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17/09/2019 Ir. Dione Afonso, SDN e Christian Maia Edição SETEMBRO AMARELO: número de suicídios e faixa etária assusta Casos de suicídio assusta o Ministério da Saúde. Segundo o DATASUS, houve um crescimento de 14,4% e a faixa etária dos casos apresenta maior percentual entre os 09 e 19 anos.
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"A criança não apresenta inclinação a atividades que na sua faixa etária lhe dariam prazer e alegria. E, percebe-se também uma tristeza em seu rosto pelo simples fato do paciente, seja criança, adolescente ou jovem, em não sorrir"

SETEMBRO AMARELO: número de suicídios e faixa etária assusta

 

Casos de suicídio assusta o Ministério da Saúde. Segundo o DATASUS, houve um crescimento de 14,4% e a faixa etária dos casos apresenta maior percentual entre os 09 e 19 anos.

 

Christian Maia Moreira *

christian.maia@sga.pucminas.br

 

Frt. Dione Afonso, SDN *

dafonsohp@outlook.com

 

 

Belo Horizonte lidera o ranking de casos do suicídio na Região Metropolitana, seguido por Contagem, segundo dados do DATASUS. Nos últimos quatro anos houve um aumento de 12% de casos na capital mineira. Oito vezes maior que o município de Contagem. Desde 2015, o Centro de Valorização da Vida – CVV –, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria cria o movimento “Setembro Amarelo”, uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS – nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas. “A prevenção é fundamental para reverter essa situação, garantindo ajuda e atenção adequadas”.

 

Setembro Amarelo

A Organização Mundial de Saúde – OMS – aponta que mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, uma a cada 40 segundos. Atentado suicida é a segunda principal causa de morte entre os adolescentes e jovens, perdendo para o assassinato por armas de fogo. No Brasil o suicídio atinge a marca dos 11 mil casos por ano, uma média de 32 casos por dia.

A primeira medida preventiva é a educação. “É preciso perder o medo de se falar sobre o assunto. O caminho é quebrar tabus e compartilhar informações. Esclarecer, conscientizar, estimular o diálogo e abrir espaço para campanhas contribuem para tirar o assunto da invisibilidade e, assim, mudar essa realidade” [setembroamarelo.org.br]

Segundo o CVV, hoje 32 brasileiros se suicidam diariamente. No mundo, ocorre uma morte a cada 40 segundos. Aproximadamente 1 milhão de pessoas se matam a cada ano. Sabe-se que os números são muito maiores, pois a subnotificação é reconhecida. Além disso, os especialistas estimam que o total de tentativas supere o de suicídios em pelo menos dez vezes.

 

Conversa com os profissionais

Em conversa com os profissionais dos postos de saúde e, também psicólogos e psicanalistas de Belo Horizonte, foi-nos possível traçar dois focos essenciais: os principais sentimentos que as vítimas apresentam e, também, um possível caminho de prevenção. “O que é assustador para mim – afirma Bruno Baldessarelli, psicólogo – é que meu consultório começou a se encher de adolescentes. A cada dia, mais e mais casos de crianças de 10 e 11 com um grave índice de depressão e também com o corpo mutilado estão surgindo”.

Baldessarelli, em entrevista, sente certa dificuldade em traçar um quadro diagnosticável. E, o mesmo acontece com a psicanalista Fernanda Moreira, formada pela UFMG: “não tem como traçar uma receita que nos mostre que alguém vai se matar. Sobretudo uma criança, ou um jovem cheio de vida. A psicologia ainda não conseguiu responder isso”. Fernanda diz que a psicologia, tenta ajudar quem apresenta esses casos, no entanto, a aceitação é o maior desafio para que o tratamento seja bem sucedido, sobretudo, se o contexto social e familiar não proporciona um estilo de vida saudável e estruturado como é o caso que ela nos relata: “Uma adolescente de 13 anos chegou em meu consultório. Ela apresentava um diagnóstico de depressão crônica e de autoextermínio. Era uma criança tímida, calada e, no decorrer das sessões foi revelando um contexto familiar bastante conturbador. O pai, alcóolatra, terminou como morador de rua; a mãe, sem rumo, sem laços afetivos familiares, muda-se pra São Paulo para tentar a vida. Nisso, a avó fica com a guarda da adolescente, pois a mãe não quis assumir a sua maternidade. A avó, em estado de desespero e revelando um imenso carinho e amor pela neta, continuou acompanhando o tratamento. No entanto, a diretora da escola onde a adolescente estuda acionou o Conselho Tutelar ao perceber que a menina apresentava cortes no corpo. Uma criança totalmente sem referências tanto emocional, quanto estrutural, sobretudo familiar. Ela já apresentava uma vida sexual ativa e, riscos de, nessa faixa etária com suspeitas de gravidez. Tendo que lhe dar com uma rejeição familiar, pois a mãe não quis mais a presença da filha, o pai, sem contatos, sua convivência com a avó não foi das melhores. A adolescente não apresentava desejo de viver, não buscava o tratamento com a intenção de se curar e melhorar sua vida. Isso não era importante pra ela”.

 

Situação Social

Adriana Silva, profissional do Centro de Saúde Carlos Chagas no bairro Santa Efigênia afirma que “os postos de saúde vão-se enchendo de adolescentes e jovens que apresentam casos de depressão profunda e indícios suicidas”. Quando questionada sobre o como identificar, ela diz que não existe outra forma a não ser a conversa. “Somente sentando do lado da criança e fazendo o esforço em ouvi-la que vamos possivelmente identificar indícios de depressão. E os sintomas que aparecem são: desânimo em estudar, em acordar, em brincar. A criança não apresenta inclinação a atividades que na sua faixa etária lhe dariam prazer e alegria. E, percebe-se também uma tristeza em seu rosto pelo simples fato do paciente, seja criança, adolescente ou jovem, em não sorrir”, completa Adriana.

