaus, “deixarmo-nos tomar pela questão ecológica é muito exigente, deixarmo-nos inspirar por aquilo que não são objetos, são cintilações do amor de Deus, e fazer com que tudo isso esteja presente em nossa evangelização, não como ações pontuais, mas que se tornem elemento transversal na nossa evangelização”. O cardeal Steiner destacou que “depois de Laudato Si a questão ecológica não pode estar mais ausente das nossas reflexões teológicas, mas também não pode estar ausente da nossa ação evangelizadora”.

Dom Leonardo recordou a visão que surgiu na Idade Média de todos os seres como um bem que se difunde, fazendo um chamado a resgatar o logos presente em todas as criaturas, as sementes do Verbo em todas as criaturas. Segundo o cardeal, temos muito a aprender com os povos originários e de seu modo de convivência. Se faz necessário entender o logos como relação com as criaturas, o que deve levar a pensar na relação que se estabelece entre nós e com as criaturas.

O cardeal franciscano lembrou que o Cântico das Criaturas de São Francisco surgiu depois de uma noite de crise em que depois de reconhecer a presença misericordiosa de Deus descobre que todo está interligado. Nessa perspectiva, o presidente do Regional Norte1 destacou que o logos pede de nós em primeiro lugar uma admiração, afirmando que se o discurso teológico parte de uma admiração traz outra perspectiva. É por isso que não podemos ter medo de fazer uma outra reflexão a partir do pensamento do Papa Francisco.

Ecoteologia, na liturgia, catequese, pastorais e movimentos

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia de Itacoatiara e secretário da REPAM-Brasil mostrou a alegria de poder celebrar na Amazônia este Seminário. O bispo fez um chamado a que “continuemos crescendo nessa vontade de conhecer mais e melhor essa questão da ecoteologia”, destacando que esse é um assunto do dia a dia na Amazônia, que deve fazer parte de todas as dimensões da Igreja na Amazônia. Ele refletiu sobre o desafio de levar para a base a ecoteologia, na liturgia, catequese, pastorais e movimentos.

O diretor da Faculdade Católica do Amazonas, padre Hudson Ribeiro, destacou a importância de um encontro que faz possível “produzir ecoteologia e ecoespiritualidade a partir da sororidade, do bem viver, da escuta, dos diálogos, de tantos desafios socioambientais”, denunciando a violência, destruição e morte contra o bioma e os povos amazônicos. Diante disso, ele fez um chamado à “esperança no Ressuscitado que está no meio de nós e que caminha conosco, e que é sinal de resiliência, expressão de resistência, mas também testemunho martirial, de valorização e reconhecimento dos saberes e da espiritualidade dos povos amazônicos, e sobretudo de fé no meio da vida, do Deus que nos convoca a defender essa vida e a promovê-la em todas as circunstâncias”.

“Cristo aponta para a Amazônia”

Lembrando as palavras do Papa Paulo VI: “Cristo aponta para a Amazônia”, a Ir. Maria Irene Lopes afirmou que “hoje direcionamos nossos olhares, nossas mentes e corações para Manaus”. Isso diante do início de um momento de reflexão, discussões e debate, “que nos leva a olhar para a Teologia com uma perspectiva um tanto diferente”, segundo a secretária executiva da REPAM-Brasil. A religiosa afirmou ser uma convocatória a “uma reflexão teológica a partir da vida, do chão, dos rios, das matas, das florestas, do nosso povo, de cada um de nós”.

A Ecoteologia é vista pelo Ir. Afonso Murad como “um casamento feliz da fé cristã com a ecologia”. O religioso Marista, um dos maiores especialistas nesse campo teológico no Brasil, insistiu na necessidade de uma interação com a natureza, um aspecto relevante numa sociedade cada vez mais urbana, onde se fazem presentes aqueles que ele denominou “analfabetos ecológicos”. Murad falou dos três igarapés da Ecologia: Ciência, um novo modo de ver o mundo (paradigma), e práticas de cuidado com a casa comum, afirmando que a ecoteologia está ligada à questão das políticas públicas.

Segundo o religioso Marista, a Teologia é o “exercício de pensar, refletir sobre a nossa fé e tudo o que está ligada com ela, e pensar sobre a nossa vida com a luz da fé”. Ele estabeleceu três degraus da Teologia: Teologia do dia a dia, iniciação à teologia ou teologia na pastoral, teologia acadêmica. Murad insistiu em usar uma linguagem que as pessoas entendem, incentivar a formação do laicato, e mostrou o desafio constante de uma comunicação entre as três, uma aprender da outra.

Amazonizar...

“Nós povos indígenas temos muito a contribuir com essa reflexão, cada um desde os conhecimentos de seu povo”, afirmou o padre Justino Sarmento Rezende, salesiano do povo tuyuka. Segundo o doutor em antropologia, “ser sacerdote, religioso, nos leva para muito longe e não permite voltar às nossas origens. É importante retornar, voltar com outro olhar que a vida religiosa, sacerdotal proporcionou para você”.

Partindo da concepção xamânica do mundo, própria dos povos originários, ele apresentou a cosmovisão dos povos do Alto Rio Negro, região onde o salesiano nasceu, que diz que o mundo está organizado em três níveis: Bupoamahsã (gente trovão), mahsã (pessoas) – yukumasã (gente floresta), e waimahsã (gente peixe). O padre Justino insistiu na ligação entre a vida dos povos indígenas e a vida cósmica.

Ele fez um chamado a “amazonizar nossa cabeça”, lembrando as palavras do Papa Francisco durante o Sínodo para a Amazônia, fazendo ver aos povos da Amazônia que “precisam visibilizar o que vocês fazem lá”. É por isso que o salesiano indígena convidou a mergulhar na espiritualidade dos povos indígenas. Analisando as cosmovisões indígenas, ele falou do conceito de caminhos, em diferentes níveis, mas todos interligados, e da cosmovivência dos povos amazônicos como elemento que vai contribuir para a reflexão da Ecoteologia.

Com relação à Ecopolítica, a professora Iraildes Caldas Torres afirmou que diz respeito a questões socioambientais e aos conflitos ecológicos, éticos e económicos. A professora da Universidade Federal do Amazonas definiu essa ciência como o “estudo das relações políticas referentes à proteção do planeta, seu ambiente natural, os ecossistemas e seus recursos”, ressaltando que “o objeto não é o meio ambiente e sim as relações políticas sobre o meio ambiente”.

A professora falou de quatro argumentos no contexto das negociações climáticas: a ciência não deve ditar as escolhas políticas; é preciso buscar saídas negociadas; não adianta soluções perfeitas, ideais, mas que não são aceitas pelos países; equidade econômica e social, levar em conta os direitos dos estados e dos indivíduos. Ela defendeu que “é preciso ter uma política de controle da espécie humana”, destacando o papel fundamental da Igreja na organização e formação das comunidades do interior da Amazônia.

 

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