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02/04/2021 Robson Ribeiro Edição 3935 Servir: uma atitude pascal diante das fragilidades humanas
F/ Pixabay - Gerd Altmann
"Somos convocados a nos colocar no processo de reinvenção do cotidiano. Uma nova criatura deve nascer desta condição e, diante disso, somos responsáveis pela mudança que desejamos no mundo."

Robson Ribeiro

Aproximamos do ponto mais importante da Semana Santa. Vivemos um período de grande provação por conta do isolamento social do novo corona vírus. Nossa vida tomou outro rumo e tem outro significado, estamos mais atentos ao que podemos ou não fazer.

Ao acompanharmos o caminho feito por Jesus desde sua chegada à Jerusalém no Domingo de Ramos, agora ele já se prepara para o que está por vir. Na quinta feira, temos dos momentos importantes: a Santa Ceia, a última refeição que Jesus faz com os discípulos e o rito do lava-pés.

Jesus sabe que seus discípulos não entendiam o momento crucial que estavam vivendo, nem compreenderiam tudo que estaria por vir e a forma como eles deveriam agora. Diante da fragilidade humana, Jesus tem calma, é atencioso, procura conversar com seus amigos e, acima de tudo, escuta-os, pois sabe que eles tem perguntas e alguns questionamentos.

Desta forma, como nos apresenta Padre Adroaldo Palaoro, Jesuíta, devemos contemplar o gesto do Lava-pés, que está no Evangelho de João 13,1-17: “observe silenciosamente os gestos de Jesus, pois todos eles possuem uma sacralidade própria, uma reverência, uma paz e calma especial. Não há pressa, não há agressividade, não há nada que possa dar a mínima aparência de algo que fosse obrigado”.

Essa situação, a realidade que Jesus vivia demonstra a sua completa entrega ao projeto de Deus e, acima de tudo, a sua entrega ao projeto de Deus. Padre Adroaldo, continua sua reflexão ao afirmar que: “O gesto do ‘lava-pés’ é exemplar para todo(a) seguidor(a) de Jesus Cristo; constitui um dos gestos mais expressivos da missão e da identidade para aqueles que exercem algum serviço em sua comunidade”. De fato é preciso que nos aproximemos dos mais frágeis, apresentemos a eles o amor de Jesus e, em nossa condição possamos lavar os pés uns dos outros, como gesto de amor de dedicação ao próximo.

Deus se manifesta no serviço aos simples

Em um período de grandes problemas sociais, que comprometem a nossa relação humana, é na amizade e na relação com o outro que podemos ver a mão de Deus. Jesus, ao se colocar como servo para seus discípulos tira o seu manto, se ajoelha e inicia o ritual para lavar os pés do seus discípulos. “Jesus está no meio das pessoas como Aquele que serve; por isso ‘despoja-se do manto’ (sinal de dignidade do “senhor”) e pega o avental (toalha, ‘ferramenta’ do servo). É o Senhor que se torna ‘servo’. O amor-serviço tem como primeiro símbolo o avental. ‘Despojar-se do manto’ significa ‘dar a vida’ sob a forma de serviço”.

Para tanto, compreender este total despojamento para com o próximo e viver a sua vida em função do outro é o que nos encanta nos gestos de Jesus. Sua vida toda foi de dedicação ao outro e seu empenho era de fazer o bem e se colocar à serviço, por isso que “A cena do lava-pés revela profundidade e delicadeza, mútuo dom e acolhimento, comunhão e pressentimento. É um gesto profético, repleto de generosidade e de humildade.”

Caminhar sempre junto ao povo

É a partir desta concepção que devemos observar na realidade o que temos de bom e como tratar o outro? Como se colocar como servo, como ser amigo e acolhedor em momentos e dor e perda, como o que vivemos agora com a pandemia da COVID-19?

Assim, observamos que é importante que saibamos onde queremos chegar. Nossa vida tem que ser um constante caminhar junto com o povo e buscar uma proposta de libertação das amarras que nos aprisionam na realidade que vivemos. Tomamos as atitudes de Jesus de forma a sermos mais coerentes.

É necessário sair em missão, visitar, mesmo que virtualmente, em meio à pandemia, há sempre alguém esperando nossa visita, aguardando um momento de conversa que nos aproxima do outro. “Há pessoas que aguardam nossa presença compassiva e servidora, nosso coração aberto, nossa acolhida e cuidado... Sempre teremos ‘pés’ para lavar, mãos estendidas para acolher, irmãos que esperam por nós, situações delicadas a serem enfrentadas com coragem...”

Diante de tudo que é narrado sobre o Lava-pés no Evangelho de João devemos observar o caminho que Jesus trilha: ao levantar da mesa, tira o seu manto, uma atitude individual que é o proposito dele como mestre, mostrar a sua forma de agir e servir, “assume, em tudo, a condição de servo, para servir. Troca o manto pela toalha-avental: este parece ser o distintivo fundamental, divisor de águas entre a religião antes e depois de Jesus Cristo. Não há serviço sem se despir de todas as aparências de poder, de força, de prestígio”.

Reinventar o cotidiano

Após cumprir o todo o processo do lava-pés, há uma realidade que é singular em toda a sua ação. Jesus não se importa com o prestigio de qualquer cargo ou função. Ele deseja, de todo o seu ser, continuar servindo a Deus e aceita o seu projeto. Ao regressar para a mesa com seus discípulos Jesus não tira o avental. Ele retorna ao local que estava, “repõe o manto, mas não depõe a toalha-avental. Ele assume e visibiliza uma nova realidade que caracteriza o novo modo de ser, que é próprio dos cristãos.”

Por isso, Jesus deve ser nosso exemplo a ser seguido pela sua ética e seu comportamento. Ele assumiu seu modo de ser, veio transformar o mundo, começando com a sociedade de sua época. Assim, tratar o próximo com respeito, é um dos grandes desafios da atualidade.

Somos convocados a nos colocar no processo de reinvenção do cotidiano. Uma nova criatura deve nascer desta condição e, diante disso, somos responsáveis pela mudança que desejamos no mundo. Que a partir desta Semana Santa, como há um ano em meio a pandemia, possamos nos recolher e fazer da nossa vida um constante momento de oração e agradecimento a Deus por tudo que conquistamos. Que possamos olhar para nossa vida e recriar a esperança, sinalizar a Páscoa, passagem para outro jeito de viver: mais humano e mais ético; lavando os pés de todos, sem distinção.

Robson Ribeiro de Oliveira Castro – Leigo, casado, pai da Emília e do Francisco. Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH. Membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.

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