Os quadros desse drama social não se encerram apenas nos centros de saúde e consultórios com os psicólogos. O ambiente mais propício onde identificamos esses casos são as escolas, como nos relatou a psicopedagoga Flávia Cristina Patrícia Silva que é coordenadora pedagógica de uma instituição de ensino no bairro São Tomaz, BH. “O número de crianças que apresentam alterações de humor, deficiência de aprendizado, insatisfação é bem comum nas escolas”, afirma Flávia. O contexto familiar é uma das principais reclamações dos adolescentes. A ausência dos pais na educação e nos momentos do lazer na vida dos filhos é o principal fator para que ocorra este aumento de casos numa faixa etária tão vulnerável, completou Flávia numa visita às escolas do bairro.

O suicídio é um ato de comunicação

Isolamento, mudanças marcantes de hábitos, perda de interesse por atividades de que gostava, descuido com aparência, piora do desempenho na escola ou no trabalho, alterações no sono e no apetite, frases como “preferia estar morto” ou “quero desaparecer” podem indicar necessidade de ajuda. O suicídio é um ato de comunicação. Quem se mata, na realidade tenta se livrar da dor, do sofrimento, que de tão imenso, parece insuportável.

Mas como buscar ajuda se muitas vezes a pessoa sequer sabe que pode receber apoio e que o que ela sente naquele momento é mais comum do que se divulga? Ao mesmo tempo, como é possível oferecer ajuda a um amigo ou familiar se também não sabemos identificar os sinais e muito menos temos familiaridade com a abordagem mais adequada? É fato que o suicídio é um fenômeno complexo, de múltiplas determinações, mas saber reconhecer os sinais de alerta pode ser o primeiro e mais importante passo [setembroamarelo.org.br].

A rotina social que nós nos submetemos hoje são rotinas “tóxicas” e que não permitem que os pais entendam o que os filhos tentam comunicar. Com suas ações, comportamentos, rotinas, os filhos, jovens estão “gritando por salvação, por ajuda” para que quem está próximo possa ouvi-los e ajuda-los. A iniciativa do Setembro Amarelo coloca o ato de educar como o principal mecanismo para aliviar esse quadro assustador do suicídio entre adolescentes.

O Portal do Ministério da Saúde, o DATASUS, segundo a Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais, em todo o Estado há uma média de 3 suicídios por dia. Em 2016 o número de idosos que suicidaram teve um crescimento de 14,4%. Três anos após essa pesquisa esse número provocou um retrocesso dando lugar ao suicídio entre adolescentes e jovens que cresceu 9% e quem vem aumentado.

 

Belo Horizonte e Região Metropolitana

Esse mesmo Portal disponibiliza informações que podem servir para subsidiar análises objetivas da situação sanitária. Dados de morbidade, incapacidade, acesso a serviços, qualidade da atenção, condições de vida e fatores ambientais passaram a ser métricas utilizadas na construção de Indicadores de Saúde, que se traduzem em informação relevante para a quantificação e a avaliação da referida questão sanitária no Brasil. Entre os dados disponíveis ali, estão as taxas de “óbitos por lesões autoprovocadas voluntariamente”, situação que, segundo o Ministério, configura um suicídio. Com uma simples filtragem regional, encontrou-se as informações limitadas à RMBH.

No ano de 2010, o CENSO contabilizou 2.375.151 habitantes na capital mineira. Belo Horizonte é a recordista de suicídios da Região Metropolitana, sendo registradas 172 mortes em 2012 e 137, em 2013. Nos dois anos, a BH é seguida por Contagem, cidade limítrofe, que contabiliza 22 suicídios no ano de 2012 e 23, em 2013. Isso significa que, no primeiro ano analisado, Belo Horizonte apresenta um número absoluto quase oito vezes maior que o de Contagem e em 2013, o valor é quase sete vezes.

 

O que fazer?

Nossos jovens vivem muitas experiências que trazem angústia extrema e relações de sofrimento e tristeza: bullying, violência, desemprego, descrença, na maioria das vezes sofrem agressões na escola, agressões no ambiente familiar e, agressões estas de natureza não só física mas psicológica sujeitando-os à vergonha, à humilhação e ao desenquadramento social.

A automutilação é um processo de autodestruição. Antes do suicídio, o automutilar é o primeiro grito! Os jovens que se automutilam, num primeiro momento não procuram a morte, mas um alívio. O que fazer? As famílias devem defender e proteger seus jovens. Educar seus filhos para a vida. Dar atenção. E, também prestar atenção em cada passo que eles dão. Se um filho passa o dia debaixo das cobertas, conectado a um celular com as luzes apagadas, isso é um sinal de que algo precisa ser feito. Ações simples como perguntar como foi o seu dia, o que está acontecendo, o que está sentido, do que está precisando... Podem salvar uma vida.

Outra saída também é investir numa rotina diária mais saudável. Sabemos que muitos passam por uma carga horária trabalhista bastante pesada. Mas, mesmo diante desse quadro social, é necessário e importante cuidar das relações de amizade, carinho, família, cuidado, saudável... Os meios para essa saída podem ser dos mais criativos possíveis: uma caminhada em família, um programa no shopping, um cinema, uma simples volta no quarteirão com o filho, com a filha, com os pais, pode salvar o dia, quem dirá a vida!

 

 

* Alunos da Graduação do curso de Jornalismo pela PUC-Minas e pesquisadores no campo juvenil na área do esporte, lazer e cultura; e, também na área da religião, pastoral e da literatura.

 

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