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20/12/2021 Sebastião Catequista Edição 3943 Sexualidade e amor conjugal
F/ Pixabay
"Quando falamos de sexualidade e de amor na vida do casal estamos nos referindo não só ao ato sexual em si, mas também daqueles gestos e atitudes que mostram uma sadia vivência da sexualidade e do amor como uma realidade única a saber: o investimento de tempo na relação..."

A sexualidade e o amor são duas realidades tratadas entre nós como distintas uma da outra. Contudo, mesmo distintas, não são duas realidades separadas, mas uma única e só realidade, pois ambas constituem a energia vital e visceral, psíquica, social e espiritual da vida humana. Não há como separar. São forças que agem de forma inerente à condição humana.

Um tema escorregadio

Falar de sexualidade dentro da Igreja é sempre escorregadio. Porque o discurso e a prática são bem diferentes da realidade da vida cotidiana dos fiéis. Todavia, o contrário é bem menos discrepante. Falar do amor e exercitá-lo é de um altruísmo sem igual. Está sempre na “moda”.

Já o mesmo não se pode dizer da sexualidade e do amor na sociedade vigente. Tais temas sempre aparecem como tabu, fechado demais ou aberto demais, incentivando a uma postura lascívia a-moral, consumista, distorcida e vendida, desejada e praticada como um produto. E o amor, de algum modo, está aí implicado.

Enquanto sexualidade e amor, para essa sociedade, são esvaziados de altruísmo e alteridade, banalizado, estimulado e vendido como prazer e satisfação a pré-texto do direito de ser feliz, é comum e faz parte da cultura moderna, estimular os sentidos, inconscientemente, para a pratica banal, sobretudo pelas diversas formas de propagandas. Isso vai desde algum tipo de bebidas passando pela gastronomia, ou outro objeto de consumo até mesmo a pratica do ato sexual pelo simples prazer em si.

Por outro lado, a sexualidade mesmo sendo quase um “tabu” na Igreja, também o é na sociedade (escola, local de trabalho) e mesmo na família, dentro de casa. O mesmo não é e não se dá, por exemplo, nas rodas de conversas entre os amigos/as num círculo menor e nas redes sociais. Esse “tabu desaparece”, sobretudo com as piadas, olhares, brincadeiras e comentários de duplo significado. Já o amor de certo modo é propalado com uma certa tolerância sob forma de cuidado, de afeto, de preocupação com o outro/a, e o engajamento por uma causa. Tanto na Igreja como na Sociedade, conversar sobre amor é algo mais aberto e estimulado, exceto quando é usado como adjetivo para designar de modo velado a sexualidade e o ato sexual.

Sexualidade envolve todo o nosso ser

Sigmund Freud em seus estudos chamou-nos a atenção para a sexualidade enquanto força vital que está na constituição visceral e seminal da vida humana, sentida, carregada e vivida nos nossos corpos, revestida de sentimentos, desejos, prazer e energia, liberada, sobretudo pelo ato sexual e pelos pequenos gestos escamoteados no dia-a-dia. Por sua vez, Carl. G. Jung nos dá outra visão, bem mais aprofunda e aberta, pontuando que a sexualidade é uma energia que, para além do ato sexual, pode ser canalizada para algo mais profundo, altruísta e de alteridade, indo além da corporeidade sem mesmo excluir o próprio corpo, o próprio ser.

Ouvindo esses dois mestres da psicologia / psicanalise humana podemos intuir e aprender que a sexualidade está no nosso cotidiano. Ela é vivida, sobretudo, através de um abraço fraterno, um aperto de mãos, um gesto de afago, de carinho, no ato de presentear alguém, e até mesmo na forma como lhe damos com os nossos pertences, cuidamos do nosso habitat, e das pessoas. Em qualquer um desses gestos e atitudes a sexualidade está presente e revela muito sobre nós. Através dela desvelamos nosso próprio eu, se estamos bem ou neuróticos, se somos amados ou não. E na vida conjugal isso é importante, faz uma diferença muito grande na relação, é o que nos adverte São Paulo na sua primeira Carta aos Coríntios (1Cor 7 ,3-6s). De outro modo, o amor sublima todas esses gestos e atitudes pelo altruísmo e alteridade, ele é transcendente.

E é “transcendente” porque o amor é bem diferente da sexualidade. Ele é por assim dizer a “alma” da sexualidade. É através do amor que ambos os cônjuges se realizam e são plenos em seu desejo, sem se fecharem em si mesmos. Perigo que corre, por exemplo, a vivencia da sexualidade só para fins de desejos outros que não sejam o amor. O amor é mais profundo, preenche e dá sentido à vida. A sexualidade por si  e, em si, não.

O sentido do amor

Por isso que a vida só tem sentido com amor e o amor nunca é solitário, é sempre acompanhado. E essa é uma verdade bíblica central da fé cristã. O amor não existe para si mesmo, mas para o outro. É no outro que ele se encontra e descobre-se também amado. Daí concluir que o amor é relação. E por ser relação, desvela uma outra verdade bíblica cristã: o mistério trinitário do Deus de Jesus. Deus é Amor (cf. 1Jo 4,8) e Sua Natureza mais intima é relação amorosa entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Relação que os une, conserva a identidade própria de cada umas pessoas divinas e não as subtrai.

Quando falamos de sexualidade e de amor na vida do casal estamos nos referindo não só ao ato sexual em si, mas também daqueles gestos e atitudes que mostram uma sadia vivência da sexualidade e do amor como uma realidade única a saber: o investimento de tempo na relação; gestos e atitudes de afeto e carinho nas pequenas coisas, porque são as pequenas coisas que fazem a diferença: vivência de momentos propícios de prazer e alteridade pelo lazer e entrega a uma causa; surpreender com um bilhete; um telefone; um recadinho nos smartphones; um afago; um presente; um cinema; um passeio, etc, todas essas formas são expressões de amor conjugal e de uma correta vivencia da sexualidade e do amor. Desse modo o casal estará saciado nos seus desejos e fantasias, liberando no seu corpo aquela energia benfazeja expressada pelo sorriso nas faces, pela delicadeza, pela alegria cantarolante, pelo dinamismo das ideias, pela satisfação, e pela certeza de que ama e é amado/a.

A sexualidade e o amor conjugal, assim alimentados, não só realiza plenamente a ambos os parceiros, como irradia para seus filhos, amigos, parentes, aquela presença da felicidade, aquela presença de Deus mesmo (já que Ele é amor) mostrando com isso, a santidade. E isso, é com certeza, um golpe na sociedade vigente, porque lhe mostra a face da verdadeira sexualidade e do verdadeiro amor, sem comercialização ou banalização, e se torna, de certo modo, para a cultura capitalista um testemunho profético da sexualidade e do amor verdadeiro.

Sexualidade e amor

De fato, a sexualidade e o amor sentidos, pensados e vistos, assim, se tornam perigosos para a sociedade hodierna e será combatido por ela, naquilo que há de mais frágil no amor: as relações interpessoais; e o instrumento para isso será a lascívia disfarçada de amor nas mais variadas formas. Porque, é isso que vemos todos os dias em cada rua, em cada esquina, em cada outdoor, na maioria das propagandas de jornais e TVs.

Por isso, cabe aos casais cristãos acercarem-se daquelas atitudes que reverenciam e mostram afeto, amizade, altruísmo, alteridade, zelando pelas relações sadias, não dando ouvidos aos pregões comerciais do amor, mas antes, denunciando, com suas vidas, o falso que está presente nesse amor banalizado e que deteriora as relações conjugais e humanas.

 Fonte ABC da Palavra

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